“Succession” chega à quarta e última temporada com a missão de sair de cena à altura da reputação que conquistou desde 2018 como uma das melhores séries da HBO de todos os tempos. Até porque ela apresenta a mesma qualidade artística de outras produções lendárias da casa, como “Família Soprano” (1999-2007), e “Game of Thrones” (2011-2019), também calcadas nas lutas pelo poder.
E a série inspirada na disputada linha de sucessão no império de mídia dos Murdoch resgata as suas irresistíveis intrigas familiares justamente quando o magnata Rupert Murdoch volta a ser notícia. Atualmente com 92 anos e noivo de Ann Lesley Smith, ex-capelã da polícia de São Francisco, ele anunciou na segunda-feira, 20 de março, que vai se casar pela quinta vez – sete meses após se divorciar da modelo Jerry Hall.
Na trama de “Succession”, o patriarca Logan Roy (vivido pelo ator Brian Cox) já foi casado três vezes e, na terceira temporada, renegociou um de seus acordos de divórcio só para tirar o poder de seus filhos no seu conglomerado de meios de comunicação e entretenimento.
Foi com manipulações como essa, na família em que todos querem puxar o tapete de todos, que a série criada por Jesse Armstrong se tornou um sucesso de público e de crítica. Só o último episódio da terceira temporada, exibido em dezembro de 2021, foi visto por 1,7 milhão de espectadores apenas nos EUA.
Presença garantida nas cerimônias de premiação nos últimos anos, seus roteiros, sua direção e a performance dos seus atores tiveram o reconhecimento merecido: já foram 48 indicações ao Emmy, o Oscar da TV, com 17 vitórias (incluindo as estatuetas de melhor série dramática de 2020 e 2022). No total, incluindo outras premiações, são mais de 180 troféus conquistados.
E seus episódios costumam receber as notas mais altas nos principais portais de críticos. O mesmo aconteceu com os quatro primeiros episódios da quarta temporada, vistos antecipadamente pela crítica especializada. A aprovação foi de 100%, o que é uma raridade, no Rotten Tomatoes.
Com dez episódios, a quarta temporada tem início no ponto em que a terceira parou. Logan ainda está impactado pela ideia de fechar o seu acordo com a Gojo, representada por Lukas Matsson (Alexander Skarsgard) para fundir o seu império de mídia, Waystar-Royco.
Assim, ele poderia excluir de vez os herdeiros traidores Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin), deixando Matsson assumir o comando. Connor (Alan Ruck), o filho mais velho, é o único que não se dá ao trabalho de brigar pelo trono, preferindo envergonhar o pai na política.
Embora esteja por cima, Logan parece desconfortável na sua festa de aniversário protocolar em Nova York, tomada pelos bajuladores de sempre. Como o sobrinho-neto Greg (Nicholas Braun), o saco de pancadas da família, e o genro Tom (Matthew Macfadyen), que traiu a esposa para ficar ao lado do sogro. Agora a dupla é conhecida como “Os Irmãos Nojentos”.
Naquele ambiente nada festivo, é como se Logan pudesse sentir que o trio de filhos ausente estivesse tramando alguma nas suas costas. A princípio, Kendall, Shiv e Roman estão reunidos em Los Angeles, onde discutem fundar um império próprio de “mídia moderna”, só para dar o troco no pai. Mas os planos podem mudar ao longo do primeiro episódio.
Tudo parece seguir o curso adequado para o desfecho da série que explora com maestria os dilemas da sucessão, os jogos de manipulação e as deslealdades familiares quando se trata do controle de um império. O que a torna ainda mais irresistível é a profundidade psicológica dada aos personagens, todos muito desagradáveis. Cada um a seu modo, eles escondem um grande vazio existencial, por trás da sede de poder.
Enquanto tantas séries se perdem na ânsia de surpreender, complicando muitas vezes o enredo desnecessariamente, “Succession” se mantém firme no seu foco. Bastam as artimanhas dos personagens que estão presos a uma gangorra, com alternâncias repentinas entre os que estão por cima e por baixo. Graças à força do material, a série não precisa se prestar ao papel de tentar seduzir o espectador com a opulência do mundo dos ricos.
Quando “Succession” estreou na TV, Armstrong admitiu a influência de várias dinastias da vida real na sua trama. Além dos Murdochs, as famílias Sulzberger, Redstone e Hearst estariam entre as inspirações. Os Murdochs, no entanto, despontam como a referência principal. Até porque, antes de criar “Succession”, Armstrong escreveu um roteiro específico sobre a família Murdoch, que nunca foi produzido.
Um projeto encabeçado por George Clooney ligado ao império dos Murdochs também não saiu do papel. O astro anunciou em 2014 a ideia de adaptar para a tela a obra do jornalista Nick Davies, “Vale Tudo da Notícia”, lançamento editorial daquele ano.
Mas o escândalo dos grampos telefônicos ilegais usado pelo tabloide britânico News of the World, de Rupert Murdoch, nunca chegou às telas. Em 2019, Clooney foi obrigado a abandonar a ideia, alegando que nenhum investidor queria dar dinheiro ao projeto. Por medo de uma possível represália de Rupert Murdoch.