Haverá um redesenho em massa no modelo de negócios de diferentes fintechs em 2023. A previsão é da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e leva em conta a última resolução do Banco Central. Na medida, o BC instituiu um limite máximo na Tarifa de Intercâmbio dos Cartões (TIC), o que impacta diretamente na receita obtida por startups que operam nesse mercado.
A nova regra foi publicada na última segunda-feira e entra em vigor somente em abril do ano que vem. Ela permite que os cartões emitidos por fintechs operem com alíquotas máximas de 0,7% – abaixo da média do setor, que gira em torno de 1,2%. A criação de um teto tarifário deve causar um impacto de R$ 24 bilhões ao setor, segundo a Zetta, outra entidade ligada às fintechs.
O objetivo da nova resolução é harmonizar os meios de pagamento entre débito e crédito pré-pago. A intenção era igualar as tarifas, o que significaria limitar a alíquota para 0,5% (o mesmo limite dos bancos) em vez do percentual de 0,7%. Nesse caso, o impacto financeiro às startups poderia ser ainda maior.
“O BC estava tentando colocar o crédito pré-pago em igualdade. A nossa briga foi para aumentar, não igualar”, diz Diego Perez, presidente da ABFIntechs, ao NeoFeed. "O crédito pré-pago ainda tem mais espaço para crescer que o débito, que já está mais consolidado nos meios de pagamento. O BC aceitou isso.”
Por isso, para a associação, o resultado, ainda que impactante, não é considerado tão ruim. “Não tinha como manter a taxa aberta. O BC iria mexer nisso”, afirma Perez. “Infelizmente, algumas coisas não saem do jeito que nós gostaríamos.”
Em nota, o BC afirmou que a “a redução da TIC, aliada à grande concorrência no mercado de pagamentos, tem o potencial de diminuir custos para o comerciante na aceitação de cartões, dando-lhe condições de repassar essa economia para o preço final de seus produtos”.
Para Perez, o impacto deve ser mais sentido em startups monoprodutos e que dependem diretamente da TIC. Nesses casos, a previsão é de que essas companhias lancem novas soluções buscando diversificar a linha de receita. Ele cita como exemplos empresas que trabalham exclusivamente com crédito pré-pago e com benefícios corporativos.
Uma das startups que se encaixam nessa tese é a NG.CASH, fintech que tem 900 mil usuários em sua solução financeira que contempla uma carteira digital e um cartão pré-pago.
No mês passado, a startup carioca anunciou a captação de um seed de US$ 10 milhões que deve ser utilizado, entre outros fins, para turbinar a operação com produtos que vão desde poupança até aplicações em CDI e CDB.
“É uma agenda que afeta o interchange e o tempo de liquidação. Isso impacta diretamente o indicador de receita”, diz Petrus Ballhausen, cofundador da NG.CASH. Questionado sobre o impacto da mudança na operação da fintech, ele se limitou a dizer que o modelo de startup não é construído somente em cima do interchange e que a operação deve ganhar novos serviços em breve.
A resolução do BC também pode impactar no surgimento de novas fintechs com negócios baseados em crédito. Até o começo desse ano, existiam 225 fintechs com negócios envolvendo essa modalidade no Brasil. Isso representa um percentual de 17,5% de todo o ecossistema de fintechs, totalizado na época em 1.289 empresas, de acordo com dados do hub de inovação Distrito.