O mercado de trabalho que, fortalecido, se impõe como desafio para o Banco Central iniciar o corte do juro no Brasil e que, nos EUA, exibe fragilidade a ponto de levar o Federal Reserve, o BC americano, a reduzir sua taxa básica em setembro e acenar para novas baixas até dezembro, será destaque na passagem do mês e do terceiro para o quarto trimestre.

Virada de trimestre que é também ponto de partida na contagem regressiva para o 1º turno da eleição presidencial brasileira em 4 de outubro de 2026. E que ganhará impulso com a aprovação da principal promessa de campanha de Lula – isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil ao mês.

A despeito da votação do projeto na Câmara na quarta-feira, 1º de outubro, o Senado saiu na frente e aprovou, em comissão, proposta semelhante que seguirá diretamente para apreciação dos deputados. Com apoio nas duas Casas, em breve a isenção, que terá impacto positivo para famílias de renda média e baixa a partir de 2026, estará selada.

Mas no plano de fundo para expansão e consistência da renda no País que mantém firme o setor de serviços, a criação de empregos formais e a taxa de desemprego em mínima histórica de 5,6% dominam a agenda local: o Caged na segunda-feira 29 de setembro e a Pnad Contínua na terça, 30. Apesar do desemprego nanico, as contratações, em julho, registraram o pior resultado desde julho de 2020.

Nos EUA, vários indicadores do mercado de trabalho serão divulgados na semana. Porém, os mais relevantes estarão concentrados na sexta, 3 de outubro. As informações, de setembro, poderão recalibrar apostas para decisões de política monetária do Fed em outubro e dezembro. Apesar da divisão de opiniões no Fed quanto ao próximo lance, o mercado mantém aposta em mais dois cortes de juro neste ano.

No Brasil, as estatísticas do mercado de trabalho, somadas a atividade industrial, índices de gerentes de compra e sondagens de confiança de setembro ajudarão a refinar projeções para o PIB do terceiro trimestre que poderá desacelerar ante o período anterior. Resultado a ser conhecido em 2 de dezembro.

No primeiro trimestre, o PIB brasileiro avançou 1,3% e desacelerou a 0,4% no segundo. Para o terceiro tempo, as projeções de expansão oscilam de 0,1% a 0,4% na comparação trimestral, enquanto para o período de outubro a dezembro há expectativa até de resultado negativo – estimativas que contribuem para a possibilidade de a economia crescer cerca de 2% neste ano, ante 3,4% em 2024. Alinhado ao mercado, o BC, no Relatório de Política Monetária publicado na quinta-feira, 25, reduziu sua projeção para o PIB deste ano de 2,1% para 2%.

O desaquecimento da atividade é considerado líquido e certo. Mas o grau de retração poderá ganhar melhor contorno a partir das informações do mercado de trabalho. Se bem sustentado, o trabalho tende a inibir o arrefecimento da renda no curto prazo, atuando como “freio” da desaceleração da atividade. Ruim para o controle da inflação especialmente de serviços – “pedra” no sapato do BC de Gabriel Galípolo.

Crédito forte apesar do juro

A desaceleração da atividade tende a se repetir no terceiro trimestre, avalia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro FGV Ibre. Contudo, a economista destaca setores que concorrem para dar certo suporte ao crescimento. Ela observa que, além de um resultado bom do agro e da indústria extrativa, que deverá registrar crescimento similar ao de 2023 em torno dos 9%, metade do crescimento de PIB que o Ibre estima em 2% para 2025, inclui atividades não-sensíveis ao aperto monetário. Entre elas, serviços públicos de educação e saúde.

A economista reforça no Blog da Conjuntura Econômica a importância da desaceleração do consumo das famílias, fundamental para a redução da inflação de serviços diretamente relacionada ao comportamento do mercado de trabalho e dos salários. Matos entende que se a economia avançasse com aumento de produtividade, a elevação de salário não seria tão impactante. “Mas isso não está acontecendo”, alerta.

Dado crítico para análise da atividade econômica, a evolução do crédito em agosto será atualizada pelo BC na segunda, 29 de setembro. Há mais de um ano, o crédito cresce a dois dígitos, mesmo com o juro em alta. A expansão do saldo das operações em 12 meses era de 9,90% em setembro de 2024, quando o Copom iniciou o ciclo de aperto monetário interrompido, formalmente, neste setembro com Selic a 15%.

Em julho deste ano, o ritmo de crescimento do saldo dos empréstimos rondava 10,70% em 12 meses, após alcançar 11,80% em maio. As concessões avançavam 13,20% em setembro de 2024 e desaceleraram a 12,30% em julho após superar 15% em meses anteriores. Ritmo insustentável sem adicionar risco de inadimplência aos bancos. O juro médio subiu de 27,60% em setembro passado para 31,50% entre abril e julho, quando a inadimplência saiu de 3,50% para 3,80%.

A expectativa generalizada é de desaceleração do crédito com os bancos mais seletivos. Estimativa da LCA 4Intelligence é de declínio da taxa de expansão de 10,70% para 9,80% em 12 meses encerrados em agosto, sobretudo, nos segmentos voltados às famílias. O crédito direcionado, porém, pode acelerar via BNDES, em meio às medidas para mitigar os impactos do tarifaço de Trump às empresas brasileiras.

O desempenho das operações pode ser até menor. Entretanto, se o resultado for compensado por um mercado de trabalho resistente, considerado pleno emprego, o BC não deve fraquejar no aperto monetário como indicou na Ata do Copom – com efeito deletério para a atividade e, portanto, para a arrecadação com implicações para a política fiscal. Caso em que a “pedra” estará no sapado da Fazenda de Fernando Haddad.