O comércio global vem diminuindo há meses, efeito do ciclo de inflação alta e elevação da taxa de juros na atividade econômica dos Estados Unidos e da Europa desde o fim a pandemia do novo coronavírus.

Maior exportador do mundo, a China está sendo afetada por essa queda no comércio global, à medida que o aumento dos custos dos empréstimos pressiona os gastos dos consumidores e das empresas nas nações ricas, destino tradicional de suas exportações.

Embora a taxa de crescimento do comércio exterior venha desacelerando, com queda de valores em dólares, a participação da China nas exportações globais de bens vem aumentando, em virtude de uma mudança de rota de suas mercadorias, migrando para regiões como o Oriente Médio e a América Latina.

A participação geral da China nas exportações globais de bens foi de 14,4% em 2022, acima dos 13% no ano anterior à pandemia e 11% em 2012, de acordo com a Organização Mundial de Comércio (OMC). Em 2022, os EUA representaram 8,3% das exportações globais de bens e a Alemanha, 6,6%.

A mudança da rota das exportações chinesas para países emergentes se deve ao interesse por carros elétricos baratos e smartphones, produtos que superam alternativas ocidentais muito mais caras. Para se ter uma ideia, a China ultrapassou o Japão como maior exportador mundial de veículos no primeiro trimestre de 2023.

O governo chinês, por sua vez, segue importando commodities dos emergentes, reforçando parceria comercial iniciada há décadas.

A primazia chinesa no comércio global é apenas um consolo diante da queda das trocas comerciais envolvendo o país asiático e as nações ricas do Ocidente.

As exportações da China para os EUA caíram 24% em junho em comparação com o ano anterior. No mesmo período, os embarques para a União Europeia recuaram 13%.

De forma geral, o valor das mercadorias enviadas da China para o exterior caiu 12,4% em junho em comparação com o ano anterior, depois de cair 7,5% em maio, de acordo com a Administração Geral das Alfândegas da China.

A China não é a única nação exportadora asiática a relatar queda em dólares nas vendas no exterior.

As exportações de Taiwan caíram 23% em junho em comparação com o ano anterior, enquanto as exportações vietnamitas reduziram 11% e as da Coreia do Sul, 6%.

Queda de  investimento direto

Outro foco de preocupação da China – cuja economia vem crescendo menos do que o esperado no primeiro semestre – é a queda relevante de investimento estrangeiro no país, que caiu para US$ 20 bilhões no primeiro trimestre deste ano, em comparação com US$ 100 bilhões no primeiro trimestre do ano passado.

Os economistas do Goldman Sachs preveem que as saídas da China neste ano anularão os investimentos no país, uma mudança relevante para um país que, nas últimas quatro décadas, viu consistentemente mais dinheiro entrando do que saindo.

Esse recuo é visto como efeito da deterioração da relação com os EUA este ano, depois de o comércio bilateral ter atingido um recorde de US$ 690 bilhões em 2022 – quando a demanda pós-pandemia dos EUA por bens de consumo chineses aumentou e a de Pequim por produtos agrícolas e energia dos EUA cresceu.

Uma categoria de importação americana que teve crescimento foram as baterias de íon-lítio, cujo valor mais que dobrou nos últimos dois anos, à medida que a produção de veículos elétricos nos EUA aumentou.

Os subsídios fiscais dos EUA destinados a aumentar a capacidade de fabricação de baterias domésticas e reduzir a dependência das baterias chinesas, no entanto, são vistos como essenciais para a queda do comércio bilateral.

“Esse declínio ainda pode ser em parte devido à queda na demanda de bens após a farra de compras da era covid nos EUA, mas a diversificação da cadeia de suprimentos fora da China também pode ser um fator”, disse à agência Reuters William Reinsch, especialista em comércio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.

A retomada do comércio bilateral foi o item principal da agenda da ministra do Comércio dos EUA, Janet Yellen, que visitou a China na semana passada.

“Não devemos permitir que qualquer discordância leve a mal-entendidos que piorem desnecessariamente nosso relacionamento econômico e financeiro bilateral", disse Yellen, referindo-se às restrições para exportações para a China de componentes eletrônicos para fabricação de supercondutores, que os EUA já admitem rever.