A Petrobras divulgou na noite de quarta-feira, 30 de novembro, seu plano estratégico para o quinquênio de 2023 a 2027, em que prevê investir um total de US$ 78 bilhões, montante 15% maior ao previsto no plano anterior, que compreendia o período de 2022 a 2026.
Mais do que as decisões tomadas pela diretoria para o período, a grande questão entre investidores e analistas é se esse plano de fato será colocado em prática. Isso porque, a partir de 2023, o governo federal, maior acionista da Petrobras, com 50,2% das ações ordinárias, será conduzido por Luiz Inácio Lula da Silva. E representantes do governo eleito já deram declarações de que pretendem alterar algumas diretrizes na companhia.
Em postagem no Twitter nesta quinta-feira, 1º de dezembro, o coordenador-geral da Frente Única dos Petroleiros (FUP) e integrante da equipe de transição, Deyvid Bacelar, afirmou que o planejamento da Petrobras para o quinquênio “deve ser realizado a partir das orientações e prioridades estratégicas dos representantes do novo governo”.
Apresentado ontem e detalhado por representantes da diretoria executiva da Petrobras em evento com investidores nessa quinta-feira, o novo plano prevê a manutenção das diretrizes que nortearam a companhia nos últimos anos, com a palavra de ordem sendo “continuidade”, segundo Rodrigo Araujo, diretor executivo financeiro e de RI da empresa.
“O plano é mais um flash de um filme que tem sido a grande fortaleza da Petrobras, de virada corporativa e a entrega dos compromissos assumidos ao longo dos últimos anos”, afirmou. “Ele reflete nosso compromisso de seremos bastante responsáveis com investimentos, tendo a geração de valor e a distribuição de valores gerados pelas operações como pilares importantes.”
O governo eleito já mostrou, porém, que pretende alterar alguns pontos do plano. Um deles trata da questão do refino. Em outubro, durante a campanha eleitoral, Lula afirmou que pretende construir novas refinarias para que o País seja autossuficiente nessa frente.
A Petrobras projeta investir US$ 9,2 bilhões na área de refino e gás natural nos próximos cinco anos, com cerca de 50% dos recursos aplicados na expansão e aumento da qualidade e eficiência do refino. O plano não prevê, no entanto, a construção de novas refinarias, e sim, investir na melhoria operacional das unidades existentes.
“A ampliação e a adequação das unidades de refinarias existentes é o que observamos os grandes refinadores globais perseguindo”, afirmou Rodrigo Costa, diretor executivo de refino e gás natural da Petrobras. “Projetos greenfield, no momento, não se mostram com resiliência econômica.”
A questão da política de preços - tema que também foi polêmico na gestão do presidente Jair Bolsonaro - é outro ponto que o novo governo pretende revisar. Lula e aliados já disseram que pretendem acabar com o modelo de Preço de Paridade Internacional (PPI), alegando que o valor dos combustíveis não pode ficar suscetível ao câmbio, e sim, considerar os custos em reais da empresa.
Já no plano estratégico, a Petrobras informa que uma das premissas para financiar os investimentos é ter “preços competitivos, alinhados ao mercado internacional”. “A política de preços é o pilar do plano estratégico para a entrega de valor aos acionistas”, afirmou Araujo.
A questão dos retornos dos acionistas também deve passar pelo escrutínio do próximo governo, que já deu declarações de que pretende reduzir o repasse de dividendos para financiar os investimentos que planeja realizar.
Em seu plano, a Petrobras afirma que os dividendos obedecerão à política vigente, que permitiu à empresa declarar R$ 13,80 por ação ordinária e preferencial em remuneração ao acionista em 2022.
As mudanças apontadas pelo novo governo na condução da Petrobras vêm causando preocupação entre os analistas, que preferem a manutenção da estratégia atual.
Nos últimos anos, a administração da Petrobras, sob a batuta de diversos CEOs, foi vendendo ativos considerados não estratégicos e concentrando sua atuação na exploração de petróleo nos campos do pré-sal, buscando dar maior eficiência em termos de alocação de capital e reduzir o endividamento.
A Petrobras chegou a ter a maior dívida corporativa do mundo. Em 2015, o indicador mostrava US$ 160 bilhões. Já no terceiro trimestre deste ano, a dívida líquida alcançou US$ 47,5 bilhões, e a relação da dívida líquida com o Ebitda ajustado ficou em 0,75 vezes, abaixo do índice de 1,17 vezes apurado no terceiro trimestre de 2021.
“Apesar de a Petrobras ter dado uma aula sobre reestruturação corporativa nos últimos anos, estamos menos confiantes a respeito do futuro”, dizem, em relatório, os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do Credit Suisse. “Estamos particularmente preocupados com a alocação de capital, mas dúvidas a respeito da continuidade da política de preços e da política de dividendos adicionam incertezas.”
Sobre a possibilidade de o plano estratégico sofrer alterações a partir de 2023, Salvador Dahan, diretor executivo de governança e conformidade da Petrobras, afirmou que é prerrogativa da União propor alterações, por ser o acionista majoritário. Entretanto, ele observou que a companhia tem uma série de instâncias para analisar essas propostas.
“O controlador pode, deve e tem autoridade para imprimir as estratégias que entender razoável, mas lembrando os marcos que regem a companhia, não só em termos de governança, como também as leis do Brasil ou do exterior”, afirmou.
Por volta das 13h28, as ações preferenciais da Petrobras recuavam 2,55%, a R$ 25,98. No ano, elas acumulam alta de 36,2%, levando o valor de mercado a R$ 369,1 bilhões.