CANNES – Há um século, a mulher desconhecida vestindo uma túnica ilumina a tela por 18 segundos, na vinheta que antecede cada filme da Columbia Pictures.

Criada para o logotipo do estúdio, que comemora este ano seu 100º aniversário, é ela quem abre uma exposição de fotografias com as mulheres que fizeram e ainda fazem a história da Columbia, como Rita Hayworth, Katherine Hepburn, Deborah Kerr, Claudette Colbert, Jane Fonda e Meryl Streep.

Batizada Éclairer le chemin: de la Femme à la Torche aux actrices emblématiques du studio (“Iluminando o caminho: da Mulher da Tocha às atrizes emblemáticas do estúdio”), a mostra é uma das atrações da 77ª edição do Festival de Cinema de Cannes, a ser encerrado no próximo dia 25.

“Ela deve ser uma das mulheres mais presentes na história do cinema”, diz o francês Thierry Frémaux, o diretor-geral do festival.

De 1924 até hoje, foram sete designs aperfeiçoando a imagem da Dama da Tocha. Foi assim que ela ficou conhecida, desde que passou, em 1930, a segurar o archote, em uma pose parecida com a da Estátua da Liberdade, de Nova York.

Por mais que a última modelo para a foto tenha sido a designer Jenny Joseph, clicada pela fotógrafa Kathy Anderson, para o logo lançado em 1993, não se sabe quem inspirou a imagem original.

O estúdio foi fundado em 19 de junho de 1918 pelos irmãos Jack e Harry Cohn e pelo amigo de Jack, Joe Brandt, com o nome Cohn-Brandt-Cohn Film Sales Coorporation.

Como não conseguiu estabelecer uma boa reputação inicialmente, por lançar filmes de baixo orçamento e de qualidade duvidosa, a empresa foi reformulada pelo trio, reabrindo as suas portas em 10 de janeiro de 1924, como Columbia Pictures.

Hoje a companhia é uma divisão da Sony Pictures, subsidiária do conglomerado japonês Sony.

Columbia, no caso, é uma representação alegórica. É a personificação feminina dos Estados Unidos, que ganhou este nome graças ao explorador genovês Cristóvão Colombo, descobrir da América, em 1492. A Columbia é uma espécie de deusa humana, trajando muitas vezes uma vestimenta com as cores da bandeira americana.

Depois das sete imagens da Dama da Tocha, que ilustram a evolução do design, a exposição em Cannes segue com as 17 atrizes mais emblemáticas do estúdio. Instalada ao ar livre, na rua Félix Faure, a poucos metros do Palais de Festivals, a mostra reúne cerca de 30 fotografias raras, vindas dos arquivos de estúdio.

Claudette, Deborah, Rita, Meryl...

Em sua maioria, são fotos das estrelas em cenas de filmes ou imagens de bastidores, feitas nos sets. Claudette Colbert (1903-1996), por exemplo, será eternamente associada à comédia romântica Aconteceu naquela noite, de 1934, um hit da Columbia apontado até hoje como um dos melhores filmes do gênero já feitos.

Deborah Kerr (1921-2007) é outro destaque, principalmente com uma imagem de bastidor, com a atriz enrolada em toalha na praia onde rodou, em 1953, A um passo da eternidade. Seu encontro romântico com Burt Lancaster (1913-1994), nas areias do Havaí, se tornou uma das mais inesquecíveis cenas de beijo da história do cinema.

A nova Dama da Tocha comemora os 100 anos da Columbia (Crédito: Sony Pictures)

Veja a evolução do símbolo do estúdio americano desde 19124 (Crédito: Sony Pictures)

Celebrada como "“a maior atriz do nosso tempo”, Meryl Streep recebeu uma Palma de Ouro honorária, na abertura do festival. A imagem é do filme "Kramer vs Kramer", de 1979, que rendeu à artista seu primeiro Oscar (Crédito: Sony Pictures)

Em cena de "Adivinhe quem vem para jantar", de 1967, Katharine Hepburn é uma das homenageadas na exposição de Cannes (Crédito: Sony Pictures)

Estrelado por Claudette Colbert, "Aconteceu naquela noite", de 1934, é considerado uma das melhores comédias românticas já feitas até hoje (Crédito: Sony Pictures)

Raramente, lembrada, Virginia Van Upp foi a produtora de "Gilda", a primeira mulher a comandar uma equipe de produção em um grande estúdio de Hollywood (Crédito: Reprodução/nitratediva.wordpress)

Detalhe do cartaz de "A um passo da eternidade", no qual Deborah Kerr, outra homenageada em Cannes, protagoniza com Burt Lancaster um dos beijos mais famosos da história do cinema (Crédito: Sony Pictures)

Meryl Streep, apontada como “a maior atriz do nosso tempo” também é celebrada na exposição. Presente nesta edição de Cannes, onde recebeu uma Palma de Ouro honorária na abertura do festival, na última terça-feira, dia 14, Meryl rodou para a Columbia o filme que lhe deu o seu primeiro Oscar, Kramer vs Kramer, de 1979, no papel da mulher que abandona o marido e o filho e depois volta para buscar o menino.

A força motriz de Gilda

Outra das homenageadas é Rita Hayworth (1918-1987), com a qual a Columbia comemora o aniversário do estúdio em duas frentes. Além das fotografias de Rita na exposição, uma cópia restaurada de Gilda, de 1946, integra a Cannes Classics, a mostra paralela dedicada à preservação da história e da memória do cinema.

Este foi o filme que eternizou Rita como “femme fatale”, fazendo-a incendiar a imaginação dos espectadores, até hoje. “Gilda foi exibido na primeira edição do festival de Cannes, em 1946, concorrendo à Palma de Ouro”, lembrou Frémaux, no palco da Salle Buñuel, onde foi projetado, na noite de sexta-feira, 17, o clássico sobre dois ex-amantes que se reencontram na Argentina, com Rita contracenando com Glenn Ford.

“Durante muitos anos, Gilda foi celebrado pela direção de Charles Vidor. Mas, aproveitando que este ano destacamos a Dama da Tocha, vale lembrar que a força motriz por trás deste filme foi uma mulher: Virginia Van Upp (1902-1970)”, disse Tom Rothman, presidente da Sony Pictures, também presente na sessão de Gilda, em Cannes.

“Produtora do filme, ela foi a primeira mulher a comandar uma equipe de produção em um grande estúdio de Hollywood, posição muito difícil de ser alcançada naquela época. E o pior é que ela nunca foi reconhecida como merecia”, comentou o executivo.

E no mesmo espírito de Gilda, que fez história, o presidente disse que intenção da Columbia é continuar ultrapassando limites.

Gilda serve como lembrete de que precisamos continuar inovando, nos arriscando e contando histórias originais”, afirmou Rothman. E completou: “É o único jeito de prosperarmos nos próximos 100 anos”.