Nos primeiros meses de 2023, em mais de uma oportunidade, André Esteves usou o termo cacofonia para se referir ao início do novo governo. Para o chairman e sócio sênior do BTG Pactual, os desencontros no discurso da equipe só alimentavam a volatilidade no mercado.

Agora, porém, perto do encerramento dos primeiros seis meses do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, ele entende que houve um ajuste nesse calendário até pouco tempo conturbado. E que, nesse contexto, é hora de virar a página para uma nova agenda.

“As coisas se acomodaram e o Brasil não tem desafios econômicos relevantes à frente”, afirmou Esteves, na abertura do BTG Talks, na quarta-feira, 28 de junho. “Agora, o País deveria se concentrar numa agenda menos macro e mais voltada à microeconomia.”

Na sequência, o sócio do BTG ressaltou a necessidade de concentrar esforços em questões que destravem a produtividade. Entre outros exemplos citados de passagem, ele mencionou medidas que facilitem a criação de empresas e a tomada de risco pelo setor privado.

Esteves dedicou um pouco mais de tempo a um tema que, em sua visão, deve ser uma das prioridades dentro desse pacote: a reforma tributária. Para ele, essa revisão traria muitos benefícios, especialmente em um “sistema caótico” como o brasileiro.

Esteves fez, no entanto, um alerta para que o País evite cair na armadilha de direcionar a reforma para um viés de ampliação da arrecadação. E não para a simplificação da carga tributária, o que ele aponta como o que deveria ser o objetivo principal dessa revisão.

“Em linhas gerais, parece que estamos seguindo numa direção boa”, observou. “Mas é preciso ver o filme inteiro para termos certeza que não vamos sair do caos para um outro tipo de caos.”

Direção econômica e responsabilidade

Como parte dessa agenda, Esteves citou o clima mais ameno propiciado por sinais recentes enviados pelo governo, que, em suas palavras, vem mostrando uma “direção econômica de responsabilidade”. Especialmente em questões como o novo arcabouço fiscal.

“Ainda que não garanta a sustentabilidade eterna, o arcabouço garante uma trajetória razoável de dívida”, ressaltou. “Em outras palavras, o risco de cauda de uma argentinização vai morrendo com esse novo pacote.”

Ele destacou ainda que os indicadores recentes reforçam esse contexto mais favorável. E atribuiu parte desse panorama a movimentos consolidados em diversas mudanças observadas nos últimos governos, das reformas a frentes como o marco do saneamento.

“Temos uma pauta comercial boa, conseguimos oferecer segurança alimentar e energia limpa para o mundo”, afirmou. “Nosso sucesso só depende da gente. Basta não inventar e deixar o ambiente fluir que teremos surpresas agradáveis pela frente.”