Os mercados europeu e americano estão vivendo uma montanha russa nesta quinta-feira, 16 de março.

As bolsas europeias abriram com a boa notícia do resgate ao Credit Suisse, confirmado pelo Banco Nacional da Suíça, seguida do impacto do anúncio de um aumento de 0,5% na taxa de juros na zona do euro, decretado horas depois pelo Banco Central Europeu.

As duas notícias acabaram interferindo nas bolsas dos EUA, que abriram em baixa, ainda às voltas com os problemas de liquidez de bancos locais.

A decisão do BCE reforçou o mau humor em Wall Street, pois foi vista como sinal de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, deverá ignorar as pressões e anunciar um aumento de juros na semana que vem.

O sobe-desce dos mercados mostra que os temas, sem ligação direta entre si, estão interligados num contexto que junta inflação, juros altos e instabilidade financeira dos dois lados do Atlântico.

Do lado europeu, as ações do Credit Suisse dispararam mais de 30% na abertura do mercado, depois que o banco confirmou que tomará emprestado até 50 bilhões de francos suíços (US$ 54 bilhões) do Banco Nacional, o BC local.

O anúncio do Credit Suisse de que também irá recomprar cerca de 3 bilhões de francos suíços de sua dívida, em uma tentativa de aumentar a liquidez, ajudou no rali logo na abertura. As ações tiveram depois pequeno recuo, mas mantendo alta de 17,3% à tarde.

O índice Stoxx Europe 600 Banks, que acompanha 42 grandes bancos da União Europeia e do Reino Unido, subiu 1% nas negociações da manhã, enquanto a Bolsa de Londres subiu 1%.

As altas reforçaram o alívio com o resgate do Credit Suisse, que há meses vive uma crise de liquidez por má gestão e saques por parte de fundos de investimentos.

Na quarta-feira, 15 de março, as ações do banco suíço haviam caído 30%, depois que o presidente do Saudi National Bank, um dos principais acionistas do Credit Suisse, com 10% de participação, descartou qualquer investimento adicional.

Mesmo com a recuperação, ao longo da semana o preço das ações do banco suíço acumula queda de 12%.

Aumento de juros

A decisão do BCE de aumentar em meio ponto percentual a taxa de juros, para 3,5%, anunciada no meio da manhã, mostrou que a inflação na zona do euro (8,6% ao ano em fevereiro) representa uma ameaça imediata maior para a economia do que a turbulência no setor bancário.

“A inflação deve permanecer muito alta por muito tempo”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde. “Não há troca entre estabilidade de preços e estabilidade financeira -- e, se houver, com esta decisão, estamos demonstrando isso”, acrescentou.

A reação ao aumento dos juros do BCE repercutiu mais no mercado americano, que abriu em baixa, do que nos europeus, que seguiram estáveis após o anúncio.

Em Wall Street, o S&P 500 abriu em queda de 0,5%, pressionado por mais dificuldades no setor bancário. O First Republic, banco regional que entrou na mira dos investidores, perdeu um terço de seu valor. PacWest e East West Bancorp também sofreram quedas acentuadas.

O anúncio do aumento de juros na zona do euro causou desconfiança entre os investidores americanos. Eles temem que a medida estimule o Fed a também subir os juros.

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, o cenário nos dois lados do Atlântico ainda é de incerteza.

“A cautela deve prevalecer, uma vez que a crise bancária pode significar um aperto adicional no cenário de crédito, resultando em maior desaceleração da atividade”, disse ela ao NeoFeed, citando a queda do barril do petróleo para abaixo de US$ 70, que não era visto desde 2021. “Essa nova redução das commodities pode, inclusive, contribuir para uma desinflação mais rápida, o que poderia significar que o aperto monetário já foi suficiente.”