O empresário Marcelo Shimbo, reconhecido especialista brasileiro em carnes, acaba de lançar-se numa nova aventura. Trata-se da marca Alabrasa, concebida sob medida para churrasco e destinada uma faixa premium do mercado.

Shimbo é o fundador e CEO da Prime Cater, empresa de carnes premium que tem dez anos, 250 funcionários e faturamento previsto de R$ 180 milhões este ano. Desde 2020, ele tem como sócio a Baraúna Investimentos, fundo de private equity.

Alabrasa tem três particularidades: utiliza apenas a raça britânica angus, é integralmente produzida no Uruguai e provém de animais criados de forma extensiva que se alimentam só de pastagem.

Para o esquadrão anti-carnívoro isso não quer dizer muito. Mas indica que são animais maiores, que demoram mais tempo para ganhar peso e são abatidos só quando atingem de 520 a 550 quilos.

“O fato de não comerem ração dá um sabor diferente à carne”, diz Shimbo, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

Sua marca principal é a Empório 481, que comercializa cortes fracionados e embalados, tanto por e-commerce como nas três butiques próprias: São Paulo, Brasília e Curitiba.

Além disso, vende para mais de 2,5 mil restaurantes, como o Churrascada, e mercados no Brasil. Apenas uma parte da carne é brasileira, há fornecedores em sete países e todos os cortes são processados no frigorífico da Prime Cater, em Louveira, SP.

A nova marca não é processada no frigorífico brasileiro, vem embalada do Uruguai. E não será comercializada nas lojas conceito da 481. “Ela foi pensada para atender uma demanda de clientes específica de carne para churrasco com qualidade e uma determinada faixa de preço. Fomos, então, em busca de um produto que se encaixasse nisso”, diz ele.

A Alabrasa custa cerca de 50% mais barato do que o Empório 481 e o empresário diz que o fato de já chegar pronta para a venda reduziu custos.

“As carnes do 481 são mais marmorizadas, embaladas em porções de 350 gramas, todas iguais. A Alabrasa foi baseada na tradição do churrasco raiz uruguaio e é porcionada de outra forma, em peças de mais ou menos um quilo.”

A Alabrasa foi baseada na tradição do churrasco raiz uruguaio, com peças de mais ou menos um quilo
A Alabrasa foi baseada na tradição do churrasco raiz uruguaio, com peças de mais ou menos um quilo

A marca contempla os cinco cortes queridinhos dos brasileiros: picanha (R$ 129/kg), ancho (R$ 125/kg), fralda (R$ 119/kg), chorizo (R$ 95/kg) e maminha (R$ 85/kg). Em breve estará em mais de 500 pontos de venda, só butiques e varejo premium, especialmente em São Paulo e Rio. Entra numa categoria de preço, contudo, abaixo de outras marcas que recentemente decidiram disputar as churrasqueiras nobres, como é o caso da Casa Santa Luzia .

A expectativa é terminar este ano com vendas mensais de 120 a 150 toneladas. Em 2024, a Alabrasa deve representar 20% do resultado da empresa. “Apostamos no crescimento nos próximos dois meses, quando a temporada de churrasco é favorecida por dias mais longos e mais quentes”.

Outro fator que levou ao desenvolvimento da marca no Uruguai foi o fato de o país ser produtor de angus de ótima qualidade e de não haver ali nenhuma influência do gado zebu, como é o caso do Brasil.

“Além do mais, as carnes certificadas no Brasil têm certa sazonalidade e precisávamos de um produto disponível o ano todo, já que há gente disposta a pagar por uma carne premium específica para churrasco”.

Antes de se tornar empresário de carnes premium, Shimbo percorreu o mundo visitando fazendas e passou por várias empresas. Formado em zootecnia pela Universidade de São Paulo, rapidamente descobriu o que queria fazer. Percebeu que a cultura brasileira era de produzir baixa qualidade para produzir em escala e quis inverter isso.

“Eu queria fazer coisas diferentes, mas a indústria do agronegócio revolucionava pouco.” Mais tarde foi executivo da JBS, onde criou uma divisão de carnes premium, a Swift Black.

O empresário defende a teoria de que não é preciso desmatar para produzir mais, que tudo se resume à otimização do espaço já disponível.

Num mundo onde o vegetarianismo tem crescido a olhos vistos, seja por questões de saúde ou opções políticas e ecológicas, ele defende que é hora de comer menos carne e de comer melhor, com produtos de mais qualidade. Principalmente, por acreditar que o padrão de desperdício dos rodízios é algo fora de propósito nos dias de hoje.

“Vivemos um momento de evolução no consumo e as steak houses com porções menores para serem compartilhadas fazem parte dos novos tempos”.

Para quem estuda o mundo da carne 24 horas por dia, ele também tem suas teorias. Sabe que há dois momentos para consumo da carne, o dia a dia e os momentos especiais.

“O dia a dia é menos emocional, mais prático e o consumidor procura a conveniência. Já no churrasco, a carne tem que emocionar mais. Aí, a ideia não é nutrir o corpo, mas a alma.”