Fundada pelo americano Chase Coleman e com um histórico de investimentos em gigantes como Facebook e Linkedin, a Tiger Global já chegou a administrar mais de US$ 90 bilhões em ativos. Durante a pandemia, a gestora de venture capital reforçou sua fama e seus retornos ao se beneficiar da valorização das empresas de tecnologia no período. Em contrapartida, neste ano, vem sofrendo com a queda acentuada desse mercado.

Em abril, a gestora chegou a registrar uma queda de 44% no seu principal fundo de hedge. No começo de junho, a Bloomberg informou que a Tiger Global já acumulava uma perda de 52% em 2022. Diante de resultados ruins, a companhia decidiu deixar de lado o apetite de tigre para tomar decisões mais conservadoras e focar em sua recuperação financeira.

Desde fevereiro, equipes da Tiger Global localizadas nos Estados Unidos e na Ásia vêm se reunindo com cada vez mais frequência para formular estratégias de investimento.  De acordo com o Financial Times, uma pessoa familiarizada com os negócios da gestora descreveu a nova abordagem como um posicionamento com “foco em não perder dinheiro”.

Esses planos incluíram uma contenção de danos. Nesse sentido, em fevereiro, a Tiger Global, decidiu reduzir sua exposição a ações de empresas como Zoom, DocuSign, Carvana, DoorDash, Roblox e Robinhood. Todas tiveram um crescimento abrupto durante a pandemia, mas agora, enfrentam uma ressaca dos investidores e acumulam quedas bilionárias em seus respectivos valores de mercado.

Nos meses que se seguiram, outras empresas também entraram no alvo para serem desinvestidas, ao menos em parte, pela Tiger Global. Entre elas, estão nomes como Spotify, Coinbase, Peloton e Warby Parker, varejista americana que atua com um e-commerce de óculos e lentes de contato.

Ao mesmo tempo, a companhia de capital de risco está redesenhando seu portfólio para abraçar apenas empresas que acredita que possam crescer no pós-Covid-19. “À medida que as empresas ajustam suas previsões, estamos focados em saber se os lucros seguirão os preços, e são necessárias revisões em nossos modelos”, diz a carta da gestora a investidores obtida pelo Financial Times.

A aposta nos ganhos no longo prazo está concentrada em companhias de software como Microsoft, Atlassian, ServiceNow, CrowdStrike, JD.com e Sea. No Brasil, ela se traduz no Nubank, operação na qual a Tiger Global detinha quase 5,8% no começo desse ano. A fatia equivale a um montante superior a US$ 1,2 bilhão da empresa, que vale atualmente US$ 21,7 bilhões.

Em outra frente, a Tiger Global mantém posições em empresas como Meta e Alphabet. A expectativa é de que essas gigantes vão se valorizar ao longo dos próximos meses. A aposta é mais arriscada na empresa comandada por Mark Zuckerberg, que já perdeu mais da metade de seu valor de mercado nesse ano. Já a Alphabet acumula queda de 19% desde janeiro.

Fora do mercado americano, a Tiger Global vem olhando as ações chinesas com maior atenção. Duas companhias asiáticas estão entre as principais posições da gestora: o site de empregos Kanzhun, avaliado em US$ 9,1 bilhões; e a montadora de carros elétricos Li Auto, que vale US$ 28,8 bilhões.

Vale lembrar: com ações negociadas na Nasdaq, ambas correm o risco de terem que deixar o mercado de ações americano por conta do atrito entre órgãos reguladores dos Estados Unidos e da China.

Empresas de capital fechado foram deixadas de lado, ao menos momentaneamente, pela Tiger Global. Segundo pessoas familiarizadas com a gestora, já faz mais de um ano que o fundo de hedge da companhia foi utilizado pela última vez para realizar um investimento em uma empresa privada.

Na carteira de private equity, a Tiger Global reduziu sua exposição em empresas que estão próximas de se tornarem públicas, como a fintech Chime e o e-commerce Checkout.com. O temor é de que uma listagem no mercado aberto possa fazer com que a avaliação dessas companhias caia drasticamente.

Em sua carta trimestral aos investidores no início deste mês, a Tiger relatou as mudanças em seu portfólio. “Aproveitamos a oportunidade de usar as lições aprendidas recentemente para melhorar nosso processo de investimento”, informa o documento.

Por ora, a Tiger Global registra que os retornos líquidos anualizados de seu principal fundo caíram de 20%, em setembro do ano passado, para menos de 15% no fim de junho desse ano.