Não é porque o empresário Reed Hastings ganha muito dinheiro com as pessoas em casa que ele vê com bons olhos o trabalho remoto. Se dependesse do fundador da Netflix, aliás, sua equipe voltaria ao escritório "doze horas após a aprovação da vacina".

A brincadeira feita pelo empresário em entrevista ao jornal The Wall Street Journal faz parte de uma série de conversas que Hastings tem feito para promover seu livro, "No Rules Rules: Netflix and the Culture of Reinvention", ainda sem tradução para o português.

Escrita para ajudar novas empresas e pequenos empreendedores a serem mais criativos, a obra explora as ideias nada convencionais do homem por trás do maior serviço de streaming de vídeo do mundo – e que ficou ainda maior com a pandemia.

Desde março deste ano, quando o novo coronavírus suspendeu as atividades econômicas não-essenciais nos Estados Unidos, as ações da Netflix subiram 39,4% e hoje a empresa vale US$ 231 bilhões.

Para se ter uma ideia do "empurrão" que a pandemia deu ao negócio de Hastings, o resultado referente ao segundo trimestre de 2020 mostrou que 10 milhões de novos assinantes chegaram à plataforma e levaram a receita da empresa para US$ 6,15 bilhões, 25% mais que o mesmo período do ano passado. 

Mas, aos olhos do empresário, nem tudo é lucro. "Debater ideias está mais difícil agora", lamentou Hastings, na entrevista ao WSJ. "Não poder se reunir pessoalmente, sobretudo com equipes internacionais, é puramente negativo. Estou super impressionado com os sacrifícios que as pessoas estão fazendo."

Talvez por isso o americano de 59 anos tenha pressa em retomar suas atividades presenciais – e sabe que 12 horas não é um prazo real. "Provavelmente seis meses depois de termos a vacina aprovada. Assim que tivermos a maioria da população vacinada, então é hora de voltar ao escritório", afirmou Hastings. 

E para a Netflix não existe essa história de "novo normal", já que as regras vão continuar as mesmas de sempre: nada convencionais. Diferente de outras empresas, a companhia de streaming encoraja que sua equipe assuma grandes riscos sem o consentimento da liderança, contanto que pratiquem a comunicação direta e honesta de sempre.

"Queremos que as pessoas sejam construtivas, não que ajam como tolos bêbados, dizendo verdades horríveis. É para se engajar com intenção positiva. Como quando fazemos flexão de braço ou corremos – dói, mas você sabe que está ficando mais forte", disse Hastings.

A liderança de Hastings, aliás, é bastante explicada por metáforas esportivas. Sobre os super-salários que a empresa oferece, por exemplo, ele diz que "quando você olha para times vencedores, eles são geralmente o que pagam mais aos jogadores. Nós queremos ter os melhores em campo e a compensação é parte disso. Preferimos ter três pessoas fantásticas do que quatro 'okay'". 

Essa estratégia se comprova no dia-a-dia da Netflix pelo que ficou conhecido como "o teste do fico". Nele, os líderes são convidados a pensar se lutariam pela permanência de um funcionário, caso o profissional em questão tenha recebido a oferta de outra empresa. Se a resposta for "não", então a pessoa é desligada da companhia. 

Essa mentalidade já gerou algumas críticas a Hastings e à Netflix, que dizem promover um desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional de sua equipe. Questionado sobre isso, o empresário mais uma vez vai a campo para defender sua estratégia de ataque.

"Pense como um treinador: ele não se importa com quantas horas você passa na academia, mas com o quão bem você joga. Agora, se você vai jogar com a elite, provavelmente passará muito tempo na academia".

Isso não significa, contudo, que Hastings seja favorável às jornadas intermináveis. Inclusive, ele afirma apostar que a semana no escritório deve diminuir, passando de cinco dias, para quatro – e um dia da semana seria dedicado ao trabalho remoto. 

Já sobre o futuro de sua empresa, ele prefere não arriscar uma previsão, porque acha que é impossível antever onde a Netflix vai estar em cinco anos. A única coisa que sabe, porém, é que sua teoria de que um "CEO que está muito ocupado não está fazendo o seu trabalho" segue atemporal.

"Você não quer ser, como CEO, consumido pelas táticas. Na minha opinião, decidir sobre o elenco de um projeto ou sobre os detalhes de outro é coisa demais. Você fica muito ocupado e, mesmo que seja bom nisso, acaba não pensando na saúde e na evolução do negócio em longo prazo. Você quer realmente saber o que está acontecendo em todas as áreas, tomando decisões".

Isso explica, pelo menos em partes, porque Hastings optou por adotar o pouco comum modelo de co-CEO, dividindo a execução da Netflix com Ted Sarandos, com quem trabalha há mais de 20 anos. 

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