Com a sexta temporada em produção, a série F1: Dirigir para Viver (Drive to survive), da Netflix, conseguiu feitos extraordinários por todo o mundo. Principalmente nos Estados Unidos, terra dos apaixonados por corridas de carro, mas dominada pela Fórmula Indy e Stock Cars. Nesse país, o documentário em episódios despertou um interesse de milhões de americanos por essa categoria.

Do produtor James Gay-Rees, responsável pelos premiados documentários para cinema Amy e Senna, o seriado lançado em 2018 joga luzes, pela primeira vez, no lado pouco conhecido dos pilotos, suas famílias e relação com os membros de suas equipes. São mostrados os bastidores do Campeonato Mundial e entrevistas reveladoras das estrelas e de diretores sobre a pressão por resultados. Eles falam de velocidade, tensão e rivalidade.

Por que, então, não fazer o mesmo com o tênis? E assim surgiu, dos produtores de F1: Dirigir para Viver, a série Break Point, que estreia neste fim de semana no Brasil pela Netflix. Para contar a história, um grupo de tenistas jovens que se aproxima do topo do ranking aceitou ter sua rotina acompanhada pela equipe de documentaristas.

São registrados dentro e fora das quadras ao longo de exaustivos torneios e  do Grand Slam, o topo do tênis mundial, com os quatro maiores torneios do mundo – Australia Open, Roland Garros (França), Wimbledon (Inglaterra) e US Open (Estados Unidos), competições, em que pagos os maiores prêmios.

Atletas como o temperamental e “bad boy” australiano Nick Kyrgios – personagem do primeiro episódio, “O rebelde” – escancaram o lado perverso do esporte, em que crianças são preparadas desde cedo para acumular vitórias e, quando adultas, ganharem as competições mais importantes. O foco são os mais promissores do momento, que lutam para ocupar o espaço que algumas lendas do tênis que vão se aposentar em breve, pois estão em final de carreira.

Em meio a competições acirradas, eles precisam lidar com lesões preocupantes e trabalhar a mente para suportar tanta pressão – ansiedade, medo etc. O caso de Kyrgios é exemplar do quanto se faz para buscar os holofotes e subir alguns degraus.

O programa começa com sua estreia no Aberto da Austrália de 2022, ele é famoso por fazer gracinhas na quadra e com a torcida, até começar a ficar em desvantagem nos jogos e explodir com seu pavio curto contra os juízes e o público. Outrora visto como a próxima superestrela do esporte, não joga há meses e ninguém tem certeza se ele estará no Tour no próximo ano.

No episódio 2, mais uma vez o cenário é o Aberto da Austrália do ano passado, que começa em meio a polêmicas, com protestos contra a decisão do país de deportar Novak Djokovic, ex-nº 1 e que tem 21 vitória em Gran Slam, em função de sua recusa de se vacinar contra covid-19. Além disso, muitos dos astros da última década estão ausentes do torneio, o que dá visibilidade à nova geração. O número 7 do mundo, Matteo Berrettini, e a então 43ª, Ajla Tomljanovic, são acompanhados pelas câmeras no esforço para conquistar suas primeiras vitórias no Grand Slam.

Em “California Dreaming”, título do episódio 3, o ambiente desértico de Palm Springs, Califórnia, conhecido como "O Quinto Slam", costuma ser aproveitado como teste decisivo para a temporada de cada ano e, com um campo relativamente aberto, alguns dos melhores jogadores jovens têm espaço para fazer ter visibilidade.

A grega Maria Sakkari, 6º lugar no ranking mundial, luta para vencer seus demônios mentais e mostrar seu melhor potencial. Sua história é contada em paralelo à do americano mais bem classificado e nativo da Califórnia, Taylor Fritz, que pode se tornar o primeiro americano em mais de duas décadas a vencer o torneio mais icônico de seu estado natal.

Na parte 4, “Grandes Esperanças”, a espanhola Paula Badosa chega para o Madrid Open como número 2 do mundo e a favorita da cidade –, mas tem se exposto publicamente sobre suas lutas contra a ansiedade e a depressão, e a pressão da expectativa – coisas que não a ajudam, pelo contrário.

Ao mesmo tempo, a tunisiana Ons Jabeur, 10º lugar no ranking, com um senso inato de determinação e uma imaginação para superar a falta de recursos que o esporte exige, quer ser o primeiro jogador árabe e africano – de ambos os sexos – a vencer um grande torneio.

Em “Rei do Barro”, quinto episódio disponibilizado dos 10 desta temporada, foca no Aberto da França, que nunca viu um jogador mais dominante do que Rafael Nadal, que venceu 13 vezes e vai disputar a edição 2022. Dois jovens nos bastidores, porém, estão ansiosos para desafiá-lo.

O primeiro é o prodígio canadense Felix Auger-Aliassime, que ocupa o 9º lugar e ainda em busca de sua primeira grande vitória, treinado pelo tio de Nadal; e Casper Ruud, norueguês especialista em quadra de saibro, que passou anos treinando na academia de tênis de Nadal.

A segunda temporada estreia em junho. Break Point mostra que não não é preciso ser fã de tênis para se impressionar com os episódios. É um drama da existência humana. São situações limites de busca pela fama, o sucesso e a fortuna, mas que trazem danos irreversíveis à saúde mental de alguns.