Nas últimas semanas, o empresário Bruno Setúbal visitou algumas galerias de arte em São Paulo. Estava em busca de doações para o leilão do Hospital Cruz Verde, do qual é presidente do conselho que conta com outros 20 empresários.

Seu pai Olavo Egydio Setúbal Junior (ex-presidente da Itaú Seguros e hoje à frente da OS Participações), sem saber, refez o mesmo circuito também empenhado na missão. E chegou atrasado. “Ele me disse: descobri que você já falou com todo mundo antes de mim”, contou ao NeoFeed.

Aos 41 anos, quarta geração da família de banqueiros, fundadora entre outras empresas do banco Itaú, Bruno é ouvinte no conselho da Itaúsa. Já exerceu a mesma função na Copa Energia e na Dexco. Nesse rodízio familiar nos conselhos, ele espera ir na próxima parada para a área social do Itaú ou da Itaúsa.

Mas sua carreira, gosta de destacar, foi construída como empreendedor. “Ainda na faculdade, quis empreender e comecei com uma empresa de tecnologia que era um braço de novos negócios da Itautec.”

Anos depois, em processos de fusões e aquisições, essa empresa se configurou na atual Nava Technology, da qual é sócio “mas estou no conselho, não no dia a dia”. Ele também é sócio da Vista Properties, que faz consultoria para projetos imobiliários, com função executiva.

Um terço de seu tempo, contudo, é dedicado a engajar doadores e arrecadar recursos para projetos sociais. Ele considera uma forma de empreendedorismo social utilizar “seus relacionamentos em prol de causas nobres”.

Como presidente do Conselho do Hospital Cruz Verde, membro do conselho e do comitê de marketing da Gerando Falcões e participante do Parceiros da Educação, só este ano ele se envolveu na captação de R$ 50 milhões por meio de patrocínios, leilões e bazares para instituições.

Apesar de conseguir atrair cada vez mais doadores para as missões sociais que estabelece para si, Setúbal acredita que o brasileiro se mobiliza mesmo nos momentos de catástrofe.

Obra de Artur Lescher para o leilão do Hospital Cruz Verde

“Os eventos têm essa função de lembrar às pessoas das instituições que precisam o ano todo. A elite brasileira ainda doa pouco perto dos privilégios que tem.” Nos Estados Unidos, lembra, há incentivos para que as pessoas sejam mais ativas nas doações.

Para ele, vindo de uma “família privilegiada, a filantropia sempre foi um valor”. Desde criança em casa, conta que via o pai e os tios envolvidos como pessoas físicas em projetos sociais e culturais. “É obrigatório a gente ajudar num país com tantas desigualdades como o Brasil.”

Essa é uma tradição que continua sendo cultivada desde cedo. Há alguns meses, numa manhã de domingo, conta ele, antes da abertura oficial do Instituto Itaú Cultural, as crianças da quinta geração visitaram a exposição com o legado de gestor público de seu avô Olavo Setúbal. Os gêmeos de quatro anos de Bruno também foram. “É importante eles terem o contato com a nossa história e nosso envolvimento cultural.”

Há quatro anos, ele entrou na presidência do conselho do Hospital Cruz Verde, referência no tratamento de paralisia cerebral grave, mas já colaborava com a instituição há uma década. Dos R$ 22 milhões necessários para a manutenção do hospital, 65% vêm SUS. A complementação é feita com eventos que Setúbal e outros conselheiros se mobilizam para organizar.

Casado com a influenciadora Paula Drumond Setúbal, ele também conta com uma parceira para dar amplitude às ações nas redes sociais. No último leilão da Gerando Falcões, por exemplo, ela se uniu a outras influenciadoras e leiloaram posts em suas redes, um montante “equivalente em mídia de R$1 milhão”, arrematado por R$ 700 mil pela G4 Educação.

Suas andanças nos circuitos de arte e uma visita ao ateliê de Vik Muniz, em Nova York, em maio, deram frutos para o Cruz Verde. “Este ano todas as principais galerias de São Paulo estão participando e artistas como Vik Muniz fizeram doações diretamente.” Entres as galerias estão expoentes como Nara Roesler, Raquel Arnaud, Milan, Dan e Luciana Brito.

A obra de Muniz é a peça mais valiosa do evento avaliada em US$ 40 mil. Artur Lescher, por sua vez, criou uma escultura especialmente para a ocasião cotada em R$ 50 mil. Com o evento que acontece dia 20, no restaurante Iulia, no Jockey Club de São Paulo, a expectativa é arrecadar R$ 2 milhões.

Châteaux Margaux 1985, doação do advogado Nelson Wilians

Os 250 lugares para o jantar já foram todos vendidos por R$ 1 mil cada. Este ano lances online podem ser feitos pelo site Iarremate.com, para quem quiser participar de forma remota.

Setúbal também convenceu amigos e conselheiros a abrirem as adegas e doarem vinhos ícones que compõem oito lotes do leilão como José Carlos Semenzato (holding SMZTO) com um Prieure Roch Chambertin Clos de Béze 2009 (R$ 15 mil) e o advogado Nelson Wilians com um Château Margaux 1985 (R$ 9 mil)

“Aprendi com meu pai que nestes leilões você não vai para fazer um bom negócio, mas uma boa doação e ainda leva uma peça muito bonita. Eu tenho várias obras em casa que têm outro significado porque arrematei em leilões beneficentes.”

Por sinal, um dia antes do leilão do Cruz Verde, Setúbal ainda participa do jantar anual do Masp, onde entrou como patrocinador, ajudou a vender mesas entre R$ 50 mil e R$ 80 mil, mas ainda precisa incentivar amigos a garantirem ingressos disponíveis do show da noite, este ano de Vanessa da Mata, a R$ 800.