A obra está acelerada no 10º andar do edifício Pátio Victor Malzoni, na Avenida Faria Lima, no coração financeiro de São Paulo. Paredes estão sendo levantadas, o ambiente redesenhado e tudo sendo preparado para a chegada de 228 pessoas que vão se somar a outras 427.
A mudança era mais do que esperada. Os funcionários da gestora Vitreo, hoje baseados na Avenida Joaquim Floriano, agora vão dar expediente no escritório da Empiricus – as duas empresas foram compradas pelo BTG Pactual, no ano passado, em um negócio bilionário.
Mas, além do espaço físico, que segundo Felipe Miranda, CIO e fundador da Empiricus, contemplará um “chinese wall”, há uma mudança ainda mais profunda e que foi revelada com exclusividade ao NeoFeed. “A marca Vitreo vai desaparecer e tudo vai virar Empiricus”, diz Miranda.
A empresa mãe, o Grupo Empiricus, terá sob seu guarda-chuva a casa de análise Empiricus Research e a Vitreo que passará a se chamar Empiricus Investimentos. A decisão foi tomada depois de pesquisas realizadas pela consultoria de marca Provokers.
Nos últimos quatro meses, a consultoria fez um estudo para identificar os pontos fortes e fracos de Empiricus e Vitreo. Daí, veio o resultado que a Empiricus tinha mais força e brand equity. “Tem identidade, ressonância com os clientes e guia comportamento”, diz Miranda.
Mas há também um histórico de polêmicas que arranharam a marca no passado. “Só uma marca não tem arranhão: aquela que não existe”, diz Miranda. “A Vitreo não tem nenhum arranhão, mas não tem a ressonância que a Empiricus tem.”
A alteração de nome, entretanto, não acontecerá da noite para o dia. A empresa precisa da autorização do Banco Central e, depois disso, ainda tem de mudar os sites, apps, registros. “Esperamos que isso aconteça dentro de três meses”, diz Miranda.
Esse movimento, afirma o fundador da Empiricus, também conversa com a visão dos controladores, André Esteves e Roberto Sallouti, do BTG, que aprovaram a unificação de marca. “Agora eles têm uma outra marca forte, de combate, no varejo, além do BTG Digital”, diz Miranda, referindo-se a plataforma de investimentos do BTG Pactual. “A Empiricus dá ao grupo essa musculatura de ser mais assertivo e combativo no varejo preservando o aspiracional do BTG.”
É, de certa forma, um movimento parecido com o trilhado pelo grupo XP Inc., que tem a marca XP como a sua principal e aspiracional, e depois dela vem a Clear e a Rico.
Além da marca, há mudanças estruturais no comando da companhia. O BC aprovou Felipe Miranda e Caio Mesquita como diretores da Vitreo. É, no fim das contas, a concretização de uma ideia que nasceu da cabeça dos sócios da casa de análise. Afinal, a Vitreo foi criada para que os assinantes da Empiricus pudessem executar as ideias de investimentos que eram oferecidas.
Miranda e Caio Mesquita tornam-se co-CEOs do Grupo Empiricus. Na estrutura, Miranda continua como CIO da casa de análise, mas João Piccioni assume como analista-chefe de ações, fundos imobiliários e exterior. “Isso me libera para focar na estratégia das empresas do grupo”, diz Miranda.
Outra mudança é que Beatriz Nantes, braço-direito de Miranda na casa de análise, se tornou COO da Vitreo e futura Empiricus Investimentos. “Existia uma fricção cultural. Aqui na Empiricus, somos por natureza empreendedores. Nossa cultura é de transparência e barriga no balcão. Menos mindset e mais barriga no balcão.”
Os departamentos de jurídico e de RH também foram unificados. A área de atendimento e assessoria está agora sob o comando de Gabi Lopes, que também vem da Empiricus. Roberto Altenhofen, que era o CMO da casa de análise, agora também comanda a área da empresa da Vitreo. E Fernanda Manzano, que estava no TC, acaba de ser contratada para ser a economista chefe do grupo.
A reorganização cria uma empresa com alto potencial de crescimento e muitas sinergias a serem capturadas. A Empiricus tem 445 mil assinantes e um faturamento anual de R$ 240 milhões. A Vitreo, por sua vez, conta com 120 mil clientes e R$ 14 bilhões sob custódia. Nos últimos meses, a empresa tem captado, em média, R$ 300 milhões por mês.
A integração e sinergias com o BTG
Ao mesmo tempo em que busca sinergias com as empresas do Grupo Empiricus, a companhia também aproveita o casamento com o BTG Pactual. “A gente acredita na ditadura do teste. Se o que eles estão fazendo vem dando certo com BTG Digital, advisors, com Necton e etc., tudo isso é passado para cá e vice-versa”, diz Miranda. “Colher o conhecimento deles é muito importante.”
Das trocas entre empresas, surgiu a ideia de casar o digital com o analógico. A Empiricus, uma nativa digital, está criando uma área de consultores. “O grande vetor de crescimento da empresa de investimentos é a adição de um exército de seres-humanos acoplados a nossa parte digital”, diz Miranda.
Até pouco tempo atrás, os 120 mil clientes da Vitreo tinham uma relação 100% digital com a empresa. Agora, a gestora conta com 15 consultores financeiros e a meta é chegar a 70 pessoas internas para atender, primeiro, os clientes com tíquetes maiores, superiores a R$ 300 mil. Depois, a ideia é descer para a base.
Outra sinergia apontada por Miranda é o fato de que a Vitreo distribui seus fundos na plataforma de investimentos do BTG Pactual. São fundos temáticos como cripto, cannabis, entre outros. “Isso nos ajuda em captação e ajuda o BTG em fundos temáticos que não rodariam com tanta agilidade na asset do banco, que é mais institucional.”
Por último, Miranda diz que há também um ótimo casamento com a revista Exame, que pertence aos controladores do BTG. “Sou colunista e temos feito branded contents lá”, diz ele. “Já temos o Seu Dinheiro e o Money Times, a Exame agora começa a fazer parte dessa construção institucional longa que temos feito, tijolinho a tijolinho.”