Quando conversa com investidores estrangeiros, Guilherme Benchimol ouve que a Bolsa brasileira está barata e oferece muitas oportunidades. O que impede uma alocação maior de recursos externos nas companhias brasileiras é, como sempre, a situação fiscal.

No momento em que as forças políticas começam a se organizar para as eleições de 2026, o chairman da XP Inc. reafirmou que a organização das contas públicas é fator crucial para o País voltar a ser atrativo, permitindo um retorno sustentável do fluxo estrangeiro.

“Ninguém tem dúvida de que o Brasil está barato. A Bolsa, em dólar, do patamar máximo em 2010 até hoje, caiu 70%”, disse ele na quinta-feira, 27 de novembro, no XP Asset Annual Meeting, evento da gestora da XP.

“Mas o estrangeiro precisa confiar que o Brasil está num voo de cruzeiro sustentável de longo prazo”, complementou.

O comentário ocorre em um momento em que a Bolsa brasileira vem atraindo recursos externos. Dados da B3 apontam que, nos primeiros dez meses do ano, o fluxo de capital estrangeiro foi positivo em R$ 25,3 bilhões.

Analistas destacam, porém, que esse volume está abaixo do potencial, considerando o valuation da Bolsa. Para Benchimol, ampliar esse montante depende da percepção de que o Brasil possui solidez fiscal, conseguindo conter a inflação e manter um câmbio previsível.

“Se essas condições se mantiverem, tenho certeza de que teremos muito dinheiro de fora entrando aqui, porque temos uma série de agendas seculares de infraestrutura, energia limpa e outros temas importantes”, afirmou.

Como uma empresa, o Brasil precisa mostrar que suas contas são bem geridas, para não gerar inflação, fator que sempre penaliza os mais pobres. “Com isso, a gente volta a ter aquela cena de alta da taxa Selic, aperto monetário, a gente fica na corrida dos ratos”, disse ele.

Benchimol acrescentou que o governo deve se concentrar em questões básicas, como saúde, educação e segurança, deixando o restante a cargo dos empresários, que sabem conduzir melhor os serviços.

“Se o governo olhar mais para essa direção e fizer o básico muito bem, o resto, com o custo de oportunidade ajustado, vai convergir naturalmente”, afirmou.

Ele alertou que, se o Brasil não fizer o dever de casa, “vamos continuar sempre acreditando que está barato e vai continuar sendo sempre barato”.