A guerra entre Israel e Hamas completa um mês na terça-feira, 7 de novembro, com cerca de 10 mil mortos e mais de 700 mil moradores deslocados dos dois lados fronteira. Isso tudo numa área menor que Sergipe, onde 9,5 milhões de judeus e palestinos convivem num território que inclui Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Em meio a tantas mortes e destruição, outra tragédia começa a chamar a atenção: o prejuízo econômico criado pelo conflito na região. De acordo com o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, a guerra poderá custar até US$ 45 bilhões - o que equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) de Israel – se o conflito durar seis meses.

Mesmo se terminasse agora, o efeito em apenas quatro semanas de combates já se mostrou devastador tanto para a economia israelense como para a palestina. Cerca de metade das edificações existentes na Faixa de Gaza, por exemplo, foi parcial ou inteiramente destruída.

A cotação do shekel, a moeda israelense, caiu 5% em relação ao dólar desde o início do conflito – e o tombo só não foi maior porque o Banco de Israel, o banco central do país, vendeu US$ 30 bilhões em reservas para segurar a desvalorização da moeda. O setor do turismo, responsável por 4,2% do PIB em 2023, já começou a ter cancelamento de reservas até 2025.

Um levantamento da semana passada do Gabinete Central de Estatística do governo reforçou o impacto da guerra entre as empresas israelenses: uma em cada três tinha fechado ou estava funcionando com 20% da capacidade ou menos desde o início dos confrontos, enquanto mais de metade reportou perdas de receitas de 50% ou mais.

O impacto foi ainda maior no sul do país, na região mais próxima de Gaza, onde dois terços das empresas fecharam ou reduziram as operações ao mínimo.

Numa medida de emergência, o governo israelense anunciou apoio às empresas cujas receitas mensais tenham caído mais de 25% devido à guerra, cobrindo até 22% dos seus custos fixos e 75% da sua massa salarial, entre outras medidas.

O aporte maior para o pagamento de salários se deve a uma particularidade das Forças de Defesa de Israel, compostas em sua maioria por reservistas, ou seja, israelenses civis convocados em tempos de conflito. Cerca de 350 mil reservistas do Exército foram chamados – 8% da força de trabalho – enquanto o país se mobilizava para a guerra.

Mas, na semana passada, o Ministério do Trabalho advertiu que 764 mil pessoas – 18% da força de trabalho – deixaram seus empregos temporariamente depois de terem sido convocados pelo Exército, evacuados das cidades onde vivem perto da fronteira norte e sul do país ou  foram forçados a ficar em casa para cuidar dos filhos, que tiveram as aulas suspensas.

Não surpreende que, no final de outubro, o J.P. Morgan tenha alterado drasticamente sua previsão do PIB do quarto trimestre de 2023 para Israel, para uma queda de 11% em relação ao terceiro trimestre, substituindo sua estimativa anterior, de -1,5%, na primeira semana de guerra.

Parte das estimativas negativas se deve à escala muito maior do conflito em relação ao confronto mais recente. A guerra de Gaza de 2014, a última vez que o Exército israelense invadiu o território pobre e densamente povoado, durou 49 dias e envolveu muito menos reservistas.

“Desta vez há muito mais incerteza”, disse Michel Strawczynski, professor de economia na Universidade Hebraica de Jerusalém à agência Reuters, citando o objetivo manifestado do governo israelense de ir à frente com o conflito até eliminar o Hamas. “Isso significa que a guerra será provavelmente mais longa.”

Mesmo assim, o mercado parece apostar numa diminuição dos combates a médio prazo. A estimativa de crescimento anual do PIB israelense para 2023 pelo J.P.  Morgan, por exemplo, foi reduzida para 2,5%, ante os 3,2% anteriormente previstos. De acordo com banco, a previsão para 2024 foi ligeiramente ampliada para 2,0%, de 1,9%.

Setor tech

A esperança de rápida recuperação da economia israelense está concentrada no setor da alta tecnologia, que vem até agora demonstrando resiliência. Isso fica evidente pelo anúncio de diversas transações, como a Next Insurance, que recentemente anunciou uma rodada de financiamento de US$ 265 milhões, a maior para uma empresa insurtech no mundo desde o início de 2023.

Uma particularidade ajuda a explicar essa resiliência: as empresas locais de alta tecnologia, desde o seu início, têm como alvo os mercados internacionais, em especial as fintechs e insurtechs, que muitas vezes nem sequer se preocupam em obter licenças para o mercado israelense. Agora, quando a economia local está quase paralisada, as vendas das empresas de tecnologia dificilmente são afetadas pela guerra.

O ecossistema de tecnologia de Israel responde por 20% do PIB. São cerca de 6 mil startups, incluindo mais de 60 “unicórnios”, com valor de mercado de US$ 1 bilhão. Responsável por 14% dos empregos do país, o setor de tecnologia viu entre 5% e 15% de seus trabalhadores serem convocados como reservistas.

Cerca de um terço dos empregados pelo setor tecnológico israelense trabalha em 400 centros de P&D de gigantes estrangeiros como Intel, Microsoft, Google, NVIDIA, Amazon e Meta.

Gaza destruída

Do lado palestino, porém, a guerra só trouxe prejuízos. Antes do ataque do Hamas, esperava-se que a economia palestina – abrangendo tanto a Cisjordânia ocupada como a Faixa de Gaza – crescesse 3% este ano. Agora, o PIB palestino deverá retrair 3% em 2023, com queda de 5% do rendimento per capita.

A Autoridade Palestina estima a perda diária de produção devido à interrupção completa de todas as atividades econômicas na Faixa de Gaza em US$ 16 milhões. O  declínio no PIB de 2023 será de US$ 500 milhões em comparação com 2022.

Com desemprego na faixa de 45% durante o primeiro semestre de 2023, o rendimento per capita palestino na Faixa de Gaza é equivalente à metade do per capita na Cisjordânia. As taxas de pobreza e desnutrição atingem 80% da população.

Mais de 2 mil edifícios e 9 mil unidades habitacionais foram completamente destruídos. Além da destruição parcial de mais de 89 mil unidades habitacionais, cerca de 680 mil cidadãos palestinos foram deslocados à força dentro da Faixa de Gaza, longe dos seus locais de residência.

Neste cenário, o único setor que deve ter algum crescimento previsto no médio prazo na Faixa de Gaza é o da construção civil. Mas isso vai depender de aportes da comunidade internacional para reconstruir o território palestino, quando um dia a guerra chegar ao fim.