Zurique - Todos os dias milhares de trens transportam 1,16 milhão de passageiros e 180 mil toneladas de cargas. Da Europa à Ásia, da América do Norte à Oceania, muitas nações fazem bom uso de sua malha ferroviária. Nenhuma, no entanto, como a Suíça.
Apesar de suas dimensões territoriais tão diminutas, proporcionalmente, o país é a maior potência ferroviária do planeta. Para cada mil quilômetros quadrados, há 300 quilômetros de vias férreas – 2,5 vezes a média europeia.
Com um investimento anual de CHF 3,5 bilhões (ao redor de R$ 19,7 bilhões), a rede movimenta quase CHF 6 bilhões (R$ 33,8 bilhões), no mesmo período. E, importantíssimo, em todas as linhas, a pontualidade gira em torno dos 92,5%.
"Ninguém gosta tanto de viajar de trem, nem viaja com tanta frequência, quanto os suíços”, diz Tanja Blumer, gerente de marketing do Swiss Travel System (STS), em conversa com o NeoFeed. “Em média, cada um de nós percorre 2,4 mil quilômetros em trens, ao longo de um ano.”
Se a vida dos locais se faz sobre trilhos, a dos turistas também. Além dos trens, o STS inclui ônibus e barcos. Explorar cada um dos 26 cantões do país é simples e cômodo. As rotas do STS percorrem trechos em espiral, sobem e descem montanhas, atravessam maciços alpinos e “escalam” terrenos empinadíssimos.
Aliás, com 56 quilômetros de comprimento, o Gotthard, nos Alpes, é o maior túnel ferroviário do mundo. E a ferrovia de cremalheira Pilatus, a mais íngreme do planeta. No arredores de Lucerna, na região central do país, o trem parte de Alpnachstad e sobe 2.120 metros de altitude até o cume do Monte Pilatus.
Não costumam dizer que tão importante quanto o destino é a viagem? Pois, então, o turismo sobre trilhos da Suíça faz valer a máxima.
Um passe, vários destinos
Um aplicativo gratuito informa os trens, as rotas, os horários, as conexões... tudo em tempo real. Para onde quer que se vá, é sempre possível recorrer ao Swiss Travel Pass, o bilhete turístico de acesso ao sistema de transporte público.
Disponível em versões para lugares na primeira e na segunda classes, com validade de três a 15 dias, o Swiss Travel Pass custa a partir de CHF 232 (R$ 1,3 mil, aproximadamente), por pessoa, e representa uma economia importante em comparação com a compra de passagens individuais para cada deslocamento pelo país.
Diversos trechos em trem têm conexões gratuitas com barcos. Com o passe, menores de 16 anos viajam gratuitamente quando acompanhados por adultos pagantes, há concessão de até 50% de desconto nas principais excursões de montanha e entrada gratuita em 500 museus suíços diferentes.
Os brasileiros já descobriram as maravilhas dos passeios sobre trilhos. A procura deles Swiss Travel Pass aumentou 94%, entre 2019 e 2023, informa o Turismo da Suíça.
"Além de um dos destinos mais desejados durante a pandemia, o país foi o primeiro da Europa a reabrir fronteiras para o Brasil”, diz ao NeoFeed Fabien Clerc, diretor do Turismo da Suíça no Brasil. “Estamos observando um crescimento notável dos turistas brasileiros desde então."
Passeios imperdíveis
A maioria dos trens panorâmicos está incluída no Swiss Travel Pass, mas exigem reserva antecipada obrigatória, com pagamento de taxa para tal. O mais clássico dos trens turísticos é o panorâmico Bernina Express.
São cerca de 140 quilômetros entre Chur, a mais antiga cidade suíça, no leste do país, até Tirano, na Itália. Atravessando 55 túneis e 196 pontes, a espetacular jornada pelos Alpes está em operação há mais de 50 anos e já recebeu 100 milhões de passageiros.
Outro passeio imperdível é o Glacier Express, de Zermatt a St Moritz, por entre montanhas, vilarejos alpinos, florestas, rios, desfiladeiros e glaciares.
Há também o novo GoldenPass Express, viagem de apenas três horas por entre picos nevados e lagos de cor esmeralda, de Interlaken a Montreux.
O GoldenPass Express, aliás, criou a exclusiva classe Prestige, superior à primeira classe, com assentos de couro que giram 180 graus e serviço que pode incluir champanhe e caviar a bordo – pagos a parte, diga-se.
Apesar do pequeno território, a Suíça é constituída por quatro regiões linguísticas e culturais, ligadas aos idiomas alemão, francês, italiano e romanche. O “Grand Train Tour of Switzerland” é um itinerário completo sobre trilhos que percorre, ao longo de quase 1,3 mil quilômetros, 11 lagos, cinco patrimônios da Unesco e as quatro regiões culturais do país.
A viagem é totalmente coberta pelo Swiss Travel Pass (Flex), mas a reserva de assento, com pagamento da taxa correspondente, é obrigatória para os trechos no Glacier Express, Bernina Express e Gotthard Panorama Express.
Silêncio e eficiência energética
Desde 1916, as ferrovias federais suíças utilizam o sistema de corrente alternada monofásica de alta tensão em todas as rotas. A maior parte da eletricidade utilizada (90%) vem de energia hidrelétrica limpa, tornando a rede ferroviária suíça uma das mais eficientes energeticamente do mundo.
Muitas de suas ferrovias de montanha utilizam ainda tecnologias especiais para gerar e utilizar a energia produzida na frenagem das descidas.
A pitoresca linha Jungfrau, que sobe ao topo da montanha Jungfraujoch, a mais alta do país, é uma delas: cada quatro trens que descem a íngreme ferrovia produzem energia suficiente para que outro trem viaje ao topo.
E também está em andamento um programa nacional de redução da poluição sonora sobre os trilhos. O órgão oficial do turismo suíço lançou a "estratégia Swisstainable", um projeto de incentivo máximo ao uso do transporte público no país.
A ideia é tornar a Suíça o destino mais sustentável do mundo. "O alinhamento das estratégias turísticas com o sistema de transporte público traz vários benefícios. E é, sem dúvida, a forma mais sustentável de viajar pelo país", explica Tanja.
As novidades ferroviárias do país seguem sendo ampliadas constantemente, com o STS lançando anualmente novos trens panorâmicos e novas gôndolas espetaculares - a nova Eiger Express, por exemplo, tem assentos aquecidos em couro.
O país também continua a investir na construção de túneis megalomaníacos nos Alpes. E as inovações não têm data para acabar. O Parlamento suíço acaba de aprovar uma expansão de CHF 6,4 bilhões (aproximadamente R$ 36 bilhões) para o programa de desenvolvimento estratégico da infraestrutura ferroviária nacional.