A economia global está deixando para trás os choques monetário e fiscal pós-pandemia, marcados pelo ciclo de inflação e juros elevados - que começam a cair -, e entrando num período de estabilização, com crescimento mais lento nos próximos anos em relação ao período anterior à pandemia.
O diagnóstico foi apresentado na terça-feira, 11 de junho, pelo Banco Mundial, que divulgou seu relatório anual com as perspectivas econômicas globais para 2024.
As projeções do banco indicam que a economia mundial crescerá a uma taxa de 2,6% em 2024, mesmo índice de 2023 e com melhoria de 0,2 ponto percentual em relação ao início do ano.
Nos próximos dois anos, espera-se que o crescimento aumente ligeiramente, para uma média de 2,7% - mas abaixo da taxa de 3,1% que a economia global cresceu na década anterior à pandemia.
“Quatro anos após as convulsões causadas pela pandemia, conflitos, inflação e aperto monetário, parece que o crescimento econômico global começa a estabilizar”, afirmou Indermit Gill, economista-chefe do Banco Mundial.
O órgão espera que a inflação global diminua mais lentamente do que se pensava anteriormente, atingindo uma média de 3,5% em 2024. Por sua vez, os economistas dizem que a extensão dos cortes esperados nas taxas de juros ainda é lenta.
“Este é um grande risco que a economia global enfrenta – as taxas de juro tendem a permanecer mais altas durante mais tempo, com isso temos uma perspectiva mundial já fraca tornando-se ainda mais fraca”, disse Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Banco Mundial.
Protecionismo
O relatório indica que, se a economia global está em melhor forma do que no início do ano, em grande parte se deve ao desempenho dos Estados Unidos.
O Banco Mundial espera agora que a economia dos EUA cresça a uma taxa anual de 2,5% – os EUA são a única economia avançada que cresce significativamente mais rápido do que o banco previu no início do ano.
No geral, as economias das nações ricas devem crescer 1,5% em 2024, com a produção permanecendo mais lenta na Europa e no Japão. Em contrapartida, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento devem avançar em uma taxa de 4% em 2024, liderados pela Índia, China e Indonésia.
No relatório, o Banco Mundial classificou as perspectivas comerciais como "sem brilho", indicando que o crescimento mais lento do comércio poderá pesar mais do que nos anos anteriores.
Entre os fatores que impedem um crescimento global a longo prazo mais consistente são citados o surgimento de novas barreiras comerciais e políticas protecionistas - as nações implementaram mais de 700 restrições ao comércio de mercadorias e quase 160 barreiras ao comércio de serviços em 2024.
Gill, o economista-chefe do banco, disse que o progresso em direção à prosperidade ocorreu quando os governos implementaram políticas que promoveram a produtividade, o empreendedorismo e a inovação – modelo que floresceu após a queda do Muro de Berlim.
“A globalização da economia inaugurou um período extraordinário de prosperidade mundial de 25 anos, no qual os rendimentos das nações mais pobres, em média, alcançaram os dos mais ricos, e quando o mundo esteve perto de acabar com a pobreza extrema”, disse ele.
Neste sentido, o protecionismo global crescente tende a penalizar as nações mais pobres. O Banco Mundial reduziu as expectativas de crescimento entre os países de baixo rendimento, embora o crescimento ainda seja mais rápido do que em 2023.
A renda per capita nessas nações, que respondem por 80% da população mundial, deve crescer 3% em média até 2026 – abaixo dos 3,8% observados no final da década de 2010.
“Para a pessoa média, as coisas vão parecer piores do que costumavam ser antes da pandemia no que diz respeito ao crescimento da renda”, advertiu Ayhan Kose.