Menos de um ano depois de sair da cadeia, o americano Billy McFarland tuitou: “O Fyre Festival vai finalmente acontecer. Diga-me por que você deveria ser convidado”.
Do modo como ele coloca, até parece que o evento de 2017 foi cancelado por causa de algum contratempo, ao qual todo e qualquer espetáculo está sujeito. Não foi uma tempestade ou um problema técnico que arruinou o Fyre Festival.
O fiasco tem nome e sobrenome: a megalomania de McFarland. Marcado para ocorrer em dois finais de semana entre abril e maio de 2017, na Great Exuma Island, nas Bahamas, o Fyre Festival pretendia levar milhares de pessoas para o local.
Ao custo de até US$ 100 mil, por pacote, o empreendedor prometia acomodá-las em vilas de luxo e oferecer-lhes o melhor da alta gastronomia. Entre as atrações anunciadas, estavam as bandas Blink-182, Disclosure e Major Lazer.
Seriam dias de muita festa, com celebridades da música e da moda, influenciadores famosos e millennials lindos – e ricos. Mas tudo não passou de um terrível pesadelo e uma fonte inesgotável de memes. Alvo de diversas ações judiciais, em 2018, McFarland foi condenado a seis anos de prisão, por fraude.
Ele deve quase US$ 27 milhões aos cerca de 80 investidores do Fyre Festival. Também não acertou as contas com quem pagou pelos ingressos nem com operários locais, que trabalharam dia e noite, na tentativa (vã) de colocar o evento de pé. A história desse golpe foi contada no documentário Fyre Festival – Fiasco no Caribe, lançado em 2019, pela Netflix.
“Sou melhor”
Aos que zombaram dele por suas postagens na redes sociais, McFarland retrucou: “Eu devo US$ 26 milhões às pessoas. Aqui está como vou pagá-las de volta. Passo metade do meu tempo filmando programas de TV [ele recebeu para participar de outro documentário, o Fyre Fraud, disponível no Hulu]”, escreveu, no Instagram. “Na outra metade, concentro-me naquilo que sou muito, muito bom. Sou o melhor em criar eventos selvagens e entregar momentos.” Sim, ele disse isso.
Nascido em Nova Jersey, filho de pai e mãe corretores imobiliários, McFarland abandonou a Universidade Bucknell, na Pensilvânia, no primeiro ano da graduação. Em agosto de 2013, ele captou US$ 1,5 milhão em investimentos para lançar a empresa de pagamentos Magnises.
Ao custo de US$ 250, a fintech oferecia a seus clientes um cartão de crédito de metal, passaporte para eventos e festas privadas. Não demorou muito, porém, para que os clientes começassem a reclamar: o glamour e exclusividade, anunciados por McFarland, eram pura balela.
Dados adulterados
O farsante nunca deixou a empáfia baixar. Assim, três anos, depois, ele fundou a Fyre Media, uma plataforma para contratação de artistas, uma espécie de Tinder do entretenimento.
Em um termo de compromisso aos investidores, McFarland mentiu sobre a receita empresa. Disse que, em apenas um ano, movimentou US$ 90 milhões. Na realidade, haviam sido US$ 60 mil, segundo a Bloomberg.
O evento nas Bahamas seria para promover o aplicativo. McFarland não poupou esforços na divulgação. Nas peças publicitárias, as modelos Kendall Jenner, Bella Hadid e Alessandra Ambrósio, entre outras, correndo, nadando e andando a cavalo em praias de areia branca e águas cristalinas.
Era tudo mentira. O espaço destinado ao festival não passava de um canteiro de obras. As acomodações de luxo se revelaram barracas, com os colchões colocados no chão encharcado pela chuva. A tal experiência gastronômica não passava de um sanduíche de queijo frio, com algumas folhas de alface e rodelas de tomate, servido em bandejinhas de isopor.
Descrito pela revista americana Vanity Fair, como “o garoto propaganda de uma fraude millennials”, McFarland é o caso clássico do sujeito de classe média, sem escrúpulos, que faz de tudo para entrar no mundo dos muito ricos. Até agora, só conseguiu entrar na cadeia. E, a julgar pelos recentes posts, tem tudo para voltar para lá.