O ano de 2025 está por um triz, e a terceira semana de dezembro tem a agenda congestionada por uma bateria de dados nacionais e internacionais escalonados por decisões no Congresso que selam a “saideira” de deputados e senadores rumo ao recesso, com início previsto para 23 de dezembro e retorno em 2 de fevereiro. A decisão econômica mais importante é a aprovação do Orçamento para 2026, que, se atrasar, restringe compulsoriamente gastos do governo.
Indicadores de atividade dominam o início da semana desde a China até a Europa, passando pelos EUA e o Brasil. Informações do mercado de trabalho norte-americano de novembro atrasados pelo shutdown – fundamentais para projeções de juros após o Federal Reserve cortar sua taxa a 3,50%/3,75% na última “superquarta” – serão conhecidos na terça-feira, 16 de dezembro.
Na quinta-feira, 18, os bancos centrais da Zona do Euro, Inglaterra e Japão definem suas taxas básicas, que deverão reafirmar a vantagem do Brasil na remuneração ao investidor. O juro real brasuca ronda 9,5% e deve escalar ainda mais com a inflação declinante e a Selic estável.
O Banco da Inglaterra poderá reduzir o juro que está estacionado em 4%. O Banco Central Europeu, que cortou 2 pontos percentuais de sua taxa no ano até junho, deverá mantê-la inalterada em 2%. O Banco do Japão poderá elevar o juro fixado em 0,50% desde janeiro.
Por aqui, também no início da semana, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) e o Monitor do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, incluem outubro nas estatísticas. E a Confederação Nacional da Indústria (CNI) deve reforçar, com dados de novembro, a indicação de fragilidade do setor que destoa da atividade geral ainda resiliente a ser pontuada na Ata do Copom que manteve a Selic em 15%, um reforço para sua credibilidade junto ao mercado e arrepio no governo.
No comunicado duro pós-Copom, o BC não deu pistas sobre corte de juro. A Ata sai na terça, 16, e não deve trazer spoiler para instituições ainda divididas, no pós-Copom, quanto à queda da Selic em janeiro ou março. A Ata deve reiterar, porém, que a política monetária está fazendo efeito sobre a atividade, inflação e expectativas embora lentamente. O IPCA em 3% no segundo trimestre de 2027 deve entrar no radar do comitê, mas justifica a sustentação do discurso conservador de Gabriel Galípolo, até o fim de janeiro, quando o Copom estreia 2026.
Com o calendário mais enxuto pelo Natal e Ano Novo, a divulgação de relatórios setoriais do BC, concentrada tradicionalmente na última semana de cada mês, até poderá ser antecipada. Por ora, contudo, documentos sobre crédito e política fiscal seguem agendados para depois do Natal. Já o balanço das operações externas em novembro sai na sexta, 19. A ver se o juro estratosférico do Brasil está atraindo (mesmo) uma avalanche de investidores em portfólio.
“Chave de ouro” para Lula
Após a publicação da Ata, o BC divulga, na quinta 18, o Relatório de Política Monetária. Rico em análises e projeções, o documento será detalhado por Galípolo e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, que se despede da instituição em 31 de dezembro com o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes. Portanto, duas vagas no comando do BC serão abertas.
Tudo indica que o processo sucessório se dará ao longo do primeiro trimestre, uma vez que, além das indicações de substitutos pelo presidente Lula, os nomes deverão ser chancelados pela Comissão de Assuntos Econômicos e pelo Plenário do Senado, que voltarão à ativa em fevereiro.
No Congresso, a expectativa de votação do projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) embala a semana. Sua aprovação, crucial para o governo, deve ocorrer na quarta-feira, 17. Mas ainda depende do aval parlamentar ao corte de 10% nos benefícios fiscais – equivalente a R$ 19,76 bilhões – concedidos a empresas e setores. Não menos relevante é o projeto de tributação escalonada de bets e fintechs que deverá estar em trânsito entre Senado e Câmara nos próximos dias.
A demora na aprovação do Orçamento não provoca agonia porque é considerada mais que provável, uma vez que no projeto já avalizado da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que antecede o Orçamento, foram tomadas decisões de interesse do governo e do Congresso.
Entre elas, o pagamento de 65% das emendas parlamentares até junho em função das eleições em outubro; exceções de despesas da meta fiscal, caso de R$ 10 bilhões para os Correios; e aval para o cumprimento da meta fiscal mirando o piso do intervalo de tolerância de 0,25% do PIB. Em 2026, a meta é de superávit de 0,25% ou R$ 34,3 bilhões. Portanto, estará “tudo “certo” se o governo entregar receitas e despesas em equilíbrio.
Fechando a semana, No sábado, 20, Lula comanda, em Foz do Iguaçu, a Cúpula do Mercosul, que deverá marcar a passagem da presidência rotativa do grupo do Brasil para o Paraguai, e a assinatura do acordo Mercosul – União Europeia (UE). Na véspera, informa a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, ocorrerá a Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum, com ministros de Relações Exteriores, Economia e presidentes de bancos centrais da região.
Ainda na liderança do Mercosul, Lula deverá assinar o acordo comercial com os europeus, que envolve 722 milhões de habitantes e PIB de US$ 22 trilhões. Fechado após duas décadas de negociação, o tratado depende, entretanto, da aprovação de 27 estados-membros da UE. A votação no Parlamento Europeu está prevista para ocorrer na quinta-feira 18.
A ver, portanto, se a aposta do Brasil na formalização do acordo se confirma sem arranhões, mesmo com os europeus tendo aprovado, em 8 de dezembro, salvaguardas que podem reduzir exportações de produtos agrícolas para a UE e, por tabela, os ganhos de produtores brasileiros.