O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário de Política Econômica do ministério, Guilherme Mello, alinharam o discurso ao participarem de eventos separados nesta terça-feira, 31 de janeiro, em São Paulo.

Haddad teve um encontro com o Conselho da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e Mello foi sabatinado na abertura da LAIC 2023, evento do banco Credit Suisse.

Urgência na aprovação da reforça tributária, sinalização do fim da desoneração do preço da gasolina no final do mês – para aumentar a arrecadação do governo – e busca de melhora da oferta de crédito foram abordados por Haddad e Mello.

A ênfase na questão do crédito permeou as falas dos dois integrantes da equipe econômica e serviu como uma “escada” para abordar a questão dos juros, no dia em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central fez sua primeira reunião no governo Luiz Inácio Lula da Silva, de dois dias, para decidir se mantém a taxa de juros em 13,75% ao ano.

A tendência do Copom, aguardada pelo mercado, é de manutenção dos juros no patamar atual.

Na Febraban, onde esteve acompanhado das ministras Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), Haddad disse que a questão do crédito “entrou na ordem do dia”.

Ele afirmou ter “preocupação” de que a manutenção dos juros na taxa atual pode contrair ainda mais a oferta de crédito no país. “O crédito caro impede e trava os negócios porque os juros são maiores do que o lucro e, neste cenário, não se consegue viabilizar a atividade econômica”, disse Haddad. Na véspera, em encontro na Fiesp, Haddad já havia manifestado desejo de uma redução dos juros para impulsionar a economia.

Já o secretário de Política Econômica disse no evento do Credit Suisse que a taxa de juros no Brasil é uma das maiores do mundo, em um momento em que os países do Primeiro Mundo também enfrentam inflação alta e juros elevados.

“A melhor maneira de ajudar a baixar os juros é trabalhando nas reformas”, disse Mello, citando a reforma tributária e a melhoria para oferta de crédito. Segundo ele, o desejo do governo é reduzir a inflação e, ao mesmo tempo, os juros.

Corte de gastos

O secretário de política econômica do governo foi sabatinado por Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse, e Luciano Paiva, CIO para o Brasil do banco.

Repetindo o que disse Haddad na véspera na Fiesp, Mello afirmou que a aprovação da reforma tributária e do arcabouço fiscal vão trazer previsibilidade para os negócios, “aumentando a possibilidade crescimento da economia com redução de desigualdade”.

Ele assegurou que a intenção do governo não é aumentar a carga de impostos e que o foco na reforma tributária é evitar o desequilíbrio entre os setores na composição do IVA (Imposto de Valor Agregado).

Diferentemente de Haddad, que admitiu que a desoneração do preço da gasolina deve ser suspensa no fim do mês, Mello disse apenas que o tema “será reavaliado em breve”. Ele enfatizou que o impacto na desoneração do diesel é maior, por isso deve ficar para frente.

Mello também foi questionado sobre dois temas sensíveis: corte de gastos do governo e inflação.

A economista Solange Srour observou que, para a dívida pública ser estabilizada, seria necessária uma queda equivalente de 4 a 5 pontos percentuais do PIB em 2023.

Questionado se o governo planeja alguma reforma mais ampla para reduzir os gastos, Mello evitou detalhar medidas futuras, afirmando que a ênfase do governo será de “analisar a qualidade dos gastos, acompanhando e avaliando as políticas públicas adotadas”.

Citou como exemplo o Auxílio Brasil. “Diferentemente do Bolsa Família, copiado no mundo inteiro, o desenho do Auxílio Brasil tem problemas e deve ser melhorado”, afirmou.

Outra frente será na redução do déficit público. Mello lembra que a previsão da lei orçamentária de 2023 foi inferior o equivalente a 1,5% do PIB em relação a de 2022.

Ele citou o conjunto de medidas anunciado por Haddad nas primeiras semanas de governo, que contemplam um corte de gastos de R$ 50 bilhões, além de aumento de receitas.

O novo arcabouço fiscal que está sendo preparado pelo governo, segundo ele, prevê mecanismos para lidar com a dívida pública.

“Acreditamos que conseguiremos atingir a meta de 1% ou 0,5% do PIB de déficit primário em 2023, nossa tarefa inicial é estabilizar a dívida e melhorar o resultado nos anos seguintes”, disse.

Respondendo a uma pergunta de Paiva, o secretário de política econômica negou que o governo esteja pressionando o Banco Central pela mudança na meta de inflação.

Segundo ele, essa pressão existe, mas no exterior, onde o tema tem sido discutido.

“A mudança de meta da inflação não está pautada no Ministério da Fazenda”, assegurou Mello, repetindo com outras palavras o que Haddad disse na véspera na Fiesp.