Do Four Seasons ao Fasano, a última década assistiu, no Brasil e no mundo, ao surgimento de projetos residenciais assinados por redes hoteleiras de luxo. Com acesso a áreas restritas e amenities, os moradores usufruem das delícias tradicionalmente exclusivas aos hóspedes de um cinco estrelas.
Agora, em sentido inverso, uma nova tendência começa a despontar no mercado imobiliário de alto padrão: a da “hotelização” dos empreendimentos residenciais. E, nessa área, o arquiteto paraibano Leo Maia é um dos profissionais mais bem-sucedidos do país.
Algumas incorporadoras vão além da hotelaria para definir o perfil high-end de seus lançamentos. Buscam parcerias com estúdios de design, em especial do setor automotivo, a exemplo da Porsche, da Bentley, da Ferrari e da Pininfarina, para chancelar a qualidade de suas propriedades.
Maia, que prefere beber na fonte da hospitalidade internacional, e traduzir o que aprende em seus trabalhos, faz antes uma distinção ao NeoFeed.
O arquiteto, de 43 anos, 15 deles em atividade, considera que, hoje em dia, há uma sutil distinção entre alto padrão e luxo no mercado imobiliário. Ambos convergem em questões como metragens generosas e localizações privilegiadas. Mas a consolidação do mercado de luxo, como um todo, no Brasil, “ressignificou o segmento”, diz ele.
"Temos muitos clientes com total acesso a todas as informações, em especial por meio das redes sociais. Estão a par de tudo do que está acontecendo em termos de gastronomia, de moda, de design.... Sabem quem são [os designers] Sergio Rodrigues [1927-2014] e Jader Almeida, ou mesmo Gaetano Pesce. E isso naturalmente repercute muito no modo de morar também”, defende o arquiteto. “O luxo, hoje, é voltado principalmente para o bem-estar.”
Para Maia, a hotelização consiste basicamente em oferecer ao morador a mesma experiência da hotelaria ultrasofisticada, A portaria vira lobby e a sala de ginástica se transforma em centro de health e wellness, com espaço para terapias das mais diversas, todos os tipos de banho e zona de recovery. É puro luxo.
Para conceber seus projetos – cujas tipologias variam de casas unifamiliares a clínicas, hospitais, restaurantes e até escolas – Maia não lança mão apenas dos grandes eventos de arquitetura e design de interiores, como o Salão do Móvel de Milão.
“A atualização profissional é muito mais abrangente do que o calendário global de feiras”, argumenta. “Em novembro, em Londres, fiquei no 1 Hotel Mayfair, uma rede que tem uma forte ligação com a natureza. Durante a última Feira de Design de Miami, em dezembro, fui ao canteiro de obras do hotel Aman [companhia conhecida por seus resorts de luxo ultraexclusivos].” Quando não se hospeda, Maia procura “vivenciar as experiências de spa, conhecer a academia e área da piscina, entre outros”.
O modus operandi de Maia tem funcionado --e muito bem. Seu escritório em João Pessoa tem 40 funcionários, número que vem crescendo 25% a cada ano, na última meia década. Antes da pandemia, diz o arquiteto, “se tínhamos dez empreendimentos em curso, hoje temos pelo menos mais de 30 espalhados em diversas cidades brasileiras. Vivenciamos um crescimento de 300 ou 400%”.
Ele reputa o boom imobiliário de luxo a fatores diversos. Para ele, teria havido um aumento substancial do poder aquisitivo em cidades nordestinas, como a sua João Pessoa natal, assim como no sul, onde tem feito muitos projetos no litoral catarinense.
“Esta elevação da régua tem se manifestado de formas diferentes. Ora em cidades litorâneas, também atrativas turisticamente, onde compradores buscam uma segunda moradia”, conta. Sua clientela é composta também por pessoas que querem apenas fazer um investimento imobiliário, como acontece frequentemente em Goiânia e Curitiba.
Recentemente, Maia lançou o Lagom, que considera o maior empreendimento imobiliário já planejado em Santa Catarina: sete torres, em uma área de 270 mil metros quadrados, em Porto Belo, em frente à Lagoa do Perequê. Com o metro quadrado estimado entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, o projeto está previsto ficar pronto daqui a oito anos.
O portfólio do arquiteto inclui ainda o Promenade by Emiliano, em Goiânia e o primeiro hotel do grupo fora do eixo Rio-São Paulo. O metro quadrado deve ficar em torno de R$ 17 mil.
Quanto à capital paulista, Maia também tem um escritório na cidade, o EMA, em parceria com o arquiteto Felipe Bezerra, da dupla de designers Mula Preta. Aliás, ele assina o projeto da flagship da marca, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, assim como o da agência de publicidade Galeria, na Vila Madalena.
Também em São Paulo, o arquiteto já fez estudos para incorporadoras de peso, como Gafisa e Tishman Speyer, e tem um projeto de “altíssimo luxo”, ainda sob sigilo, no bairro dos Jardins. “Tem sido uma experiência incrível, porque eram players que a gente sempre admirou.”
Na Paraíba, o principal parceiro Maia é o Setai Grupo GP [a empresa não tem qualquer relação com os hotéis Setai, dos Estados Unidos], para o qual assina quase 15 projetos, considerado uma de suas portas de entrada para o mundo dos empreendimentos triplo A.
Com Maia, André Penazzi, CEO da empresa, deu início à linha Setai, descrita como “obras de arte em forma de edificações”. Da linha, já estão concluídos o Setai Casas Verticais e o Setai Yacht, cujos valores estão em torno de R$ 20 mil, o metro quadrado.
“Acho que o Leo Maia está hoje entre os cinco principais arquitetos de incorporadoras do país. É um novo Isay [Weinfeld], um novo [João] Armentano ou Arthur [Casas]”, define Penazzi. “Ele é uma grife dentro da arquitetura, com linhas muito orgânicas e fluidas, e os valores de seus projetos refletem isso. São projetos que superam as cifras de milhões de reais até.”
Um das empreitadas mais ambiciosas da dupla Leo Maia e André Penazzi é o Setai Residences Design by Pininfarina, na capital paraibana. O estúdio italiano e Maia assinam juntos o projeto.
O empreendimento, em João Pessoa, é composto por três torres, e o preço médio do metro quadrado está calculado em R$ 15 mil. A previsão é de que estejam concluídas em 2029, ano seguinte à finalização do Promenade.
Para Penazzi, os valores desses empreendimentos são atrativos para compradores ou investidores fora do eixo Rio-São Paulo. Como lembra o CEO da Setai, em algumas metrópoles brasileiras, entre os clientes, estão vários aposentados:
“Muitos vendem seus imóveis em regiões que são de média renda per capita e, chegando aqui, conseguem comprar um imóvel de altíssimo padrão por um quarto do valor de São Paulo, por exemplo. Além de usufruir de uma melhor qualidade de vida”.