OSLO (Noruega) - Há anos, o supervisor musical americano Thomas Golubić busca o reconhecimento de sua profissão no Oscar, pedindo a inclusão da categoria entre os indicados anualmente pela Academia de Hollywood. Por enquanto, só o Emmy, o Oscar da TV, concordou em premiar esses profissionais conhecidos como “arquitetos de trilhas sonoras”, por escolherem a melhor música para o desenrolar de uma cena.
“A Academia de Cinema não nos leva a sério, como faz a de TV. O clube do Oscar ainda se recusa a aceitar que somos parte fundamental da narrativa, calibrando a cena do ponto de vista emocional”, diz Thomas Golubić, ao NeoFeed. Ele foi um dos responsáveis pelo reconhecimento da profissão no Emmy, que incluiu o supervisor musical, pela primeira vez, na cerimônia de premiação de 2017.
Naquele ano, Golubić já concorreu por “Better Call Saul” (2015-2022), disputando novamente em 2019, 2020 e 2022, pela mesma série – disponível no catálogo da Netflix. Seus créditos na supervisão musical também incluem as séries “Breaking Bad” (2008-2013), “A Sete Palmos” (2001-2005), “The Walking Dead” (2010-2022) e “Grace and Frankie” (2015-2022), entre outras.
No cinema, ele cuidou da música de “El Camino: A Breaking Bad Film” (2019), com o ator Aaron Paul revisitando o papel de Jesse Pinkman. O drama deu continuidade aos eventos após o fim da série encabeçada pelo professor de química, Walter White (Bryan Cranston). Após ser diagnosticado com câncer, ele envereda pelo submundo das drogas, em parceria com Jesse.
“Para a série ‘Breaking Bad’, trouxe algumas faixas de música brasileira, que é maravilhosa”, afirma o supervisor, referindo-se a “Grilos” (1967), de Walter Wanderley, usada no episódio 7 da quarta temporada. Ele também recorreu a uma canção com Bola Sete (Djalma de Andrade) no violão, “Ginza Samba”, gravada em 1964, para uma cena em que Walter White fabrica metanfetamina, no episódio 6 da terceira temporada.
Golubić conversou com o NeoFeed em Oslo, após participar do By:Larm, um festival de música realizado anualmente na Noruega desde 1998. Um dos convidados desta 26ª edição do evento, o supervisor musical fez uma masterclass, com detalhes sobre o trabalho que desempenha na indústria do entretenimento. Com o “boom” de séries, principalmente nos serviços de streaming, o profissional tende a ganhar mais importância no mercado.
“Essencialmente, os supervisores musicais ajudam a contar as histórias com música, seja em um filme, uma série de TV ou mesmo em um videogame. Atuando diretamente com os criadores de um projeto, nosso trabalho é interpretar o roteiro e entender o objetivo da cena”, conta Golubić. “Algumas vezes, o que fazemos é acentuar um aspecto da personalidade de um protagonista com certa música de fundo. Em outras, ajudamos a criar tensões dramáticas.”
De acordo com o que o roteiro pede, o supervisor musical se encarrega de contratar um compositor e uma banda (ou orquestra) para criar conteúdo original. Ou, no caso de usar músicas já existentes, ele cuida de todo o aspecto comercial e legal, para que a faixa possa ser utilizada. “Sempre levando em conta o orçamento da produção e quanto tempo temos para fazer o trabalho”, diz ele.
O profissional é quem traça a melhor estratégia para o uso da música. “Não se trata de trazer mais música para a produção ou de evitar o seu uso. O trabalho é justamente ter a quantidade certa de música, de acordo com o conteúdo”, afirma, lembrando que o silêncio, às vezes, é a melhor opção. “Principalmente quando a cena exige outro tipo de desenho de som, como abrir ou fechar porta, ou ainda o barulho do sapato de alguém caminhando.”
Nas cenas de diálogos entre personagens, a escolha da música é sempre mais complexa. “Tudo depende de que queremos atingir. Será que a música ajudaria aqui ou acabaria atrapalhando? Muitas vezes, um diretor ou um produtor quer uma canção com a letra em sintonia com o que os personagens estão dizendo. Eles se esquecem de que o público ou presta atenção no diálogo ou na letra da música. Nunca nas duas coisas. Neste momento, é nosso trabalho cortar a música.”
E quanto mais modesto o orçamento da produção para a música, mais experiência e conhecimento são exigidos do supervisor. “Com pouco dinheiro à disposição, não dá para pagar os direitos por canções muito famosas, o que nos obriga a descobrir novos talentos e apresentá-los ao público no nosso programa”, afirma ele.
Um dos exemplos é o da banda TV on the Radio. O grupo de rock do Brooklyn ganhou um empurrão na carreira depois que a canção “DLZ” foi apresentada aos fãs de “Breaking Bad”, no episódio 10 da segunda temporada. “Como foram mais de 60 horas de ‘Breaking Bad’, mais 60 de ‘Better Call Saul’, eu tive mais de 120 horas de conteúdo, para embalar ou não com música.”
A exemplo do que aconteceu com TV on the Radio, vários artistas e bandas abordam Golubić, na esperança de terem a sua música selecionada para filmes ou séries. E, de preferência, alcançarem o sucesso. “É natural que isso aconteça. Eu incluo todo tipo de música nos meus trabalhos. Até as mais obscuras”, conta o supervisor musical, que não conseguir deixar o Vulkan Arena, de Oslo, antes de conversar com uma fila de artistas à sua espera, na saída.