André Esteves, CEO do BTG Pactual, introduziu a participação de Luis Caputo, ministro da Economia da Argentina, com a liberdade dada aos íntimos. Ele e Totó, como é conhecido no mercado financeiro, estiveram juntos há algumas semanas em Davos, no Fórum Econômico Mundial.

Desta vez, separados pela tecnologia, Esteves estava no palco da CEO Conference Brasil 2024, promovido pelo BTG, enquanto Caputo (ou Totó) estava em Buenos Aires. Mas a distância não reduziu a preocupação de como a Argentina vai resolver os seus grandes problemas econômicos.

Pouco antes de entrar na conferência de vídeo, Caputo soube que a Câmara dos Deputados da Argentina retomou a votação dos artigos individuais do projeto de reforma do presidente Javier Milei.

Na semana passada, após intensas negociações com os congressistas, a Lei Ônibus, como ela é chamada, virou um “micro-ônibus” ao ser desidratada após inúmeras concessões do governo. Dos 664 artigos originais, com propostas de mudanças em praticamente todos os setores socioeconômicos da Argentina, sobraram pouco mais de 300 no texto-base votado na Câmara dos Deputados.

“Esse é um game changer para a Argentina. Acredito que vai levar menos de um mês para aprovar, algo assim. Nós acreditamos duramente no que falamos e podemos atrair muitos investidores. Olhamos para o Brasil como um superparceiro”, disse Caputo.

Após a participação do Caputo no CEO Conference, a realidade bateu à porta. Milei sofreu um duro revés e viu sua proposta voltar à estaca zero na Câmera dos Deputados.  Por meio de uma nota, o governo afirmou que os deputados "decidiram dar as costas para os argentinos para proteger seus interesses e impedir que o governo tenha as ferramentas para resolver os problemas estruturais da Argentina".

Com uma inflação acima de 200% ao ano e um índice de pobreza se aproximando de 50% da população, o ministro da Economia da Argentina coloca todas as suas fichas na aprovação dessa reforma enviada ao Congresso, que começa com a privatização de empresas estatais e passa por todos os Poderes no país, para alcançar o equilíbrio fiscal.

“Tivemos 22 crises econômicas recentes nos últimos anos, todas de origem fiscal, mas essa é a pior da Argentina. Ficamos rodando sobre o mesmo problema, particularmente nos últimos 20 anos”, afirmou Caputo.

Ele espera que o ajuste fiscal possa ser significativo para que o país possa atrair capital para a economia real. Investimentos em infraestrutura, na indústria e nos setores de energia, mineração e tecnologia, por exemplo, terão um prêmio maior.

Em contrapartida, o capital especulativo será desincentivado com o pagamento menor de juros. “Esperamos que 2024 seja um ano de estabilização e de 2025 em diante de crescimentos significativos”, disse o ministro da Economia.

Questionado por Esteves por que o presidente Mauricio Macri (Caputo fez parte do governo) e outros nomes competentes da economia não conseguiram resolver o problema da economia do País, o ministro disse que a transparência de Milei faz a diferença.

“As pessoas estão mais preparadas para ouvir a verdade. No governo Macri era proibido falar em ajuste fiscal. Vínhamos de 20 anos de populismo. O sentimento da população naquele período era outro. Foi feita uma escolha econômica para combater o déficit fiscal, mas não funcionou”, disse ele.

Um dos pontos do governo Macri que não deu certo foi o incentivo ao emprego com obras de infraestrutura. O setor privado não comprou a ideia com o déficit fiscal do país e o dinheiro público não foi suficiente para promover a mudança. Milei vai pelo mesmo caminho. E também precisa combinar com os investidores.

(Matéria atualizada com novas informações sobre a Lei Ônibus)