O Iadê - Instituto de Arte e Decoração –, fundado pelo italiano Ítalo Bianchi, em 1959, e que foi uma escola referência para diferentes gerações de artistas visuais e arquitetos brasileiros, reabre suas portas em fevereiro, em São Paulo. O nome se mantém o mesmo, mas a proposta da instituição agora, não é mais o ensino, e sim a conexão entre a indústria e a arte.

“Quis usar a propriedade intelectual do meu avô porque o nome Iadê se tornou um ícone no mundo da arte, mas estamos no século XXI”, disse ao NeoFeed, Adriana Bianchi, formada em Belas Artes e neta do fundador. “Os artistas precisam da indústria para desenvolver novos materiais e diversificar a produção e a indústria tem a ganhar com isso.”

Há vários anos Adriana vinha amadurecendo a ideia de retomar o instituto, mas precisava de um sócio investidor. O projeto recebeu R$ 20 milhões da Orion-E, da holding One Serviços Digitais, empresa de infraestrutura energética limpa e renovável, que funciona como um asset owner.

Um dos destinos desse aporte de capital são as instalações. A sede do novo Iadê está em fase final de obras na rua Haddock Lobo quase esquina com a avenida Paulista, onde ocupará dois andares de um prédio, numa área total de mil metros quadrados.

O investimento se justifica, segundo o presidente da One, José Edivaldo Corrêa, pela capacidade do mercado de arte regular sua própria oferta e demanda, fazendo com que os preços das obras de arte “permaneçam relativamente estáveis mesmo durante períodos financeiros difíceis. Isso sem falar dos aspectos intangíveis, do desenvolvimento cultural que a arte promove.”

Essa direção, que agora conduz o instituto como uma plataforma de interações entre a arte, o design e a tecnologia é muito diferente do passado, quando ali eram realizados cursos, palestras e workshops.

Por lá passaram Wesley Duke Lee, Nelson Leirner, Rafic Farah, Luiz Paulo Baravelli, Leonora de Barros, Tizuka Yamasaki e os arquitetos Ricardo e Ruy Ohtake, entre outros. Após a pressão e a prisão de professores durante a ditadura militar, a instituição fechou as portas em 1987.

Na nova sede vai funcionar a galeria Bartho, que será uma “ferramenta comercial”, promovendo exposições temporárias coletivas e individuais, e onde também estarão à venda peças de artistas e designers produzidas pela instituição.

Nesse meio tempo entre a reforma e a inauguração, o instituto começou a desenvolver ações no mundo da arte e a produzir mobiliário. Para tanto conta com a Harmony, fábrica parceira responsável pelos trabalhos em marcenaria, serralheria, tecidos e couro.

A nova versão da cadeira África, de Rodrigo Almeida, feita em madeira com cordas náuticas: viabilidade industrial

Um dos lançamentos foi o Banco Trianon, projetado por Nadeghda e Paulo Mendes da Rocha, em 2018, inspirado na avenida Paulista e que não teve continuidade. Retomado agora foi feito segundo as instruções originais, em aço carbono e pintura eletrostática, com dez assentos articulados, vai custar R$ 70 mil.

Rodrigo Almeida é outro artista que pertence ao núcleo do Iadê, para quem já produziu algumas peças. Uma delas inaugura uma parceria com a indústria têxtil, usando sobras da malharia Anselmi, de Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Com restos de tricô off-white ele confeccionou de uma obra-objeto, que está à venda por R$ 26 mil.

Almeida também criou uma nova versão da cadeira África, originalmente feita em aço e revestida inteiramente em corda. Uma pesquisa junto à indústria permitiu desenvolver materiais para conferir maior leveza à peça. A nova cadeira África, que sai da fábrica assinada pelo artista, agora é feita em madeira com cordas náuticas. A diferença de preço é substancial: a antiga África custava R$ 40 mil e agora sai por R$ 6,5mil.

“Esse é um exemplo perfeito do que queremos fazer”, diz Adriana. Ao usar menos corda para deixar a cadeira mais leve, explica, é possível transformar uma cadeira de design colecionável numa peça cotidiana “porque o artista não quer vender apenas uma peça. Essa mudança só é possível se a indústria desenvolver materiais específicos com a colaboração dele”.

O Iadê vai trabalhar ainda com encomenda de peças, como no caso das cadeiras desenhadas por Ítalo Bianchi, a Giovenco, de madeira maciça e couro natural, criada em 1954, e a cadeira Iadê, de 59, feita com aço carbono, inox e soleta de couro.

O novo Iadê já tem um núcleo de 22 jovens artistas e uma equipe curatorial encarregada das exposições e das residências que vão começar em breve. Há também parcerias com galerias em Fortaleza, Rio de Janeiro e Paraná.

O que Adriana espera é que daqui a 15 anos alguns desses artistas possam dizer que passaram pelo Iadê. “Não acredito mais em causas individuais, precisamos potencializar forças. Não dá para achar que vou abraçar o planeta sozinha”.