Austin - Bill Gurley é considerado um dos principais investidores de tecnologia dos Estados Unidos. Sua gestora de venture capital Benchmark está localizado em Menlo Park, na Califórnia, o berço das startups, e já captou US$ 2 bilhões em seis fundos.

Gurly foi responsável por uma extensa lista de investimentos em estágio inicial que se transformou em aquisições por grandes corporações. Na sua carteira de sucesso, por exemplo, está o Uber e o unicórnio brasileiro Wildlife, que atua com games.

Com esse histórico de relacionamento com startups, o nível de expectativa para ouvir o que Gurley tinha para falar sobre o Silicon Valley Bank (SVB) era alto. E, ao subir no palco do SXSW, o acrônimo do festival de inovação South by Southwest, para mediar o painel com o autor Tim Ferriss, ele não esperou nenhuma manifestação da plateia: afirmou que falaria sobre o banco.

“O evento do Silicon Valley Bank é um cisne negro no sistema financeiro”, disse Gurley. “As pessoas que leram sobre eventos de cisne negro sabem que é difícil estar preparado. Mas as pessoas pensam que toda startup que faz escolhas erradas deve ser eliminada.”

Cisne negro é um conceito criado pelo filósofo e escritor Nassim Taleb e que pode ser considerado como um momento de crise ou evento raro, de grande impacto na economia nacional ou global, bem como na sociedade como um todo. Como é inesperado, as pessoas ou empresas não estão preparadas para esses eventos.

“Mas eu não tenho certeza se isso é particularmente razoável porque o estoque, em 8 de março, estava ok. Todos em Wall Street disseram que estava tudo bem”, prosseguiu Gurley. “E se nós sentíssemos hoje que não poderíamos confiar em nosso banco, isso criaria um caos.”

De acordo com ele, o governo americano resgatou, em 2009, o Goldman Sachs. E, nesse caso específico, as autoridades protegeram os acionistas. “Tudo o que estamos falando sobre o SVB são sobre os depositantes”, analisou Gurley.

O Silicon Valley Bank, fundado há 40 anos, é considerado o banco das startups. Por ele, passavam boa parte dos recursos de investidores de venture capital. Estima-se que cerca de 50% das empresas que levantaram capital em 2022 tinha conta na instituição.

Na quinta-feira, 9 de março, quando anunciou um aumento de capital de US$ 2,25 bilhões, investidores e startups temerem pela solvência do banco e iniciaram uma corrida frenética para sacar recursos, o que levou o banco à bancarrota.

Na sexta-feira, 10 de março, o Silicon Valley Bank sofreu intervenção e se tornou na segunda maior falência da história dos Estados Unidos desde o Lehman Brothers, em 2008.

Depois de dizer que não iria resgatar o Silicon Valley Bank, o governo federal voltou atrás e resolveu dar garantias a todos os depositantes do banco, alegando risco sistêmico.

Em sua apresentação, Gurley contou sobre o valor da paciência, a principal lição aprendida por ele nos últimos cinco anos. Ao esperar, disse ele, a maioria dos problemas somem sozinhos.

“Costumava me aprofundar sobre os problemas e este fim de semana foi o perfeito exemplo sobre paciência”, disse Gurley. “Muitas pessoas falaram um monte de bobagens, que tudo estaria acabado na segunda-feira, mas tudo foi resolvido. Eles simplesmente não souberam esperar. E esse é o meu novo hábito.”

Gurley se referia mais uma vez ao Silicon Valley Bank, que levou empreendedores a momentos de pânico durante o fim de semana, sem saber como sacariam recursos que ficaram bloqueados.