Este tem sido um ano efervescente para o mercado de arte brasileiro. Só no primeiro semestre, a cidade de São Paulo recebeu três feiras. Neste mês, a capital paulista se despede do circuito de vendas de obras de arte com a edição da SP-Arte Rotas Brasileiras, cuja proposta é mapear projetos e tendências do cenário nacional das artes visuais.

"É um raio-x da produção brasileira atual com um enfoque importante na região do Norte, Nordeste e Centro-Oeste", diz Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte ao NeoFeed.

Esta primeira edição do evento neste formato acontece entre os dias 24 e 28 de agosto, na ARCA, na Vila Leopoldina, em São Paulo. Além das galerias, a Rotas Brasileiras recebe projetos culturais como a Fundação Pierre Verger, da Bahia; o PREAMAR, do Maranhão; e uma seleção de bancos indígenas do Xingu, do Mato Grosso.

"Quisemos fazer uma ação afirmativa de trazer outros agentes culturais, que não costumeiramente estão na feira de arte tradicional", diz Feitosa.

Desde 2007, a segunda edição do ano da SP-Arte era dedicada à fotografia e atendia pelo nome de SP-Foto. A fim de não perder esse foco, a edição Rotas Brasileiras, de acordo com a organizadora, continua com forte apelo fotográfico.

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, que busca o desenvolvimento sustentável da região, fará uma exposição, com curadoria de Eder Chiodetto, de registros sobre a Amazônia feitos pelos fotógrafos Paula Sampaio, Marcela Bonfim, Rogério Assis, Edu Simões, João Farkas e Lalo de Almeida. A galeria carioca Silvia Cintra + Box4 apresentará uma seleção de trabalhos do fotógrafo Sebastião Salgado.

"Afetocolagens- Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial, Série II, de Silvana Mendes (2022)- PREAMAR

A edição Rotas Brasileiras também tem cerca de metade do número de expositores da primeira – 130 contra 70. Grandes galerias paulistanas como Fortes D'Aloia, Luciana Brito e Leme estão fora do segundo evento, mas figuram entre a lista de confirmados da Art Rio, que acontece em setembro na capital fluminense. A única presença internacional é a galeria uruguaia Sur.

Um resultado, segundo Feitosa, da agenda cheia de feiras que surgiram e retomaram neste ano. "Eu acho que houve também uma escassez de uma produção atualizada. As galerias não querem mostrar o mesmo trabalho em todos os eventos. Você não imprime obras de arte em um mimeógrafo. É um trabalho que requer tempo", afirma Feitosa.

A fim de criar dois eventos diferentes, os organizadores propuseram para as galerias o tema "Rotas Brasileiras" e pediram projetos alinhados à proposta. Em vez de um pot-pourri de trabalhos de artistas representados pelas casas, espera-se que os visitantes encontrem pequenas exposições em cada stand. A galeria Luisa Strina, por exemplo, fará um diálogo entre os trabalhos dos artistas Paula Castro e Marepe.

"Samambaia", da série "O petróleo é nosso" (2014), de Marepe (galeria Luisa Strina)

"As galerias receberam a proposta como uma provocação interessante para rever os seus acervos e trabalhá-lo de forma diferente e provocativa. Quem sai ganhando no final é o público", conclui Feitosa.

De olho nos jovens
A iniciativa de apresentar obras e projetos mais diversos mostra que a diretora está antenada no que os jovens colecionadores estão procurando. "No Brasil, os compradores de arte são mais jovens do que na Europa e nos Estados Unidos. É muito comum as galerias de fora, que participam da feira, comentarem: 'puxa, que público jovem vocês têm aqui!'. Durante o evento, vemos pessoas até abaixo dos 30 anos comprando obras de arte", diz Feitosa.

A diretora reconhece a importância e reafirma o seu papel na formação de uma nova geração de pessoas interessadas em arte. "O Gilberto já fez o que tinha de fazer, nós precisamos passar o bastão", brincava Feitosa sobre a necessidade de gerar novos Gilbertos Chateaubriand, importante mecenas e colecionador de arte, que morreu em julho deste ano.

Fernanda Feitosa: "A internet nos permite falar com os mais jovens"

"Agora que ele faleceu, precisamos ainda mais formar uma geração de novos apoiadores das artes, que irão colecionar e ajudar a publicar livros. A gente investe muito na formação de público. A internet nos permite falar com os mais jovens", afirma. Parte desse público jovem que frequenta a feira foi conquistado no ambiente virtual, acredita Feitosa.

Em julho, a plataforma Artland divulgou o ranking The Online Top 100. Na categoria feira de arte, a SP-Arte ficou em terceiro lugar – atrás apenas das feiras Art Basel, da Suíça, e Frieze, do Reino Unido, sendo a única brasileira a figurar na lista e conquistando o primeiro lugar, quando se considera apenas os eventos da América Latina. Esta lista apresenta um resultado das métricas relacionadas a tráfego na web, mídia social e backlinks.

Feitosa explica que este é um resultado de um trabalho de cinco anos, que se intensificou desde o ano passado. A feira conta com equipes fixas de desenvolvimento de plataformas online, produção de conteúdo e marketing digital. "Nosso site tem uma média de 30 mil visitantes únicos mensais. Durante a feira, alcançamos 130 mil visitantes únicos", revela.

"Munduruku, Altamira" (2013) de Lalo de Almeida ( Uma concertação pela Amazônia)

Além disso, a edição de abril foi "um sucesso" de público presencial. Passaram pela feira cerca de 25 mil pessoas e os ingressos para sábado e domingo esgotaram. Embora a organização não controle a venda feita por cada expositor, o feedback recebido, segundo Feitosa, foi de vendas acima do esperado – incluindo galerias que venderam todos os trabalhos durante o evento.