A Petrobras anunciou na quarta-feira, 13 de setembro, uma parceria com a Weg para o desenvolvimento de um equipamento para geração de energia eólica, a ser instalado em terra, no valor de R$ 130 milhões.

O aerogerador onshore, com capacidade de 7 megawatts (MW), será o primeiro desse porte a ser fabricado no Brasil. A Weg prevê iniciar a produção em série do equipamento a partir de 2025.

No anúncio, a Petrobras não escondeu o objetivo final do projeto: usar o aerogerador onshore com a Weg para desenvolver outros, mais potentes, visando colocar um pé da estatal no mercado da energia eólica offshore, que gera eletricidade a partir equipamentos gigantes instalados em alto-mar.

“À medida que um fornecedor nacional acumula experiência e conhecimento na produção de aerogeradores de alta capacidade em terra, pavimenta o caminho para o desenvolvimento de aerogeradores de maior porte, que poderão ser utilizados nos projetos de geração offshore”, diz um trecho da nota da Petrobras.

Horas após o anúncio, a Petrobras divulgou outro comunicado ao mercado informando ter encaminhado ao Ibama pedido para iniciar o processo de licenciamento ambiental de dez áreas no litoral brasileiro destinadas ao desenvolvimento de projetos de energia eólica offshore com capacidade de até 23 GW.

Desse total, sete áreas estão na região Nordeste, duas no Sudeste e uma no Sul do país. Os projetos fazem parte de uma carta de intenções para cooperação assinado em março, entre a Petrobras e a norueguesa Equinor. Não foram divulgados valores.

Para Virginia Parente, especialista em energia e professora do Instituto de Energia e Ambiente da USP, a estratégia da Petrobras é aproveitar a expertise de extrair petróleo em plataformas instaladas em alto-mar, adaptando-as para instalar torres e aerogeradores de energia eólica offshore.

Com isso, a empresa poderia reduzir parte dos custos de instalação e montagem, calculados entre 8% e 19% dos custos totais dos projetos de eólicas offshore.

A professora da USP observa que as bacias de Santos (SP) e Campos (RJ) ficam próximas aos centros de elevado consumo de energia elétrica. "Ao mesmo tempo, a plataforma continental, próximo a essas bacias, se estende mar adentro com baixas profundidades, de aproximadamente 50m, e é sempre menos custoso explorar parques eólicos offshore em águas rasas”, diz Parente.

Custos elevados

No mundo, há pouco mais de 60 gigawatts (GW) de capacidade de energia eólica offshore instalada. Estima-se que 260 GW podem ser gerados até 2030 na modalidade, com investimentos previstos da ordem de US$ 1 trilhão, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).

Os investimentos em energia eólica offshore no Brasil, no entanto, dividem os especialistas. Os custos operacionais dos parques eólicos marítimos são praticamente o dobro dos instalados em terra -- com valores anuais de aproximadamente US$ 70 a US$ 80/kW para offshore e US$ 30 a US$ 40/kW para onshore.

O custo mais elevado é justificado pelo potencial da eólica offshore gerar mais energia. Em terra, a capacidade máxima de geração das turbinas chega a 5,6 MW. Em alto-mar, há projetos apontado o dobro dessa capacidade, 12 MW, e outros prevendo de 15 MW a 18 MW. Os custos elevados de transporte e a logística de instalação em alto-mar também pesam.

Outro argumento, mais óbvio, é o vasto potencial ainda a ser explorado pela energia eólica onshore no Brasil, um país de dimensões continentais - diferentemente da Europa, que não tem áreas livres em terra.

O debate, no entanto, é mais complexo do que parece à primeira vista. Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) alega que entrar no mercado eólico offshore é uma decisão estratégica para o Brasil. Ela critica a “visão de topeira” dos que insistem em utilizar os argumentos dos custos para bloquear o desenvolvimento da energia eólica offshore no país.

“Se o Brasil tivesse pensado assim em 2004, quando foi criado o Proinfra (Programa de Incentivo a Fontes Alternativas), não teríamos energia eólica nem solar e estaríamos produzindo energia em usinas térmicas a óleo diesel a um custo de R$ 1 mil por megawatt-hora (MWh), sem falar na questão da emissão”, diz.

A presidente da ABEEólica também considera inevitável algum tipo de estímulo por parte do governo para dar impulso ao mercado de eólica offshore – seja por meio de renúncias fiscais ou subsídios. Seu argumento é que o estímulo inicial é importante para atrair empresas.

Segundo ela, os custos tendem a reduzir ao longo tempo: “O custo da eólica onshore caiu 40% nos últimos três anos e deve cair mais 40% nos próximos quatro.”

Desafios à frente

No caso do Brasil, há outros desafios a serem considerados para atrair investimentos. Um deles é a falta de regulamentação. O mercado espera que o Projeto de Lei 576/2021, que trata da geração de energia offshore, seja aprovado no Congresso ainda este ano para viabilizar a realização de um leilão de cessão de áreas para as eólicas offshore em 2024.

Mesmo com regulamentação pendente, há aproximadamente 189 GW em projetos de eólica offshore no Brasil à espera de licenciamento. São 78 pedidos protocolados no Ibama, sem contar os feitos pela Petrobras nesta quarta-feira.

O entusiasmo com o incipiente mercado global de energia eólica offshore, porém, exige cautela. Os custos crescentes estão inviabilizando projetos eólicos offshore mundo afora, mesmo com o aumento da demanda por energia renovável.

Dois parques eólicos planejados para serem erguidos nos Estados Unidos e outro na Grã-Bretanha, que produziriam 3,5GW de energia (11% da geração offshore instalada nos EUA e Europa), foram cancelados na semana passada.

O valor do investimento não teria retorno diante do preço final para comercialização da energia produzida. O aumento do preço do aço e das turbinas, além dos juros elevados no Primeiro Mundo, impactaram na decisão.

Virginia Parente, da USP, alerta para que os investimentos em energia eólica offshore no Brasil levem em conta a competividade e o custo final dentro da curva de aprendizado de 5 a 10 anos que toda tecnologia nova exige.

“Não podemos ir com grande sede ao pote e cristalizar uma grande capacidade instalada de offshore no país quando os custos de produção ainda estão elevados”, diz Parente.

O Brasil sequer tem demanda para utilizar a farta oferta de energia renovável. Elbia Gannoum, da ABEEólica, observa que o país tem potencial de produzir 800 gigawatt de energia eólica onshore e 1.000 gigawatts de eólica offshore, sendo que a capacidade total instalada de energia do Brasil é de 196 gigawatts, somando todas as fontes.

“Temos capacidade de produzir energia equivalente a 9 Brasis só de vento”, diz Gannoum, acrescentando que o maior desafio atual do país é o mercado. “O Brasil não cresce o suficiente para atender a demanda de investimento da nossa indústria.”