No último dia 23 de fevereiro, Jim Farley, CEO da Ford, garantiu que a empresa não tinha planos de desmembrar sua divisão de carros elétricos do seu negócio tradicional. A declaração era uma resposta a informações veiculadas pela agência Bloomberg, sobre os planos da empresa nessa direção.
Sete dias depois, a montadora americana está seguindo exatamente na contramão dessa afirmação do executivo. Nesta quarta-feira, 2 de março, a companhia anunciou a separação de seus negócios de carros elétricos e de veículos tradicionais, a combustão, em duas unidades “estrategicamente” independentes, posicionando-se como um concorrente direto da Tesla, de Elon Musk.
“Temos uma oportunidade extraordinária de liderar essa nova era de veículos conectados e elétricos, dar aos nossos clientes o melhor da Ford e ajudar a fazer uma verdadeira diferença para a saúde do planeta”, afirmou Bill Ford, presidente-executivo da Ford, em nota.
O anúncio de hoje integra o plano Ford+, apresentado por Jim Farley em maio de 2021. De olho no potencial de destravar valor das operações, especialmente em carros elétricos, a nova estrutura da montadora incluirá a Ford Model e, voltada a esse segmento, e a Ford Blue, centrada nas linhas tradicionais da empresa.
Nessa composição, Farley será o presidente da Ford Model e, além de seguir como CEO do grupo. A Ford Blue, por sua vez, será comandada por Kumar Galhotra que, até então, atuava como presidente da Ford para as Américas e mercados internacionais.
“Estamos indo com tudo, criando negócios separados, mas complementares, que nos dão velocidade de arranque e inovação, na Ford Model e, juntamente com o know how industrial, o volume e as marcas icônicas da Ford Blue, algo que as startups só podem sonhar”, afirmou Farley, em comunicado.
De acordo com o executivo, a Ford Model e será o motor de crescimento, inovação e experiências digitais da Ford, ao reunir “os melhores talentos” nas áreas de software, baterias, motores e carros elétricos. Entre eles, o time da montadora na China dedicado exclusivamente a esse segmento.
Outra atribuição no escopo dessa equipe será criar novas experiências e modelos de comercialização, o que inclui segmentos como o e-commerce. A Ford Blue, por sua vez, irá adaptar algumas dessas iniciativas em sua operação.
“A missão da Ford Blue será entregar um negócio mais lucrativo e vibrante”, disse Farley. “Essa equipe estará empenha em oferecer qualidade, atacando o desperdício em todas as pontas do negócio, maximizando o fluxo de caixa e nossa pegada industrial.”
No comunicado, a Ford destacou que as duas unidades estarão conectadas à Ford Pro, plataforma que centraliza as estratégias comerciais da montadora e ofertas em áreas como software, cobrança, financiamento, serviços e suporte.
Além do anúncio da separação das unidades, a Ford reafirmou seu guidance de reportar um Ebitda ajustado entre US$ 11,5 bilhões e US$ 12,5 bilhões em 2022. Caso o patamar mais elevado dessa projeção seja alcançado, a empresa irá adiantar em um ano a meta definida anteriormente.
Com a previsão de investir US$ 5 bilhões em carros elétricos nesse ano, a Ford também projeta produzir mais de 2 milhões de veículos dessa categoria, anualmente, até 2026, o que irá representar cerca de um terço do volume global da montadora no período. Na sequência desse plano, a ideia é chegar a uma participação de 50% no portfólio até 2030.
A Ford encerrou 2021 com uma receita de US$ 136,3 bilhões, alta de 7% sobre 2020. No período, a montadora reportou um lucro líquido de US$ 17,9 bilhões, revertendo o prejuízo de US$ 1,3 bilhão, apurado um ano antes.
As ações da empresa, avaliada em US$ 66,8 bilhões, fecharam o pregão da terça-feira em queda de 4,9%, para US$ 16,70. Antes da abertura do mercado, nesta quarta-feira, os papéis estão sendo negociados com alta de 3,47%, a US$ 17,28.
Na corrida para alcançar a Tesla, a Ford não é a única montadora tradicional tentando avançar em carros elétricos. Fruto da fusão entre a FCA e a PSA, a Stellantis, por exemplo, planeja investir mais de € 30 bilhões até 2025 em tecnologias ligadas à categoria e também em direção autônoma.
A alemã Volkswagen, por sua vez, também está investindo pesado nessa arena, com o plano de destinar € 73 bilhões em mais de 130 veículos até 2030.
A General Motors é mais um exemplo. Em 2021, a empresa ampliou em 75% o volume de aportes previsto em carros elétricos e autônomos, para US$ 35 bilhões. O montante, que será aplicado também até 2025, inclui ainda investimentos na produção de células de bateria.