O ano de 2025 aterrissa no calendário cercado de expectativas e uma certeza: o juro estará pela hora da morte e atropelará a atividade. Se o desfecho será a queda da inflação à meta de 3% são outros quinhentos. As revisões de cenário no encerramento de 2024 mostram que não – em futuro próximo ou distante.
E as revisões estendem a 2026, de eleições gerais no Brasil, expectativa quanto a medidas que poderão ser tomadas para reverter o PIB em desaceleração para evitar chamuscar o projeto de reeleição do presidente Lula. Turbinar o crédito via bancos públicos e a taxas mais camaradas é resposta fácil, mas realista.
Quanto às expectativas externas, com implicações globais e das quais o Brasil não escapará – inclusive por presidir o Brics em 2025 e sediar a COP 30 – estão as decisões a serem anunciadas por Donald Trump ao assumir a Casa Branca em 20 de janeiro. Atos de governo poderão ser assinados no mesmo dia reprisando a posse do primeiro mandato. Em 2017, numa só tacada, Trump revogou decisões do governo Obama, brecou a entrada de refugiados no país, alterou contratos comerciais e liberou a construção de oleodutos.
Neste 2025, Trump promete aumento de tarifas de importação a penalizar todos os parceiros comerciais, mas sobretudo a China; redução de impostos a empresas e famílias com impacto fiscal estimado em US$ 5 trilhões em 10 anos; e aperto na imigração com reforço da segurança nas fronteiras e deportações. Um combo que, a depender do fôlego e da velocidade de implementação, atingirá o mercado de trabalho nos EUA. E, no tempo, pressionará a inflação. Não só a norte-americana.
Não à toa, o Federal Reserve (Fed) assumiu uma postura mais conservadora. E na última reunião sobre juros de 2024, em 18 de dezembro, indicou que irá frear a flexibilização monetária. Cortou a taxa básica em mais 0,25 ponto, para a faixa de 4,25% a 4,50%, e acenou um “pit stop” em 28 e 29 de janeiro – quando ocorrerá a primeira “super-quarta” de 2025 com decisão do Copom.
Escorado na atividade ainda firme nos EUA e em juros mais altos que o esperado, o dólar deverá seguir forte globalmente, condição que dará suporte à moeda no Brasil que fechou 2024 em alta de 27,3%, a R$ 6,18, apesar das vendas do BC – superior a US$ 30 bilhões apenas em dezembro. Na abertura de 2025, o dólar voltou a subir ante as principais moedas. No Brasil, ante o real, a divisa voltou a R$ 6,20 e os juros superaram 15% até 2033. Bônus brasileiros de 10 anos avançaram a 15,15% no mercado internacional, rivalizando com a Rússia, a 15,20%.
A retomada dos negócios na B3 coloca o câmbio sob vigília do BC e do mercado, também atento a declarações de políticos sobre a economia, apesar do recesso parlamentar. Se a mudança nas presidências da Câmara e do Senado, a serem eleitas em 3 de fevereiro, não reserva surpresa – com o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP), respectivamente, como candidatos preferenciais – a renovação de lideranças partidárias poderá patrocinar um Legislativo mais hostil ao Executivo.
Economia nas mãos do Congresso
E aí mora outra expectativa, a de que o presidente Lula deverá apelar à reforma ministerial ainda no primeiro trimestre para aumentar a sintonia do seu governo ao resultado das eleições municipais de outubro passado e que fortaleceu a centro-direita.
No segundo tempo do Lula 3, o governo precisará de um Congresso alinhado à política econômica para aprovar o Orçamento de 2025 ainda pendente, a importante MP lançada em 30 de dezembro que reajusta salários do funcionalismo e cria planos de carreira e a Reforma Tributária sobre a renda a ser encaminhada, além de novas medidas para fortalecer o arcabouço fiscal para atender a mais uma expectativa – a de estabilização da dívida pública.
O ministro Fernando Haddad acenou com esse reforço. A conferir quando chegará ao Congresso e se os parlamentares vão colaborar com o Executivo, após o vaivém das emendas sob escrutínio do ministro Flávio Dino, do STF, que deu um “baile” no Congresso.
Da véspera do Natal ao Ano Novo, Dino suspendeu o pagamento de emendas da Câmara, mobilizou a Polícia Federal para investigar a destinação dos recursos, convocou reunião (para fevereiro) com a nova cúpula do Congresso, liberou parte das emendas retidas, bloqueou emendas de senadores e, por fim, liberou recursos destinados à saúde, mas com desembolso condicionado à aprovação de comissões das duas Casas até 31 de março.
Quanto a apoios a decisões econômicas, declarações de Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara a partir de 2025, colocaram o mercado de sobreaviso. O deputado diz que não haverá interferência no trabalho do BC porque o presidente Gabriel Galípolo “já sabe o que fazer e que a questão central é conter o câmbio”. Mas reconhece que, num segundo momento, deve haver preocupação com a desaceleração da economia com a taxa de juro.
Apesar da improvável influência do PT nessas políticas – dada a distância que Haddad mantém da legenda – a manifestação de Farias é um alerta quanto a ruídos que o governo enfrentará em 2025. Outro alerta foi disparado pelo PDT ao acionar o STF para que determine ao BC um “aprimoramento” do processo de decisão sobre a Selic. Para o partido, a taxa deve dimensionar o impacto do juro sobre o Orçamento, a trajetória da dívida e seu efeito sobre o PIB, mercado de trabalho, erradicação da pobreza e de desigualdades sociais.
Declarações não sancionam decisões é fato, mas podem atrapalhar (e muito) o trabalho da equipe econômica. E, embora Lula tenha declarado apoio a Galípolo e ao BC – publicamente e ladeado pela equipe econômica –, o mercado espera para ver a real autonomia da instituição. O teste é aguardado para o segundo trimestre, quando a Selic, em 15% ou mais, apertar para valer as condições financeiras, com chance de respingar no projeto político de Lula e do PT para 2026.