A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém, Pará, já iniciada com a Cúpula de Líderes dará destaque global ao País especialmente entre 10 e 21 de novembro com reuniões técnicas. Especialistas e autoridades de mais de uma centena de nações deverão catalisar as atenções sem esvaziar, porém, a agenda de indicadores fundamentais para construção de cenários econômicos com temas correlatos à taxa de juro: Ata do Copom, inflação e crédito.

Com peso de 7,89% do PIB nas despesas financeiras do governo, o juro que sobrecarrega também o custo das empresas e os orçamentos familiares, mas recompensa investidores é tema imperativo no Brasil que deverá fechar 2025 com margem de 9,74% acima da inflação 12 meses à frente – o segundo mais elevado do mundo, atrás somente de superlativos 17,80% da Turquia, segundo o ranking de 40 economias monitorado desde 2005 por Jason Vieira, fundador e sócio das consultorias MoneYou e Lev Investimentos.

Com a manutenção da Selic em 15% em novembro com direito a reprise em dezembro pelo Comitê de Política Monetária (Copom), o Brasil manteve a posição sustentada mês a mês no ranking neste ano, quando também rivalizou na liderança com Argentina e Rússia. “Apenas no auge da pandemia, em 2020, com a Selic a 2%, o Brasil perdeu lugar entre os três ou os cinco maiores pagadores de juros do mundo”, observa Vieira ao NeoFeed.

O tombo de 2020 semeou, porém, uma arrancada posterior da Selic num esforço do BC para estancar o salto da inflação derivada da ruptura de cadeias globais de suprimentos – condição partilhada pelo Brasil com as maiores economias que enfrentaram a inflação mais elevada em 40 anos.

E a exemplo dessas economias, que promoveram um aperto monetário intenso e prolongado, o Brasil experimenta agora um lento processo de desinflação que impõe resistência ao corte de juro. Nesse sentido, a Ata do Copom de Gabriel Galípolo a ser publicada na terça-feira, 11 de novembro, poderá detalhar o spoiler dado pelo BC no comunicado que confirmou a estabilidade da Selic e reiterou a manutenção do juro por período “bastante prolongado”.

Entretanto, na mesma terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) será portador de boa notícia para o próprio BC ao divulgar o IPCA de outubro. A perspectiva é de arrefecimento da taxa que fechou setembro com alta mensal de 0,48% e interanual de 5,17%. O IBGE deu uma palinha sobre a tendência ao anunciar o IPCA-15 de outubro há duas semanas. A prévia da inflação desacelerou a 0,18% no mês e a 4,94% em doze meses sob a influência de serviços e custo da energia elétrica.

A redução do preço da gasolina pela Petrobras, em 20 de outubro, tende a aliviar a inflação corrente e já contribuiu para descompressão das expectativas no médio e longo prazo – prenúncio de um ajuste que deverá ganhar tração, inclusive, pela sustentada queda do dólar ante o real que poderá se estender até a virada do ano.

“Nata” das finanças em Belém

Em janeiro, o BC continuará mirando a inflação do segundo trimestre de 2027 atualmente denominado “horizonte relevante” para os efeitos da política monetária. E que, àquela altura do calendário, poderá flertar com a meta de 3% e abrir a temporada de corte, talvez mais acentuado, da Selic. Por ora, o colegiado vê IPCA de 3,3%.

No dia seguinte à apresentação da Ata, na quarta-feira, 12 de novembro, em Belém e no âmbito da COP 30, o financiamento climático será abordado no Fórum de Finanças Sustentáveis. Promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o evento deverá reunir a nata do sistema financeiro – bancos, seguradoras, grandes investidores e organismos internacionais.

Na quinta-feira, 13, a bola volta para o BC com a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC), documento lançado em 2011 para detectar tendências de demanda e oferta do crédito bancário convencional. Nessa edição do terceiro trimestre de 2025, a sondagem deverá confirmar progressiva deterioração de cenário, coerente com o efeito restritivo da política monetária. A pesquisa anterior apontou mudanças.

No primeiro trimestre, quando despontava a preocupação com a inadimplência, o BC identificou melhoria no crédito habitacional para famílias, mas com custo e disponibilidade de recursos classificados como desafiadores. Entretanto, as condições de oferta eram favoráveis para grandes empresas e consumo familiar, sendo menos vantajosas para micro, pequenas e médias empresas.

No segundo trimestre, o crédito foi se deteriorando com as condições de oferta mais negativas no segmento habitacional pelo comprometimento de renda dos tomadores, inadimplência crescente e menor nível de tolerância das instituições ao risco.

Nesse período, o quesito risco/inadimplência cresceu em todos os segmentos, mas sobretudo na modalidade consumo das famílias. A expectativa de piora já estava instalada. De forma que a sondagem do terceiro trimestre poderá adicionar um quadro menos favorável, notadamente, para as micro, pequenas e médias empresas.

Esse cenário não é privilégio, porém, de companhias brasileiras. Pesquisa anual da francesa Coface, líder global de seguro de crédito comercial, junto a mais de 300 empresas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru revela que o prazo médio de pagamento entre empresas subiu de 53 para 59 dias no último ano, sendo que 77% dos entrevistados relataram atrasos, ante 51% observados em 2024.

O Brasil aparece como o país com os prazos mais longos (média de 66 dias), enquanto o Equador lidera em atraso, com média de 70 dias. Ainda assim, informa a Coface, 70% das 300 empresas pesquisadas estão confiantes em uma melhora dos negócios em 2026, mesmo diante de riscos como juros altos, desaceleração econômica, competição acirrada e volatilidade cambial.