O anúncio do Prêmio Nobel de Economia de 2025, nesta segunda-feira, 13 de outubro, foi mais do que uma celebração acadêmica: tornou-se um manifesto contra o protecionismo e o negacionismo científico que ameaçam o progresso global.

Ao reconhecer o holandês Joel Mokyr, o francês Philippe Aghion e o canadense Peter Howitt, o Comitê Nobel sinalizou com clareza que o crescimento econômico sustentável depende da valorização da ciência, da inovação e de sociedades abertas à mudança.

Os três economistas foram premiados por suas pesquisas sobre o impacto da inovação no crescimento econômico e como novas tecnologias substituem as mais antigas, um conceito econômico fundamental conhecido como "destruição criativa" – originalmente cunhado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950), em seu livro "Capitalismo, Socialismo e Democracia", de 1942.

A obra coletiva dos laureados desmistifica por que a inovação não é aleatória, mas uma força estruturada para o progresso. O trabalho dos três economistas, que abrange décadas, mistura história empírica com modelos formais para explicar a mecânica do crescimento.

A homenagem deste ano ocorre em meio a debates globais sobre inteligência artificial (IA), automação e obstáculos políticos à inovação, reforçando a percepção de que a vitalidade econômica exige reinvenção constante.

O comitê disse que o trabalho dos três laureados mostrou que "devemos estar cientes e neutralizar as ameaças ao crescimento contínuo" — que podem vir de algumas empresas que podem dominar um mercado, de restrições à liberdade acadêmica ou de grupos de interesse que bloqueiam mudanças.

“O crescimento econômico não pode ser considerado assegurado; devemos manter os mecanismos de destruição criativa para evitar a estagnação”, disse o presidente do comitê, John Hassler.

Mokyr, professor da Universidade Northwestern (EUA), ganhou metade do prêmio por seu trabalho que explica por que o crescimento econômico decolou de forma sustentada somente a partir do Iluminismo e da Revolução Industrial.

Nos séculos anteriores, embora muitas sociedades tenham apresentado inovações revolucionárias, os surtos de crescimento econômico duraram pouco.

Com foco no impacto da mudança tecnológica, Mokyr identificou três pré-requisitos para o crescimento sustentado: uma evolução conjunta da ciência e da tecnologia, para que as pessoas entendessem por que as coisas funcionavam; competência mecânica; e uma sociedade aberta a mudanças potencialmente disruptivas.

Sociedades pré-modernas, afirma o economista, viram avanços fracassarem sem esses facilitadores. Para Mokyr, o crescimento econômico é inseparável de uma cultura que respeita evidência empírica e rejeita dogmas — uma crítica implícita ao negacionismo científico contemporâneo.

O economista holandês disse que ficou chocado por ter sido laureado. Ele conta que, certa vez, seus alunos perguntaram sobre a possibilidade de ganhar o Nobel. “Disse a eles que tinha mais chances de ser eleito papa do que de levar o Nobel de Economia — e olha que sou judeu”, revelou Mokyr, de 79 anos, acrescentando que vai usar sua parte do prêmio (cerca de US$ 500 mil) em seu laboratório de pesquisa.

Mokyr é reconhecido no meio acadêmico como um otimista quanto aos efeitos positivos da inovação tecnológica. Em uma entrevista de 2015, ele citou o serviço de streaming de música Spotify como exemplo de uma inovação "absolutamente surpreendente" que os economistas tinham dificuldade em mensurar.

Ele observou que já teve mais de 1.000 CDs e, antes disso, gastou grande parte de seu dinheiro em discos de vinil. “Mas, agora, com o Spotify, posso acessar uma enorme biblioteca musical por uma pequena mensalidade”, emendou.

Inovação criativa

Philippe Aghion e Peter Howitt, por sua vez, são os criadores do modelo de “destruição criativa endógena”, que atualiza e formaliza as ideias de Schumpeter.

Em um artigo de 1992, eles construíram um modelo matemático para o que é chamado de destruição criativa: quando um produto novo e melhor entra no mercado, as empresas que vendem os produtos mais antigos perdem. Nesse trabalho, quantificam como a concorrência, as patentes e os incentivos à P&D aceleram esse ciclo, explicando por que as economias crescem exponencialmente após 1800.

Segundo eles, a inovação representa algo novo e, portanto, é criativa. No entanto, também é destrutiva, pois a empresa cuja tecnologia se torna obsoleta é superada pela concorrência. De acordo com esse modelo, o crescimento econômico ocorre quando novas empresas e tecnologias substituem as antigas, gerando ganhos de produtividade e bem-estar.

Aghion, que leciona em várias universidades de ponta – entre elas, no College de France, na escola de negócios INSEAD e na London School of Economics (LSE) -, alertou que as políticas comerciais protecionistas do governo Donald Trump podem ser um obstáculo para novos avanços.

"A abertura é um motor do crescimento", disse Aghion, de 69 anos, durante o anúncio do prêmio. "Qualquer coisa que atrapalhe a abertura é um obstáculo ao crescimento; portanto, vejo nuvens se acumulando atualmente, pressionando por barreiras ao comércio e à abertura."

Ele também enfatizou a necessidade de conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental e promover a competição em inteligência artificial.

"As empresas não inovam espontaneamente em termos de meio ambiente", disse Aghion. "Se costumavam inovar em tecnologia suja, continuarão a inovar em tecnologia suja, a menos que sejam redirecionadas com políticas como um imposto sobre o carbono.”

Anghion vai dividir metade do prêmio com o economista Peter Howitt, que leciona ciências sociais na Universidade Brown (EUA). “É simplesmente o sonho de uma vida se tornando realidade", revelou Howitt, que disse estar ansioso para comemorar o prêmio com Anghion, com quem trabalha há 30 anos.