Embora pesquisas tenham apontado um ganho de popularidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva desde que Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre as importações do Brasil, alguns dos principais gestores de fundos do país ainda apostam em uma probabilidade maior de alternância de poder em 2026 – e o favorito para assumir o lugar, na opinião do mercado, é Tarcísio de Freitas, governador do estado de São Paulo.

Em um dos painéis mais aguardados do primeiro dia da 15ª Expert XP, os gestores Luis Stuhlberger, da Verde Asset, Felipe Guerra, da Legacy Capital, e João Landau, da Vista Capital, confirmaram que segue vivo o chamado “trade Tarcísio”, formado por posições que tendem a se beneficiar de um governo, em tese, mais comprometido com o ajuste fiscal.

“A única chance do Lula ganhar seria contra o Bolsonaro. Eu acho que agora o Bolsonaro está fora. Então, acredito que no Brasil o cenário é muito positivo no Tarcísio”, afirma Guerra.

Stuhlberger avalia que Lula pode até ter vencido essa primeira batalha, ganhando popularidade ao se posicionar contra as tarifas de forma enfática. Mas, para o gestor da Verde Asset, caso não consiga reduzir o nível das alíquotas, a medida pode ter um efeito contrário sobre sua popularidade no médio prazo.

“Vai ser assunto de jornal, as empresas quebram, têm que demitir, calote em banco, você pode ter greve no agro, incentivar greve de caminhoneiro? Tudo isso cai no colo do governo”, diz Stuhlberger. “No final do dia, se o Trump fizer acordo com o mundo inteiro e deixar o Brasil com tarifa de 50%, de quem vai ser a culpa? Do Lula. Isso é óbvio.”

Para João Landau, gestor da Vista Capital, a direita está mais bem posicionada para vencer as eleições de 2026 por uma combinação de estrutura partidária, desempenho nas redes sociais e força nas eleições municipais. “Nessa eleição especialmente, tenho uma convicção muito grande de que vai ter uma virada à direita. Provavelmente com o Tarcísio.”

O gestor afirma que a melhor maneira de surfar essa tese, mantendo alguma proteção em caso de reeleição, é por meio do juro real. Isso porque daria proteção em caso de uma alta da inflação em um segundo governo Lula e, em caso de melhora de percepção fiscal, passaria por uma forte valorização.

A exposição da Vista Capital em juro real, explica Landau, vem sendo feita especialmente via bolsa, por ver um prêmio atrativo. “O pior ativo é o CDI, porque você tem risco de investimento com o Tarcísio e você perde na inflação no Lula.”

Guerra, da Legacy Capital, reforçou o tom otimista com relação ao câmbio, mas deixou claro que esse otimismo está ancorado em uma possível alternância de poder em 2026.

Segundo ele, a combinação de um dólar mais fraco lá fora com um real mais valorizado aqui tende a ganhar força se o processo eleitoral caminhar para uma troca de governo. "Temos uma visão bem otimista com relação ao potencial do câmbio da eleição”, afirma Guerra.

O mercado deve entrar nas eleições de 2026 precificando uma probabilidade de 60% a 40% para o candidato da direita, na visão de Stuhlberger. Diante da incerteza elevada e do potencial de assimetria em caso de alternância de poder, o gestor da Verde Asset afirmou que a melhor forma de se posicionar hoje é via opções — seja em dólar/real ou EWZ. “O prêmio que tem para ser ganho é muito grande, então compensa a volatilidade que você paga”, diz Stuhlberger.

Com o mercado concentrado no trade Tarcísio, Guerra, no entanto, alerta que o tombo pode ser grande caso o cenário não seja concretizado. “O mercado subestima o que pode acontecer com os ativos em caso de reeleição. Estamos otimistas por acreditar que vai haver alternância de poder. Mas, se não tiver, acho que o cenário é extremamente negativo.”