Em dezembro de 2019, após sete anos de operações diretas no mercado brasileiro, o grupo Richemont fechou suas lojas das relojoarias Panerai, IWC Schaffhausen e Jaeger LeCoultre, no JK Iguatemi, em São Paulo.
Dois anos antes, Piaget e Vacheron Constantin também haviam deixado o shopping Cidade Jardim. À época, juntaram-se a outras empresas estrangeiras, que iniciavam uma debandada do país após um ciclo virtuoso da economia, que atraiu muitas grifes internacionais. Das marcas do grupo, apenas a Cartier e Montblanc permaneceram com boutiques e operação direta.
Em meados do mês passado, contudo, a Panerai voltou a ter uma loja para chamar de sua no Brasil, no terceiro piso do shopping Iguatemi, onde se concentra a maior parte das marcas de luxo. Mas, desta vez, a operação é compartilhada com a joalheria Frattina.
Em agosto, será a vez da IWC Schaffhausen seguir o mesmo modelo, com o retorno de uma boutique também exclusiva, no mesmo shopping. A parceria consolida um modelo de negócios da Frattina, iniciado em 2015, quando o distribuidor passou a ter uma monomarca Rolex, igualmente no Iguatemi.
Esse tipo de associação é considerado único em toda a América do Sul. Afinal, são boutiques monomarcas de concorrentes pilotadas pelo mesmo distribuidor. E a Rolex, que não tem rede própria de varejo, costuma ser “restritiva” com seus representantes quando se trata de compartilhar espaço com outras grifes.
Segundo Jairo Waisman, CEO da Frattina, a joalheria paulistana com duas unidades na capital, que em 2023 celebra 80 anos, “era o revendedor com melhor resultado e relacionamento com a Panerai e IWC Schaffhausen no Brasil. Quando houve a oportunidade de abertura das lojas, fomos a escolha de ambas”, afirmou ao NeoFeed.
Certamente pesou na escolha das marcas o fato de Julio Sato, COO da Frattina desde 2021, acumular uma experiência de mais de 15 anos como executivo do Grupo Richemont, tanto no Brasil como no exterior, com marcas como Panerai, IWC, Cartier, Piaget e Vacheron Constantin.
Só na Panerai ocupou postos-chave para o mercado de relógios; em Miami assumiu o comando para a América Latina e o Caribe (onde os viajantes de cruzeiros são ávidos por relógios) e, na sequência, a chefia a partir de Hong Kong do mercado asiático, à exceção do Japão, o hub avançado do setor relojoeiro.
Para ele não há, nem houve conflito. “As marcas estão muito bem posicionadas, cada uma em seu lugar. A Rolex é líder mundial na alta relojoaria em termos de volume de vendas. O distanciamento dela para as demais, em termos de desempenho, é muito grande”, afirma Sato.
Além disso, “as identidades e direcionamentos estratégicos são distintos, nem a Panerai, nem a IWC concorrem diretamente com a Rolex, de modo que não houve qualquer impacto nas decisões, tanto de um lado quanto do outro.”
A consistência da Frattina no mercado de luxo, argumenta, ao longo de oito décadas, certamente foi um dos critérios levados em conta, além do fato de já representarem no país tanto a Panerai quanto a IWC, desde 2006 e 2008, respectivamente.
“Fora isso, temos pontos de venda nos melhores locais, como uma boutique de 800 m² na Oscar Freire”, ressalta.
Segundo Sato, as tratativas para a abertura das boutiques Panerai e IWC Schaffhausen no Iguatemi tiveram início ainda antes da pandemia, mas foram retomadas de fato somente em abril deste ano, quando o Iguatemi ofereceu à Frattina o espaço de 185 m² que agora abriga as duas novas boutiques das marcas.
Apesar de terem projetos de interiores específicos, ambas lojas seguem padronização internacional, com elementos que são sempre os mesmos, como as cores, as madeiras, as texturas etc. A uniformização acontece também no treinamento das equipes que vão trabalhar em cada lugar.
“Nosso objetivo principal é poder oferecer ao cliente uma uniformidade, tanto na comunicação, como na recepção, no desenho arquitetônico”, argumenta Sato.
O COO da Frattina complementa: “Existe uma coleção de produtos exclusiva dessas boutiques. Nenhum cliente da América do Sul terá acesso a eles nos seus países, somente no Brasil. Isso faz uma diferença muito grande”.
Dentro da Frattina, explica Sato, a relojoaria de luxo – são oito marcas representadas – tem um peso importante, similar, em termos de receitas, ao da alta joalheria que eles mesmos desenham e produzem.
A partir de agosto, a Frattina passará também a representar, com exclusividade no Brasil, outra marca suíça, a Zenith, “bastante importante no mundo da alta relojoaria, especialmente considerando os seus mecanismos, que são históricos, entre eles o icônico El Primero”, destaca Sato.
Não haverá uma boutique exclusiva para a marca, mas Sato não descarta que outras parcerias do gênero venham a acontecer no futuro próximo. “A Frattina está num momento de evolução. Temos alguns projetos a médio e longo prazo”, diz o executivo.
Em 2023, a empresa celebra oito décadas de atividades. A marca está em processo de rejuvenescer sua identidade visual, por meio de mudanças de logo, cores e arquitetura.
A loja do Iguatemi foi concebida já com um novo projeto de interiores, assinado pelo arquiteto Roberto Loeb. A marca tem atualmente um conselho de gestão familiar compartilhada, formada pela segunda e terceira gerações dos Waisman.
“O desafio é aliar o tradicional com o digital, trazer novas tecnologias para nosso processo de fabricação das joias sem perder o encanto do manual. E também oferecer novos canais digitais”, diz Sato.
“Estamos nos preparando para dar um refresh em nosso branding. Somos, sim, uma marca quase centenária, mas com espírito transformador e inquieto”.