Em agosto de 2015, foi preciso ir até o bairro da Mooca, em São Paulo, pegar uma maria-fumaça e pagar em média R$ 350 para comer carne. Se o convite era sedutor ou não, pouco importa, oitocentas pessoas toparam o desafio sem hesitar e inauguraram a era da Churrascada, uma balada carnívora, com direito a música ao vivo e grandes chefs de cozinha, não só do Brasil. Ah, com drinks e empório à parte.
Sete anos depois, em 36 horas, três mil pessoas esgotaram ingressos a R$ 500 para irem ao mesmo bairro, com as mesmas intenções. Por trás do fenômeno que se repetirá no próximo dia 06 de agosto, está Felipe Aversa, o cara que não se contentou com a festança em si e desde a primeira edição ajuda a erguer um império em torno dela.
Com o maior número de seguidores entre os “barbecue festivals” do mundo todo, são 410 mil só no Instagram, a Churrascada apresentou e familiarizou o brasileiro com técnicas como o “dry aged” (maturado a seco) e carnes como o Wagyu A5 (o bife japonês de maior nível de qualidade do planeta e alto grau de marmoreio). Mostrou que a lenha também faz maravilha com legumes e sobremesas e que, um bom encontro carnívoro, fica incrível quando não se restringe à proteína.
A fama ganhou outros estados e países. O festival já deu as caras em cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Goiânia, Porto Alegre, Barretos e Ribeirão Preto, além de duas edições especiais na Irlanda e na Bélgica, ultrapassando 30 mil visitantes. O desdobramento foi a inauguração de três restaurantes, dois deles este ano (a Fazenda Churrascada Brasília e a Churrascada do Mar, em São Paulo) e, seu último feito, um truck, ou melhor, uma Carreta.
“No primeiro evento da Carreta, no mês passado, foram atendidas mais de 3 mil pessoas. Em 10 dias de projeto, ele já tinha rodado mais de 5 mil quilômetros”, comemora o diretor executivo de operações. Para colocar o caminhão, ou melhor a RAM com um cavalo acoplado, sobre o asfalto foi necessário um investimento no valor de R$ 1 milhão.
O percurso para recuperá-lo, diga-se de passagem, não parece nada tortuoso: “O objetivo é levar a marca a locais em que a churrascada ou a Fazenda Churrascada não conseguiriam chegar, como feiras de agronegócios. Além disso, esse formato pode ser estendido para festivais e até casamentos”.
Essa nova estrutura móvel exibe um estilo americano. Sua ampla cozinha, equipada com churrasqueira, parrilla e defumadores, está apta a preparar os hits das Fazendas, caso dos cortes especiais, de entradas, entre elas as empanadas de recheio portenho, e também de sanduíches, como os hambúrgueres e o sanduba de cupim, requeijão de corte, rúcula, vinagrete da Fazenda e aioli de páprica, por exemplo.
É mais uma aventura do grupo UMAUMA, holding de entretenimento à qual a grife Churrascada pertence e da qual Felipe é sócio ao lado de Dado Ribeiro, Pedro Braun, Lourenço Braga, Fabio di Gregório, Gustavo Guizelini, Bruno Dias, Pierre Grego e Guilherme Teixeira.
Para se ter ideia, somente na primeira parada, no dia 11 de maio, em um leilão em Camapuã, no Mato Grosso do Sul, a Churrascada volante serviu 150 quilos de bife de chorizo. Desde então, passou por Joinville (SC), Belo Horizonte e Divinópolis (MG), América e Sorocaba (SP). Rodou mais de 10 mil quilômetros e findou em tempo recorde mais de uma tonelada de carne de Angus.
Para a realização dos cardápios desses pit stops, vale mencionar, a bela picape conta com patrocínio da Carapreta (empresa sustentável de proteínas nobres 100% brasileiras) e apoio de marcas como a Cervejaria Colorado e a Tabasco. Suporte à parte, a ideia de uma frota de Churrascadas itinerantes não existe: “Queremos que seja algo único e desejável. E já estamos no caminho, porque daqui até o fim do ano restam pouquíssimas, creio que seis datas disponíveis para a Carreta”, entrega Aversa.
Este final de semana, ela passará pelo Leilão do Haras Zopone, em Bauru (SP) (dias 18 e 19), terá um leilão da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM) e aniversário de seu vice-presidente, Jonatas Dantas, no próximo 25, seguirá para Assis, nos dias 06 e 07 de julho, para Sorocaba do 08 ao 10 e para Araçatuba entre os dias 13 e 24 do mesmo mês. Algumas centenas de quilômetros concentradas no interior paulista, área que Felipe conhece como a palma da mão.
Nascido em Bebedouro e criado em Severínia, na “roça”, o empresário de 44 anos e ex-competidor de rodeios, foi “muito acostumado com a cultura do churrasco” e jura de pés juntos que o embrião da Churrascada foi o desejo de levar um pouco dessa sua experiência do campo às grandes cidades.
“O primeiro evento, que já foi um sucesso absoluto, foi pequeno e envolvia toda aquela atmosfera. Com o passar dos anos, foi se tornando uma verdadeira plataforma de churrasco. Hoje, além do evento, temos os restaurantes (Fazenda Churrascada e Churrascada do Mar) e a Carreta Churrascada, mas até três anos atrás não era um negócio lucrativo, era apenas construção de marca”, confessa ele.
Sim, os ventos mudaram, e os restaurantes aparentemente têm culpa no cartório. Aberta em 2020, em plena pandemia, a Fazenda do Morumbi conta com 188 funcionários e "recuperou o investimento total nos seus primeiros seis meses". A casa chega a atender 720 pessoas simultaneamente e em abril, por exemplo, recepcionou mais de 20 mil comensais, vendeu mais de 3 mil porções de bolinhos de costela (R$32) e de 10 mil litros de chope (R$14, o Brahma).
Não à toa, o conceito foi levado à capital federal. Ainda que menorzinha, em três meses a unidade já beira os 50 mil clientes. Motivo de sobra para o plano de expansão: “Estamos estudando o mercado, mas temos o objetivo de chegar em mais 10 cidades até o final de 2023, a começar por Cuiabá (Mato Grosso) e Campo Grande (Mato Grosso do Sul).
Embora replicável, a Churrascada do Mar não tem planos semelhantes traçados – ou pelo menos passíveis de serem revelados. Ainda assim, o imóvel amplo e agradável em Pinheiros esbanja números igualmente estratosféricos: com “apenas” 280 lugares, atendeu cerca de 10 mil pessoas no primeiro mês, que consumiram 4 toneladas só de peixes brasileiros, principalmente da costa da Mata Atlântica. E, olha que, itens como a coxinha de camarão, o polvo grelhado e o shrimp roll estão entre os best-sellers de lá.
Tais cifras apontam que o retorno do investimento se dará antes de seu aniversário e que o público ama qualquer tipo de proteína que se aproxima das brasas. Mais um sinal de que o tal do império churrasqueiro segue de vento em popa.
Inegavelmente feliz, Aversa dispara um spoiler: “Em fevereiro do ano que vem teremos o Rancho Churrascada, com mais de 50 hectares em Espírito Santo do Pinhal, na Serra da Mantiqueira”. Em outras palavras, durante um mês o público terá à disposição uma propriedade com cabanas de hospedagem, restaurante e diversas atividades.
“Será uma experiência real na roça, em torno de orgânicos, inclusive com produção de café e criação de porcos e cordeiros, com pesca esportiva, com cavalgadas e equitação, com quadriciclos e mountain bike, com trilhas e cachoeiras e, provavelmente com os melhores vinhos das mais de 40 vinícolas que estão pipocando na região”, emenda. É, de fato, a Churrascada já superou em muito a noção de um churrasco hypado.