O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, elogiou nesta quarta-feira, 5 de abril, o arcabouço fiscal anunciado na semana passada pela equipe econômica do governod de Luiz Inácio Lula da Silva.

“A avaliação é superpositiva, elimina o risco de uma trajetória explosiva da dívida”, afirmou Campos Neto, durante participação no evento do Bradesco BBI, em São Paulo, reconhecendo “o grande esforço” que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governo têm feito.

O presidente do BC admitiu que existe uma ansiedade em relação à parte da receita do pacote, enfatizando que é necessário aguardar como a proposta vai tramitar no Congresso Nacional.

“Existe também uma ansiedade em torno das despesas obrigatórias, mas acho injusto, isso deveria ser cobrado com certa parcimônia”, acrescentou, lembrando que a experiência do passado indica ser “muito difícil” efetuar cortes estruturais.

“O ajuste das despesas obrigatórias vem com reformas, a mais longo prazo. Temos que dar mais credibilidade para o que o governo tem feito nesse sentido”, disse.

Foi a primeira vez que Campos Neto fez uma análise mais detalhada do pacote. No dia em que as medidas foram anunciadas, o presidente do BC havia elogiado “o grande esforço” do governo, mas evitou comentar detalhes da proposta - cujas linhas gerais haviam sido apresentadas anteriormente a ele por Haddad -, alegando não ter tido acesso à versão final.

O afago de Campos Neto ao governo ocorre após semanas de críticas do presidente Lula à política monetária conduzida pelo Banco Central, que tem mantido a taxa básica de juros em 13,75%, alegando que a inflação (de 5,36% ao ano) ainda está longe da meta, de 3% ano.

Campos Neto disse que não existe relação mecânica entre política fiscal e taxa de juros. Segundo ele, o importante á atuar dentro do sistema de metas e como elas afetam o canal de expectativa.

Ele voltou a defender a insistência do BC em atingir a meta da inflação, pois o custo de combater a inflação é muito duro para a sociedade e tem impactos no curto prazo. “Mas o custo de não combater é muito maior no médio e longo prazo”, advertiu.

Campos Neto defendeu o perfil técnico do BC e criticou a tentativa de classificar como política a atuação de seu corpo diretivo. “Politizar algo que é totalmente técnico deixa os diretores e funcionários bem preocupados”, afirmou.

Crise de crédito e bancária

Questionado sobre uma eventual crise de crédito, o presidente do BC foi enfático. “Os bancos estão preocupados com a desaceleração dos pedidos, mas não existe crunch nem problema estrutural", disse.

Campos Neto disse que o problema dos bancos em relação ao crédito não é de liquidez, e sim de mercado, lembrando que o BC liberou liquidez na pandemia e o crédito cresceu 22%. “Agora está crescendo entre 7,5% e 8%, índice compatível com os mercados no exterior”, disse.

O presidente do BC prevê uma desaceleração da oferta de crédito nos Estados Unidos e Europa, por causa da crise bancária – que atribuiu a uma sequência de eventos causada pelo aumento de juros.

“Nos Estados Unidos houve um problema no sistema regional dos bancos e, na Europa, a fragilidade de um banco”, disse, referindo-se ao Credit Suisse.

Segundo ele, a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) foi causada por um problema específico: o fato de o banco contar com uma base de depositantes interligada e concentrada no setor de tecnologia. “Essa diversificação inferior foi decisiva, pois foram resgatados US$ 41 bilhões em um dia”, disse.