Eles não são os mais velozes, tampouco podem ir muito alto. Seu alcance de voo é limitado e sua capacidade está restrita a, no máximo, três pessoas — com o piloto. Mas eles são elegantes e sofisticados.

Não houve avião mais charmoso do que os clássicos levados pela Dimor Group à quarta edição do Catarina Aviation Show, evento de luxo da aviação executiva, do qual o NeoFeed é parceiro de mídia.

Fundada em 2018, em Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, subsidiária da alemã Dimor Aero, a empresa é referência na fabricação de aeronaves históricas. E apresentou na feira, a ser encerrada neste sábado, 7 de junho, o americano Waco YMF-5 e os alemães Junkers A50 Heritage e Junkers A50 Junior — os três inspirados em projetos originais do fim dos anos 1920 e início da década de 1930, considerada a era heroica da aviação.

À frente da Dimor está o empresário e piloto alemão Dieter Morszeck. Ele é neto de Paul Morszeck, fundador, em 1898, da Rimowa, a marca ultrasofisticada de malas — vendida para o grupo de luxo LVMH, em 2016, por € 640 milhões.

Nos anos 1920, Richard, filho de Paul e pai de Dieter, influenciado pelos primórdios da aviação, sugeriu ao pai fabricar bagagens de alumínio, de modo a torná-las mais leves. Em 1950, já no comando da Rimowa, Richard seguiu o conselho de Dieter e adicionou às peças as ranhuras que se tornariam a marca registrada das malas da companhia.

E qual foi a inspiração de Dieter? As emblemáticas aeronaves Junkers A50, com sua fuselagem oval, em alumínio corrugado, que ele hoje fabrica. Em 13 de fevereiro de 1929, quando fez seu voo inaugural, o avião, criado pelo engenheiro e professor universitário de termodinâmica Hugo Junkers (1859-1935), causou frisson.

E logo foi batizado “o carro esportivo dos ares". Pilotando o modelo, a aviadora Marga von Etzdorf (1907-1933) sagrou-se, em 1931, a primeira mulher a voar sozinha pela Sibéria, em uma viagem de 11 dias, entre Berlim e Tóquio.

Lançado em 2021, o A50 Junior é uma releitura do original, agora equipado com aviônica digital e espaço para três pessoas. Seu preço? US$ 229 mil.

Alguns clientes, ainda mais saudosistas, queriam, no entanto, fazer um retorno profundo no passado e voar como se voava há quase um século atrás. Insistiram e a Dimor lançou em 2024 o A50 Heritage, com motor radial, para-brisa de vidro e equipamentos analógicos, à venda agora por US$ 299 mil.

Pilotos, não. Aviadores

Já o Waco YMF-5 é uma homenagem à “era de ouro dos biplanos”. Com dois cockpits (piloto na traseira e dois passageiros na frente), seu desenho é de 1934. Foi projetado como uma aeronave de treinamento para a Força Aérea e a Marinha dos Estados Unidos e integrava a frota de aviões do programa americano de formação de pilotos civis.

O avião era produzido pela Weaver Aircraft Company of Ohio, depois rebatizada para Waco, fundada por cinco aviadores em 1919.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa produziu um grande número de planadores militares para as operações aéreas das forças americanas e britânicas, especialmente durante a invasão da Normandia. Em 1947, porém, mergulhada na crise que atingiu toda a indústria da aviação no pós-guerra, a empresa fechou.

Depois de vender a Rimowa para o grupo LVMH, Dieter Morszeck foi construir aviões (Foto: junkersaircraft.com)

O Waco YMF-5 foi usado na Segunda Guerra Mundial pelas forças americanas e britânicas (Foto: www.wacoaircraft.com)

O Junkers A50 Junior é a releitura moderna dos aviões de 1929 (Foto: junkersaircraft.com)

No Junkers A50 Heritage, o motor é radial e a hélice de madeira, tal qual em 1929 (Foto: junkersaircraft.com)

O painel de controle do A50 Heritage é analógico como o modelo original (Foto: junkersaircraft.com)

Pilotando um A50, a aviadora Marga von Etzdorf sagrou-se, em 1931, a primeira mulher a voar sozinha pela Sibéria, em uma entre Berlim e Tóquio.(Foto: junkersaircraft.com)

Marca registrada da Rimowa, as ranhuras das malas da empresa foram inspiradas na fuselagem de alumínio corrugado do Junkers A50 (Foto: rimowa.com)

A fabricação do YMF-5 seria reativada em 1983, pela Waco Aircraft Classic (que não tem nenhuma relação com a primeira Waco). Três anos depois, o modelo receberia autorização para voar. Em 2018, Dieter comprou a empresa e devolveu ao modelo o glamour de seus tempos áureos — a US$ 590 mil.

Se o design dos três aviões é vintage, com acabamentos artesanais, cockpits abertos e hélices de madeira, seus sistemas de segurança são de última geração.

Um apaixonado pela aviação desde sempre, depois de ter liderado a expansão internacional da Rimowa e vendido a empresa da família, o empresário decidiu construir aviões. E, assim, ele aterrissou no evento organizado pela JHSF em parceria com a NürnbergMess, em São Paulo.

Em meio às aeronaves superpoderosas de gigantes da aviação como Gulfstream, Bombardier, Airbus, Boeing, Dassault, Embraer, há de se perguntar: quem se interessaria por aviões que, apesar de charmosos, não são grandes o bastante para transportar um monte de passageiros, que não oferecem o conforto de poltronas que se transformam em camas ou que não chegam nem perto de voar à velocidade do som?

“Meu negócio é realizar sonhos”, afirma Sérgio Barreto, CEO da Dimor, em conversa com o NeoFeed — ele trabalhou com Dieter na Rimowa, por pouco mais de 13 anos, de onde saiu como diretor geral para América Latina.

Para o executivo, os clientes da Dimor são aviadores — e não apenas pilotos. Os aviadores são entusiastas da história e da cultura da aviação. Apaixonados por aventura, gostam de voar e sentir o vento bater no rosto.

Um deles é o bilionário Luis Ermírio de Moraes, brand ambassador da Dimor e único proprietário no Brasil de um Junkers A50 Junior — por enquanto.