Dezembro chega ao calendário em duas semanas e impõe urgência ao refinamento de projeções de crescimento. Aceleram ajustes os dados de atividade de setembro recém-anunciados e a conclusão da safra de balanços trimestrais que replicaram uma economia morna. Em compasso de espera.
Se, de um lado, indicadores conjunturais apontam atividade em desaquecimento, de outro, os balanços divulgados estão longe de revelar atividade econômica vibrante.
E 2024 está sub judice porque prevalece a cautela entre gestores de empresas, pontuam os especialistas Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter, e Leonardo Rufino, sócio e gestor de renda variável da Mantaro Capital, em conversa com a Coluna.
“A temporada de resultados do terceiro trimestre veio bem em linha com o visto nos trimestres anteriores. Os setores que estavam bem e os que enfrentaram cenário mais difícil, assim continuaram. Exportadoras foram beneficiadas pelos preços das commodities. A indústria de base não foi tão bem por sofrer com o juro alto e a concorrência das importações. E o varejo se distingue em subsetores”, informa Joubert.
O varejo voltado à alta renda veio muito bem no trimestre, lembram os dois especialistas. Rufino avalia que à exceção do perfil alta renda, o ano tem sido difícil para a expansão de receita no varejo.
Joubert acrescenta que o varejo alimentar trouxe resultados positivos, inclusive, pela queda da inflação. “O vestuário continuou sofrendo acirrada competição com as empresas asiáticas. E o e-commerce – além de questões pontuais em termos de governança – também sofreu pela concorrência e dependência de crédito escasso para venda de bens duráveis”, diz a estrategista.
Rufino pondera que o PIB é muito mais amplo que o retratado na bolsa de valores, mas reconhece que, como um todo, o consumo seguiu fraco, o setor de energia veio forte por questões climáticas e o agronegócio esteve muito bem. Justificou boa parte do crescimento da economia.
“Em serviços, é possível notar que para todos os bancos há melhora recente na inadimplência que parece ter atingido o pico na passagem do segundo para o terceiro trimestre. E as indicações são de que as instituições devem retomar a expansão do crédito. Bom para o setor e para o PIB”, diz o gestor.
Como será 2024?
E é exatamente para o PIB que olham especialistas em conjuntura que reavaliam as projeções para o terceiro trimestre e para o ano – um abre alas para um 2024 pouco animador pelo efeito ainda contracionista da política monetária em meio às incertezas fiscais.
A Selic está em queda, mas sem refresco para o juro real que recuará, de fato, se o Copom intensificar o corte da Selic nominal. Movimento que não acontecerá tão cedo, a depender de previsões do mercado que vê Selic entre 9,25% e 10% em dezembro de 2024.
Mantidos esses parâmetros, os juros continuarão inibindo investimentos. E, no cenário de aperto, o PIB do terceiro trimestre – a ser divulgado em 5 de dezembro – deve cair 0,3% ante o período anterior, apontam grandes bancos. Para o ano, a perspectiva é de expansão inferior a 3% e, para 2024, no máximo 2%. Com sorte.
Para 2023, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander esperam, respectivamente, crescimento de 2,9%, 2,7% e 2,5%. Para 2024, Itaú prevê alta de 1,8%; Bradesco 2%; e Santander 1%. A Focus sinaliza aumento de 2,89% para este ano e 1,5% para o próximo.
Os economistas vêm incorporando em suas projeções dados de setembro, quando a estagnação da indústria não surpreendeu. O varejo não decepcionou com resultado positivo acima do esperado. Entretanto, a prestação de serviços, em queda pelo segundo mês seguido e contrariando projeções de alta, não foi bom sinal.
Mas um alento de final de ano não é descartado, em função de um mercado de trabalho que segue firme, inflação em declínio que ajuda a preservar a renda e arrefecimento do grau de endividamento e inadimplência das famílias.
Conta a favor das expectativas quanto a um Natal positivo, o ingresso na economia de R$ 291 bilhões referentes ao pagamento de 13º salário, estimado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Mas as empresas não soltam rojões e a estrategista-chefe do Inter explica o motivo: “Para 2024, a inflação deve seguir em desaceleração, mas talvez fique em patamar um pouco mais alto que o esperado em função das commodities cujos preços se mantêm elevados. E a pauta fiscal, que não sai do radar, deve inibir a aceleração do corte de juro. 2024 pode trazer perspectivas melhores, mas desde que dissipadas muitas dúvidas.”