O Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), situado no Porto do Itaqui e que integra um dos corredores de exportação de soja, farelo de soja e milho da região do Mapito (confluência entre os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins) – considerada a última fronteira de expansão do agronegócio do Brasil –, deu início a um processo de ampliação orçado em R$ 800 milhões para aumentar em 60% sua capacidade de exportar grãos.

“Juntamente com as outras três operadoras que atuam no porto, protocolamos nos órgãos responsáveis a chamada Fase 3 do Tegram, que é um pedido de renovação antecipada do contrato de arrendamento combinado com um adensamento de área”, disse ao NeoFeed Helcio Tokeshi, CEO da CLI (Corredor Logística e Infraestrutura).

A CLI é uma operadora independente (“bandeira branca”) – ou seja, sem ligação com tradings de commodities –, focada em infraestrutura e logística portuária para o agronegócio.

De acordo com Tokeshi, a área e o custo de expansão do Tegram foram divididos em quatro fatias, uma para cada operadora do terminal: além da CLI, a Glencore, o Terminal Corredor Norte (ligada à trading NovaAgri) e a ALZ Terminais Portuários (controlada por Amaggi, Louis Dreyfus Company e Zen-Noh Grain).

Cada uma das consorciadas vai construir quatro silos verticais, como são chamados os tubos gigantes colocados na vertical para armazenar grãos, e duas moegas de descarga rodoviária. A moega é um equipamento usado em silos para moer e servir como depósito de grãos.

“No total, o complexo Tegram vai aumentar em quatro vezes a quantidade de silos verticais e de moegas rodoviárias”, acrescenta Tokeshi, que também é sócio-diretor da IG4 Capital, gestora de private equity, e que possui vasta experiência na área de infraestrutura e logística, com participação na modelagem do marco regulatório de portos.

A ampliação do Tegram reflete o potencial de crescimento do Porto de Itaqui com o boom de produção de soja e milho na região do Mapito e no nordeste do Mato Grosso.

Tokeshi lista a infraestrutura favorável, com o escoamento de grãos pela Ferrovia Norte-Sul – logisticamente mais atraente para os produtores do que pelo Porto de Santos –, e as modernas instalações do Tegram como diferenciais.

Segundo ele, após a conclusão das obras de ampliação, prevista para 2026, o terminal vai passar a exportar 25,6 milhões de toneladas de grãos ao ano, ante as 16 milhões de toneladas de grãos atuais.

Tegram Porto de Itaqui (MA)
A ampliação do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) busca aumentar capacidade de exportar grãos

Avanço

O investimento da CLI em Itaqui faz parte de uma ofensiva agressiva da empresa no setor de logística desde que foi adquirida pela IG4 Capital, em junho de 2020, numa transação de R$ 1,2 bilhão envolvendo aquisição e reestruturação de dívida, foco do modelo de negócio da IG4.

Na época, a CLI já atuava no Porto de Itaqui e pertencia à CGG (Cantagalo General Grains) Trading, controlada pelo Grupo Coteminas, de Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar e atual presidente da Fiesp.

“A Cantagalo estava com dívidas com nove bancos, renegociamos no meio da pandemia e ficamos com um terminal novo”, conta Tokeshi.

Hélcio Tokeshi_CLI
Helcio Tokeshi, CEO da CLI (Corredor Logística e Infraestrutura)

O passo seguinte foi ainda mais ousado. Em novembro do ano passado, a CLI concluiu a compra de dois terminais da Rumo, do Grupo Cosan, no Porto de Santos.

De acordo com o executivo, a Rumo estava focada num investimento pesado em trilhos e achou melhor sair da operação dos terminais. A transação envolveu o pagamento de R$ 1,4 bilhão à empresa do grupo Cosan.

Para viabilizar o negócio, a CLI recebeu um aporte de R$ 500 milhões da Macquarie Asset Management — divisão de gestão de fundos de investimento do banco australiano Macquarie, focado em infraestrutura. O controle acionário da CLI passou a ser dividido igualmente entre a IG4 e a Macquarie.

Apenas em Santos, o acordo prevê investimentos de R$ 600 milhões nos dois terminais, em um período entre dois e cinco anos. Com isso, a CLI se transformou na maior empresa independente de terminais portuários do país.

Enquanto no Tegram a CLI viabiliza o escoamento de 4 milhões de toneladas de grãos, com os dois terminais de Santos, que movimentam 12 milhões de toneladas de grãos (incluindo açúcar), a empresa passou a quadruplicar a operação.

Tokeshi atribui o salto da CLI à decisão estratégica de operar de forma independente. “O mercado estava pedindo um operador bandeira branca de terminais portuários”, diz ele. “Nosso foco é reduzir custos e ganhar agilidade e produtividade, o que nem sempre é possível com os operadores de terminais tradicionais, ligados a um produtor ou a uma trading.”