A possibilidade de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cumprir a promessa de zerar o déficit fiscal em 2024, conforme compromisso assumido pela equipe econômica ao aprovar o arcabouço fiscal, não chega a preocupar André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual.
Em palestra nesta segunda-feira, 6 de novembro, durante o Macro Day – evento anual de macroeconomia do BTG Pactual, que reuniu políticos e economistas –, Esteves afirmou que o essencial é respeitar as regras do arcabouço, que atrela receitas a despesas.
“Pode ser difícil cumprir a meta (de zerar o déficit), 0,3% ou 0,5% é menos que o mercado espera, mas o importante é seguir institucionalmente o arcabouço como ele foi aprovado, com apoio da Câmara e do Senado”, disse Esteves. “Os investidores estrangeiros vão entender, desde que o governo siga a cartilha.”
Esteves traçou um cenário otimista da economia brasileira. Segundo ele, todos os fatores de incerteza que a pandemia trouxe ficaram para trás: o Banco Central está no caminho certo, com reduções previsíveis de juros, a inflação é benigna, mas o juro real ainda está elevado.
“Num momento de incerteza interna e externa, o recomendável é seguir como estamos”, disse, referindo-se ao arcabouço. “Mesmo do ponto de vista fiscal, a frustração está do lado da receita, não da despesa”, acrescentou. Para o executivo, a melhor estratégia é perseguir a meta de zerar o déficit, “ir até onde podemos chegar, e depois vemos o que fazer”.
Esteves chegou a comparar o peso da discussão do equilíbrio fiscal no Brasil e nos Estados Unidos, onde o déficit público atingiu US$ 26,5 trilhões ao fim do ano fiscal de 2023, sem levantar grandes polêmicas na imprensa.
“O debate fiscal é mais saudável no Brasil do que nos EUA”, disse, referindo-se ao fato de os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, terem falado em equilíbrio fiscal em suas participações no evento do BTG Pactual.
Vitória por W.O.
Esteves abordou outros dois temas em sua apresentação: a política monetária do Federal Reserve, o banco central americano, e as boas perspectivas do Brasil no quadro geopolítico global da atualidade.
O Fed, na visão dele, tem se preocupado em evitar um aperto excessivo na política monetária. “Não vejo sobreaquecimento nem onda inflacionária vindo”, afirmou, prevendo taxas de juros mais estáveis por mais tempo nos EUA.
Segundo ele, é difícil prever quando os juros vão cair nos EUA. “O Fed ganhou o direito de esperar o tamanho do desaquecimento e da inflação ao longo do tempo.”
Ao falar do Brasil, Esteves apontou nossa vantagem competitiva, afirmando que os investidores têm boa imagem do País, “com parte do mérito nosso e parte da atual conjuntura do mundo”.
Ele cita algumas vantagens do País, como a produção e exportação de alimentos, a lógica reformista da economia dos últimos anos, que aumentou nosso PIB potencial, além do mercado consumidor de 200 milhões de pessoas, um mercado de capitais desenvolvido e certa segurança jurídica.
“Mudamos muito se compararmos com outros países emergentes”, disse, citando Rússia (“que se tronou ininvestível”), as turbulências econômicas de Turquia e Argentina, e a “barrra elevada de investimentos” da China.
“O cenário geopolítico global está bom para nós, estamos ganhando de W.O.”, disse Esteves.