A pressão sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para que o BC inicie o ciclo de corte de juros, está aumentando à medida que se aproxima a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, agendada para esta quarta-feira, dia 2 de agosto, que vai decidir o que fazer com a taxa Selic.
Após o BC manter os juros em 13,75% ao ano desde agosto passado, a expectativa de políticos e de agentes do mercado financeiro nem é se o Copom vai ou não cortar os juros, e sim quanto – se 0,25 ponto percentual, como acreditam os analistas mais comedidos, ou 0,50 pp, como aposta boa parte do mercado.
A queda consistente do índice de inflação nos últimos meses e a melhora na expectativa de crescimento do PIB em 2023 reforçaram essa certeza.
A elevação da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch – de BB- para BB – , na última quarta-feira, dia 26 de julho, deixou à vontade os integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer pressão pela redução da Selic.
O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, por exemplo, que em maio já havia lembrado haver espaço para um “pequeno corte” na taxa básica de juros, deixou a discrição de lado na sexta-feira, quando falou a jornalistas que estaria “mais do que justificado” um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic diante dos últimos acontecimentos, como a revisão das projeções de inflação pelo mercado e melhora da classificação do Brasil por agências de risco.
Nesta segunda-feira, Haddad se reuniu com o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, e com CEOs de quatro grandes bancos: Milton Maluhy Filho (Itaú), Octávio de Lazari (Bradesco), Mario Leão (Santander) e André Esteves (BTG Pactual).
Em entrevista ao NeoFeed, o presidente do do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse que o ambiente macroeconômico é muito mais favorável neste segundo semestre, o que deve facilitar a queda dos juros.
"É vital para a economia e para o país, além de sinalizar essa melhora geral do quadro macroeconômico e da inflação”, diz Mercadante, lembrando que o Brasil precisa melhorar seu rating nas agências de risco. "Por isso, há uma forte expectativa sobre essa decisão.”
Até o senador Ciro Nogueira (PP-PI) - ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e crítico do governo Lula -, que costuma elogiar a gestão de Campos Neto no BC, pediu a queda da Selic. “Acho que o momento é esse: hora de cortar os juros”, disse o líder da oposição.
Fator Focus
A pressão cresceu também por conta do Relatório Focus do Banco Central, com as projeções de analistas de mercado financeiro para o cenário econômico no curto e médio prazo.
Nas últimas semanas, o Boletim Focus vem reforçando a tendência de queda da inflação e, por tabela, as condições para o início de corte de juros pelo BC.
A estimativa do IPCA para este ano divulgado nesta segunda-feira, dia 31 de julho, pelo Focus, por exemplo, caiu de 4,90% para 4,84. A previsão da inflação para 2024 também foi reestimada para baixo, de 3,90% na semana passada para 3,89%. Não houve alteração em relação à expectativa para o IPCA de 2025 e 2026, estáveis em 3,50%.
Refletindo a expectativa do mercado, o Boletim Focus manteve esta semana a projeção da taxa de juros básica para o final de 2023 (em 12%). Mas a Selic de 2024 caiu de 9,50% para 9,25% e a de 2025 e de 2026 também sinalizaram recuo, de 9,0% para 8,75 (2025), e de 8,63% para 8,50% (2026).
A chegada de Gabriel Galípolo ao BC também tem sido citada como um fator que pode levar o Copom a mexer na Selic na próxima reunião.
Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Galípolo é um dos dois recém-indicados do presidente Lula para ocupar uma diretoria no BC. Os nove integrantes da diretoria, incluindo Campos Neto, compõem o Copom.
Muitos agentes do mercado financeiro afirmam que seria possível um corte de 0,50 pp na Selic, mas acreditam que o Copom deve manter a cautela e aprovar uma redução mínima, de 025 pp, para 13,50%.
Além do Boletim Focus, outros levantamentos de agentes financeiros trabalham com o início de queda do ciclo de juros por parte do BC a partir deste mês.
Um exemplo é a Pesquisa Pré-Copom, do BTG Pactual, feita na semana passada com 107 participantes do mercado financeiro e divulgada nesta segunda-feira.
Para 60% dos participantes, o BC deverá iniciar o ciclo de cortes de juros na reunião de quarta-feira, 2 de agosto, decretando uma redução de 50 pontos-base (pb) da Selic, de 13,75% atuais para 13,25%. Outros 39% dos entrevistados apostam numa redução menor, de 25 pb, para 13,50%. A melhora da inflação (citada por 70%) é o que puxa essa confiança.
Numa mostra do otimismo dos entrevistados pelo BTG Pactual, 86% acreditam num corte de 50 pb também na reunião do Copom de setembro. Nas reuniões de novembro e dezembro, o corte de 50pb segue predominante. A novidade são os 35% que apostam numa redução de 75pb na última reunião do ano do Copom, em dezembro.