Depois de centralizar as vendas de quase 10% do volume de vinhos importados no Brasil, a Víssimo Group, holding criada em março a partir da compra da rede de lojas físicas Grand Cru pela empresa de e-commerce Evino, quer abocanhar uma fatia do mercado de destilados.

Sob o guarda-chuva da Evino, o grupo acaba de lançar a plataforma Drinksquad. Nela, será centralizado todo o portfólio super premium de gins, vodcas, whiskies e bourbons, cachaças, runs, tequilas e drinques engarrafados.

“Começamos a ver que o cliente de vinho também transita com muita naturalidade por outras categorias, às vezes na mesma jornada. Identificamos o poder dessa complementariedade”, diz Ari Gorenstein, diretor da Víssimo e cofundador da Evino, com exclusividade ao NeoFeed. “Daí propomos um ‘one stop shop’ para que o cliente possa se abastecer nas variadas categorias sem canibalizar o consumo de vinho.”

O canal já nasce com parceria firmada com a Beam Suntory, terceira maior companhia de destilados do mundo e responsável por 5% do mercado de destilados premium no Brasil. A empresa é dona, entre outras marcas, da Jim Beam e dos premiados whiskies japoneses Yamazaki e Hibiki. Entram também na plataforma os drinques prontos da marca APTK Spirits, que leva a assinatura do bartender Alê D’Agostino. “A plataforma Drinksquad nos aproxima do consumidor brasileiro, facilitando a logística dos nossos rótulos”, afirma Lizandra Freitas, CEO da Beam Suntory.

Com operação própria no Brasil desde 2019 (antes era representada pela Bacardi e, anteriormente, pela Pernod Ricard), a empresa fará do site seu principal canal de varejo online. Concorrentes da Beam Suntory, como a Diageo, já contam com plataforma própria.

De acordo com Gorenstein, a parceria de distribuição pode também ser estendida para o varejo físico. Para este semestre está prevista a abertura de ao menos duas primeiras lojas físicas da Evino. Mas os destilados não estão ainda mapeados para preencher as prateleiras.

O bourbon Jim Beam

Ainda que o portfólio de destilados tenha sido iniciado em parceria com a Beam, não há promessa de exclusividade. Gorenstein diz que já está com “negociações avançadas” para introduzir cachaças artesanais ao catálogo. “Queremos ter um market share significativo desse mercado dentro de cinco anos, mas ainda é muito cedo para falarmos de números”, afirma o cofundador da Evino.

Há pouco mais de dois meses em teste, a plataforma Drinksquad já tem apresentado resultados positivos. As vendas vêm crescendo 30% ao mês e os pedidos médios de carrinhos que incluem ao menos um item de destilado tem se mostrado 15% acima do esperado inicialmente (entre R$ 200 e R$ 210), ficando com valor “muito próximo” ao dos carrinhos que englobam apenas vinhos.

“Temos visto que aproximadamente 60% dos pedidos com produtos de Driksquad também incluem itens de outras categorias”, afirma Eduardo Souza, diretor da unidade de negócios digital do Víssimo Group.

Entre os produtos mais vendidos estão o drink pronto Negroni (R$ 99,90), os bourbons Jim Beam Black Extra Aged (R$ 149,90), Jim Beam (R$ 109,90), Maker’s Mark (R$ 159,90), e o whisky japonês Hibiki (R$ 599,90).

O bom desempenho da nova plataforma, entretanto, não deverá ter impacto no faturamento de 2022 da holding, previsto para chegar a R$ 800 milhões. A perspectiva é que o grupo siga crescendo de 30% a 40% mês sobre mês até o fim deste ano.

Dose extra

A entrada da holding no segmento, neste momento, não vem por acaso. Com as vendas de vinhos desacelerando no último ano, faz sentido olhar com mais seriedade para o mercado, que, com a retomada dos eventos sociais e a valorização da mixologia, vem crescendo em ritmo acelerado.

A importação de vinhos passou de 16,3 milhões de caixas em 2020 para 17 milhões de caixas em 2021, de acordo com levantamento da consultoria Product Audit. A de destilados deu um salto de 123% no mesmo período, passando de 2,07 milhões de caixas para 4,64 milhões de caixas. Com destaque para o consumo de licores, gins e whiskies.

O mercado de destilados deverá bater US$ 609 bilhões até 2025, de acordo com a consultoria Statista

“Nesse pós-pandemia ficou ainda mais importante conseguir alcançar o cliente em todos os canais, porque o consumo de drinques está explodindo não só nos bares, mas também dentro de casa, nas festas e reuniões. Isso deve levar o mercado de destilados a se manter em crescimento nos próximos anos, acima do de vinhos”, diz Carlos Abar, da Product Audit.

Mundialmente, o mercado de destilados deverá bater US$ 609 bilhões até 2025, com crescimento em volume de 30% em relação a 2021, de acordo com a consultoria Statista.

No Brasil, nos últimos dois anos, a Diageo, líder no mercado, dona das marcas Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray e Ypióca, apresentou aumento de 21% das vendas em 2020, impulsionadas principalmente pelo crescimento de dois dígitos nas categorias de whisky e gin, e de 62% em 2021, superando patamares do período pré-pandemia.