Conhecida por seus potes plásticos para armazenar alimentos, que se tornaram sinônimos de uma categoria, a americana Tupperware não guarda boas lembranças do primeiro trimestre de 2020. Em meados de março, suas ações eram negociadas a US$ 1,15 e acumulavam uma queda de 86% no ano.

Sete meses depois, a situação é bem diferente. Nesse intervalo, em plena pandemia, a empresa voltou a despertar o apetite do mercado de capitais. Cotados a US$ 31,72, seus papéis registram uma valorização de mais de 2.600%.

Embora ainda distante do ápice vivido em 2013, quando seus papéis chegaram a bater US$ 91, a Tupperware comemora a recuperação surpreendente, que levou a companhia a um valor de mercado de US$ 1,5 bilhão.

A virada em Wall Street foi coroada com o resultado da companhia no terceiro trimestre deste ano. No período, o lucro líquido da empresa cresceu 341% na comparação anual, para US$ 34,4 milhões. A receita líquida foi de US$ 477,2 milhões, alta de 14,1%.

As vendas na América do Sul figuram entre os principais ingredientes dessa receita bem-sucedida, que levou a companhia a movimentar US$69,6 milhões no período.

“Só no Brasil, vimos nossas vendas aumentarem 35%. O país está entre os nossos quatro principais mercados”, diz Miguel Fernandez, CEO global da Tupperware, ao NeoFeed.

O executivo chegou à empresa com a pandemia, em março deste ano. A princípio, tinha como missão enxugar os gastos e "pivotar" as estratégias da companhia, como tinha feito anteriormente na Avon, comprada pela Natura, e na Herbalife. Mas a crise que condenou restaurantes “salvou” a Tupperware.

Com as pessoas isoladas em suas casas, cozinhar voltou a fazer parte da rotina familiar. Nesse contexto, o aumento da culinária doméstica engordou os resultados da companhia, sediada em Orlando, na Flórida.

“Nossa estratégia foi focar na performance financeira”, afirma Fernandez. “E acredito que os resultados dessa abordagem evidenciem que estamos no caminho certo”, afirma o executivo, ressaltando que a ordem agora é investir na força de vendas e na experiência dos consumidores.

Miguel Fernandez, CEO global da Tupperware

Outra aposta é reforçar a presença digital. No fim da década de 1990, a companhia chegou a limitar a venda de seus produtos na internet. Mas atualmente acena para uma parceria com a Amazon e encoraja seus revendedores a utilizarem diferentes canais online para promoverem os produtos.

Isso não significa que a empresa vai abandonar sua receita tradicional. Em um modelo semelhante ao da Avon, a Tupperware conta com um exército de consultores e revendedores independentes. E, em alguns países, mantém desde a sua fundação, em 1946, as famosas “Festas de Tupperware”.

Trata-se de uma estratégia que permite que qualquer pessoa seja um anfitrião e receba os amigos para uma festa em que os produtos Tupperware são usados e demonstrados por um consultor.

Atualmente, os interessados têm a alternativa de solicitar uma festa no próprio site da empresa. Os anfitriões podem ganhar itens da marca grátis e outros mimos, dependendo do volume total de venda.

A Tupperware não é o único negócio a se beneficiar na pandemia. Empresas como Netflix, Amazon, Peloton e até DraftKings viram seu valor disparar em plena crise. Mas enquanto todos esses nomes têm forte apelo digital, a companhia segue insistindo na “tecnologia” de sempre, mas com melhor design, materiais e cores.

Além dos famosos potes para conserva, a Tupperware aposta em brinquedos para crianças e utensílios de cozinha. E investe em inovação para se manter no topo. A companhia tem mais de 10 mil patentes de design aprovadas.

O bom momento também traz, no entanto, desafios. E o Brasil, novamente, é um dos exemplos desse cenário. “Com a escalada nas nossas vendas no País, começamos a experimentar dificuldades na nossa cadeia de produção, e isso inclui a falta de disponibilidade dos itens desejados”, conta Fernandez.

No site americano da companhia, uma nota avisa que as encomendas podem demorar até 8 semanas para serem enviadas. “Estamos focados em resolver essa questão nos próximos meses”, respondeu o executivo, sem detalhar a solução.

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