Aos 64 anos, dono de uma fortuna estimada em US$ 1,7 bilhão, o italiano Nerio Alessandri tem a ambição de tirar o mundo do sedentarismo. E ele está de olho no Brasil. Fundador da Technogym, a gigante de equipamentos de ginástica, o empresário quer, nos próximos cinco anos, levar o país do quinto ao terceiro lugar no ranking dos maiores públicos da companhia.

O sonho do bilionário está longe de ser utopia. Com cerca de 57 mil academias e centros de atividade física, o mercado fitness brasileiro é hoje três vezes maior do que há dez anos. Depois de movimentar US$ 98,14 bilhões em 2023, nos próximos três anos, o setor deve atingir US$ 172,9 bilhões. Em um país em que a inatividade atinge 47% da população adulta, há muito espaço ainda a ser conquistado.

Aos poucos, Alessandri marca sua presença em território nacional. Em 2024, por exemplo, a venda de aparelhos para uso doméstico cresceu 31% aqui — superando inclusive os resultados registrados nos países desenvolvidos. Atualmente, de cada cem máquinas da empresa comercializadas aqui, 33 são instaladas nas residências dos clientes.

Boa parte dos negócios da Technogym no Brasil também está em clubes, hospitais e hotéis de luxo, como o Fasano, onde Alessandri se hospedou em visita recente a São Paulo e recebeu o NeoFeed para esta entrevista.

“Desde a pandemia de Covid-19, o setor apresenta uma aceleração sem precedentes, motivada pelo aumento da percepção da importância do exercício físico para a saúde, na prevenção de doenças”, diz ele. “As pessoas perceberam que a atividade é tão imprescindível quanto escovar os dentes.”

Presente em uma centena de países, no primeiro semestre de 2025, a companhia apurou receitas globais de € 459 milhões, aumento de 14,1% em relação aos € 402 milhões anotados no mesmo período de 2024. O crescimento foi particularmente forte nas Américas e na Itália.

Os modelos de negócios da Technogym incluem desde a venda de equipamentos ao pagamento de mensalidades de produtos específicos, como a Mywellness, plataforma aberta de inteligência artificial que promete uma “experiência hiperpersonalizada”, com treinos individualizados e monitoramento de saúde.

Alessandri fundou a empresa em 1983, aos 22 anos, na garagem de sua casa em Cesena, no nordeste italiano. Avaliada atualmente em quase € 3 bilhões, a Technogym se firmou como uma das mais inovadoras do setor, combinando tecnologia de ponta, design sofisticado e programas de gestão de saúde.

Acompanhe, a seguir, os principais trechos da conversa de Alessandri com o NeoFeed.

Quando se fala em equipamentos de ginástica, quais foram os principais avanços tecnológicos nos últimos anos?
Em 1996, nós abrimos uma empresa de software em Seattle, nos Estados Unidos, onde criamos o CRM Mywellness, plataforma de gestão de treinos focada nas academias e centros esportivos. Hoje, depois de 30 anos, conseguimos agregar trilhões de dados das mais de 38 milhões de pessoas que usam a plataforma, o que nos deu a possibilidade de criar todo um ecossistema tecnológico, que inclui aplicativos e aparelhos totalmente conectados.

Como a IA impacta a prática de atividade física?
Investimos em inteligência artificial há cerca de 14 anos. Uma das principais inovações é o Technogym Check-up, um aparelho que, em poucos minutos, consegue descobrir a idade biológica de cada um e, assim, criar o melhor programa de treinamento para cada indivíduo. É um verdadeiro coach de IA, que se adapta de acordo com as necessidades e o desenvolvimento de cada um.

"Nós queremos ajudar o Brasil a combater a obesidade, a depressão, o diabetes e todas as doenças degenerativas associadas ao sedentarismo"

Quais são os principais usuários dessas ferramentas? O Brasil está nessa lista?
A Ásia lidera nesse segmento, com muitos atletas na Coreia do Sul, Tailândia e China. O Brasil, porém, não fica muito atrás. No último mês, nós vendemos 50 check-ups para as academias parceiras, o que mostra que o aparelho e a tecnologia têm apelo no país.

Pensando no mercado brasileiro, como o País se destaca?
O mercado de academias no Brasil é o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Por aqui, o foco está na longevidade, performance e estética — o que se alinha totalmente com o propósito da empresa. Um corpo saudável resulta em uma mente sã. No Brasil, assim como na Itália, as pessoas gostam do corpo belo, dos relacionamentos, de comer bem, se vestir bem…. No fim, o equilíbrio entre todos esses elementos resulta em felicidade. Por isso acredito que nos conectamos tanto e temos tanto a agregar ao público brasileiro.

Mas a inatividade é muito presente na população adulta brasileira.
Nós queremos ajudar o Brasil a combater a obesidade, a depressão, o diabetes e todas as doenças degenerativas associadas ao sedentarismo. Além disso, queremos dar aos atletas de alto rendimento uma possibilidade de melhorar, ainda mais, os seus resultados.

Como você avalia o uso massivo de medicamentos como as canetas emagrecedoras?
Para nós, o medicamento é perfeito, pois é complementar ao exercício e às práticas da Technogym. Se você toma o remédio e não se mantém ativo, vai perder gordura e músculos, o que é ruim para o organismo. Ao combiná-los com a prática de exercícios, você consegue manter o seu metabolismo e queimar gordura ao mesmo tempo.

Ou seja, não há milagre.
Não dá para usar apenas o remédio e esperar por um milagre. Nos últimos meses, a procura pela Technogym aumentou juntamente com a busca por esses remédios. Ou seja, essa estratégia está funcionando para boa parte dos usuários.

Se você tivesse de listar uma meta para a companhia, qual seria?
Fazer mais de 100 milhões de pessoas se tornarem ativas. Hoje, nós alcançamos 70 milhões, então é uma meta bastante alcançável. Se for falar de um sonho, seria atingir 1 bilhão de pessoas com os nossos aparelhos e tecnologia. Nós sabemos que pelo menos 3 bilhões de indivíduos no mundo precisam dessa ajuda e queremos chegar o mais longe possível.