Quando o Kaszek anunciou que teria um SPAC, no começo de setembro, muitos do investidores se perguntaram qual seria a intenção da gestora de venture capital que acabou de captar US$ 1 bilhão em dois novos fundos?
Agora, com a captação de US$ 287 milhões concluída na Nasdaq, Hernan Kazah, sócio do Kaszek e co-CEO do MELI Kaszek Pioneer Corp, ou simplesmente Meka, explica ao NeoFeed os planos com a “empresa de cheque em branco” em conjunto com o Mercado Livre.
“Do lado da Kaszek, o nosso mandato é mais de companhia privada. Com o SPAC, estamos indo para o mercado público”, diz Kazah. “Poderíamos ter levantado um novo fundo para companhias públicas, mas não era a ideia.”
A captação, de acordo com Kazah, superou a oferta em muitas vezes e os investidores que participaram são, em sua maioria, de fundos long only, o que indica que estão dispostos a ficar no investimento em longo prazo. Os nomes, no entanto, não são revelados.
A partir de agora, Kazah começa sua busca por um ativo com o qual vai se unir para se tornar pública na Nasdaq. Essa é uma procura que pode durar dois anos, mas que ele acredita que se encerrará antes. O alvo são empresas que, de alguma forma, complementem ou agreguem ao ecossistema do Mercado Livre, que tem duas verticais bem claras: marketplace e serviços financeiros.
“Tem muita inovação acontecendo na área de publicidade digital e finanças é um mundo em si: tem crédito, investimentos, seguros e pagamentos”, afirma Pedro Arnt, CFO do Mercado Livre e co-CEO do Meka, dando pistas sobre os ativos que interessam. “Mesmo na parte de marketplace tem verticais inteiras que hoje o Mercado Livre não tem uma atuação necessariamente muito focada.”
As startups do portfólio do Kaszek serão analisadas pelo Meka? “Vamos olhar todas as boas companhias da região. Achamos que várias delas estão no nosso portfólio. Mas também vamos olhar companhias de fora do nosso portfólio”, diz Kazah.
Meka, que é a junção de Meli (símbolo do Mercado Livre na Nasdaq) com Kaszek, tem também outro significado para Kazah. “Pode ser também a Meca dos empreendedores. Tomara que eles achem isso da plataforma”, diz. Confira a entrevista:
A captação do SPAC foi concluída. Quais os números?
A nossa ideia era levantar US$ 250 milhões para o nosso SPAC Meka. Os bancos têm sempre o greenshoe, que dá para eles captarem 15% do total obtido. Como foi bem-sucedida a demanda, acabou fechando o greenshoe. O total de capital que entrou foi US$ 287 milhões.
A Kaszek e o Mercado Livre não vão entrar com mais recursos além do que foi captado?
São duas etapas. A primeira é o IPO (do Meka). Agora, precisamos procurar uma companhia para se unir e que aproveite a nossa plataforma para ser pública na Nasdaq. E, quando isso acontecer, vamos colocar mais capital. É o que chamamos de pipe. Nesse pipe, vamos comprometer pelo menos US$ 50 milhões.
E vocês podem trazer mais investidores para o deal?
Sim, sem dúvida. E a maioria dos investidores quer colocar mais capital. Hoje, eles investiram sem conhecer a companhia parceira. Na segunda etapa (quando a empresa para abrir o capital for escolhida), eles terão visibilidade perfeita da companhia (que vamos investir). Hoje, quem coloca capital acredita na qualidade dos sponsors, que são o Mercado Livre e a Kaszek.
Que investidores entraram nessa captação?
Essa informação não é pública. Mas são investidores com foco de longo prazo. Acabamos pegando fundos long only.
Por que a Kaszek, que acabou de captar US$ 1 bilhão em dois fundos, resolveu criar um SPAC?
Do lado da Kaszek, o nosso mandato é mais de companhia privada. Com o SPAC, estamos indo para o mercado público. Poderíamos ter levantado um novo fundo para companhias públicas, mas não era a ideia. O que nós fazemos, o tempo todo, é ajudar as companhias a chegar no próximo passo. E um SPAC é justamente isso. Você ajuda as companhias na transição de privadas para públicas.
E o Mercado Livre?
Do lado do Mercado Livre, eles têm um ecossistema que está crescendo de maneira muito significativa. Algumas coisas vão ser desenvolvidas in-house, mas há outras que precisam de parceiros. O Mercado Livre está vendo o SPAC como uma maneira de trazer parceiros para sua plataforma em vez de ter só um acordo comercial. Eles poderiam ter feito isso dentro do balance sheet da companhia. Mas hoje a empresa tem vários projetos muito chaves no core. A estrutura de trazer capital de fora é ótima.
Mas por que fazer isso agora?
A evolução que tem tido o ecossistema tecnológico nos últimos cinco anos foi incrível. E, principalmente nos últimos dois anos, a digitalização ficou muito acelerada com a pandemia. Acredito que a chance de ter feito o Meka cinco anos atrás era muito baixa. Mas hoje, dado o número de companhias já prontas para se tornarem públicas, faz muito sentido.
O portfólio de empresas investidas pelo Kaszek vai ser analisado pelo Meka?
Vamos olhar todas as boas companhias da região. Achamos que várias delas estão no nosso portfólio. Mas também vamos olhar companhias de fora do nosso portfólio. O objetivo é procurar as companhias que tenham algum tipo de conexão com o Mercado Livre e que ele consiga alavancar esse negócio.
"Vamos olhar todas as boas companhias da região. Achamos que várias delas estão no nosso portfólio. Mas também vamos olhar companhias de fora do nosso portfólio"
Qual o perfil de empresa que você está buscando?
Estamos procurando companhias tecnológicas. Mas o Mercado Livre é tão horizontal que pode ser fintechs, e-commerces, empresas de logística ou alguma companhia mais B2B, que acabe sendo um cliente relevante do Mercado Livre.
Em quanto tempo, você acredita que pode anunciar a empresa-alvo?
Temos um total de até dois anos para fazer isso. Mas, dada as nossas conexões com o mundo empreendedor e a relevância do Mercado Livre, acreditamos que vamos fazer isso antes. Mas, até agora, todo o exercício foi teórico. Vamos, a partir da próxima semana, começar a falar com os empreendedores.
O Kaszek tem várias companhias no seu portfólio que devem acessar a bolsa em breve. Ainda assim precisava de um SPAC?
A nossa expectativa é de que várias companhias do nosso portfólio acabem indo para o mercado público. São companhias como Nubank, Creditas, MadeiraMadeira, QuintoAndar, etc. Mas, no fim do dia, a decisão é dos empreendedores. Somos mais um acionista que estamos lá. E quando os empreendedores acham que é o momento correto, eles acabam fazendo. Mas não é uma condição que controlamos.
Tem vários fundos de growth que estão investindo em companhias abertas. O Softbank é um dos exemplos. A Kaszek tem planos de fazer isso?
Nosso principal foco era, é e continuará sendo early stage. Gostamos de procurar empreendedores nos primeiros dias de seus projetos e ajudar eles na decolagem, na formação da equipe, na criação da cultura e no desenvolvimento da plataforma inicial. Depois, acompanhamos os empreendedores ao longo do tempo e colocando mais capital. Hoje, temos dois fundos late stage para seguir investindo nas melhores companhias desses nossos fundos early stage. Agora, com a iniciativa do Meka, achamos que é uma continuidade muito natural nesse caminho.
Meka é a junção de Meli (símbolo do Mercado Livre na Nasdaq) com Kaszek?
Pode ser também a Meca dos empreendedores. Tomara que eles achem isso da plataforma.