O Ant Group, maior fintech do mundo e controlada pelo Alibaba, grupo fundado pelo bilionário chinês Jack Ma, tem reforçado os sinais de que está disposto a andar na linha com o governo da China - que cada vez mais tem apertado o cerco contra as gigantes de tecnologia do país.
No seu mais recente movimento para manter a paz com os reguladores, a companhia começou a repaginar a forma como oferece crédito aos seus consumidores, para deixar mais claro aos clientes de onde vem o dinheiro que está sendo emprestado - se da própria Ant ou de outras instituições financeiras.
A razão da mudança é simples. Quando o Ant Group estava pronto para fazer o seu IPO, no ano passado, e teve a oferta de ações cancelada pelo governo chinês, faltando apenas dois dias, o produto de crédito foi um dos pontos em que os reguladores mais “pegaram no pé” da empresa.
Por meio do Alipay, o aplicativo de pagamentos e outros serviços do grupo, o Ant Group disponibiliza ofertas de crédito de várias instituições do sistema financeiro. O crédito oferecido pelo próprio Ant representa 2% do total, de cerca de US$ 271 bilhões, segundo dados de junho de 2020, os últimos disponíveis. O restante é composto por bancos, sociedades fiduciárias e títulos lastreados.
Lançado em 2004 por Jack Ma, o Alipay é a origem do Ant Group, criado oficialmente em 2014 e hoje uma das maiores fintechs do mundo, com o Alibaba sendo dono de uma fatia de 33%.
A expectativa para a abertura de capital da companhia, que ocorreria em novembro do ano passado, era levantar US$ 34,5 bilhões, no que seria o maior IPO da história, em uma dupla listagem nas bolsas de Xangai e Hong Kong. Antes, a empresa já havia captado US$ 22 bilhões em quatro rodadas, junto a investidores como Sequoia, Credit Suisse e Carlyle Group.
Para ficar em linha com a regulação do Banco Popular da China, o banco central chinês, o Ant Group criou uma nova empresa, em sociedade com outras companhias, para concentrar nela o negócio de crédito ao consumidor.
Sediada na cidade de Chongqing, na China, a nova companhia se chama Chongqing Ant Consumer Finance Co. e tem o Ant Group como principal acionista, com 50% de participação.
Os demais “donos” incluem duas instituições financeiras estatais, a Nanyang Commercial Bank, uma subsidiária da estatal China Cinda Asset Management Co., que tem 15,01%, e a China Huarong Asset Management Co., uma das maiores administradoras de ativos estressados do país, com 4,99%.
Com a nova empresa, o Ant Group acaba com uma prática que lhe permitiu evitar o risco de crédito. No modelo anterior, os dados de consumidor e modelos de risco proprietários do Ant eram usados pelos bancos, que forneciam o financiamento para empréstimos e assumiam o risco de perdas. Com a mudança, a nova empresa financiará e assumirá o risco dos empréstimos que realizar.
O Ant Group tem dois produtos de crédito, o Huabei e o Jiebei, que chegaram a ser usados por cerca de meio milhão de pessoas na China e, em junho do ano passado, corresponderam a quase um quinto da dívida do consumidor de curto prazo em aberto no país. Desde o início deste mês, a fintech começou a diferenciar os dois produtos com base na fonte de financiamento, conforme exigido pelos reguladores.
Os empréstimos financiados total ou parcialmente pelo Ant Group seguem usando as marcas Huabei e Jiebei. Os produtos financiados por outras instituições financeiras são chamados de Xinyonggou.
Em comunicado, o Ant disse aos usuários que “a diferenciação das marcas ocorre para abranger mais usuários” e recomendou a eles que priorizem a marca Xinyonggou, que tem uma linha de crédito maior.
Os esforços do Ant Group ocorrem depois de um período de atrito com as autoridades chinesas. Depois do IPO que não aconteceu, a fintech foi multada, em abril, em US$ 2,8 bilhões, pela agência antitruste do país, que viu abuso econômico do Ant Group, em sua condição de líder do mercado.
Além disso, o próprio Jack Ma já havia irritado o governo chinês ao dizer que o "sistema regulatório chinês estava sufocando a inovação e deveria ser reformado para fomentar o crescimento".