Charmosos bangalôs em área protegida de frente para o mar, construção e manutenção com bases sustentáveis e o primeiro restaurante 100% glúten e lactose free do Rio Grande do Norte. Esses são alguns dos atrativos do Filha da Lua, um ecolodge inaugurado na praia de Minas, em Pipa, (RN), por um casal de belgas, em plena pandemia de Covid-19.

Inga e Frederic D'Ansembourg se encantaram há alguns anos pelo Nordeste brasileiro e decidiram abrir uma propriedade sustentável para celíacos e intolerantes à lactose. O processo de compra do terreno, iniciado em 2012, foi demorado e burocrático, mas o projeto inicial acabou saindo ainda “melhor que a encomenda”.

Cerca de 16 meses após a inauguração de sua primeira propriedade, o casal está prestes a abrir as portas de um segundo hotel na região. O Sempre Vivo, como foi batizado o novo empreendimento, terá o dobro da capacidade de hóspedes do Filha da Lua que conta com 17 suítes.

"Como o processo de compra do terreno onde hoje fica o Filha da Lua foi demorado devido a desafios administrativos, compramos também o terreno do segundo hotel. O Sempre Vivo vai focar em uma audiência mais diversa, com cozinha internacional, sendo um complemento à cena hoteleira de Pipa", diz Inga.

Localizado a 10 minutos de centro de Pipa e inaugurado em dezembro de 2020, o Filha da Lua se somou ao cenário iniciado por outras propriedades "de charme" na região, como o pioneiro Toca da Coruja. Apesar das taxas de ocupação bastante variáveis ao longo da pandemia, o desempenho “tem sido bom o suficiente” para confirmar a inauguração da segunda propriedade da dupla em julho próximo.

Inga e Frederic são bastante reservados sobre os investimentos em seus projetos. Tampouco tinham experiência prévia em hospitalidade quando decidiram abrir o Filha da Lua. Frederic é empresário e membro de uma família da nobreza belga e Inga é cantora de ópera.

Viajantes de carteirinha, se inspiraram em ecolodges como o brasileiro Vila Kalango, em Jericoacora (CE) e nas muitas viagens imersivas que fizeram por destinos como Camboja, Vietnã, Bali e Índia para dar vida a seus projetos no Brasil.

São 17 suítes distribuídas em bagalôs decorados com móveis da região e de outras viagens do casal pelo mundo

A paixão pelo país teria começado graças a Inga, durante um Carnaval no Rio de Janeiro, seguido de uma temporada em Jericoacoara, ainda em 2005. Anos depois, chegaram a Pipa numa “espetacular noite de lua cheia” ( daí o nome do lugar) e decidiram que fariam daquelas terras também endereço familiar.

Inicialmente, o terreno onde hoje está localizado o Filha da Lua deveria ser convertido em residência privada da família, para que passassem parte do ano por ali e pudessem também receber bem familiares e amigos. Mas o projeto foi ganhando novos contornos até chegar à ideia de um lodge sustentável, com restaurante que oferecesse pratos saudáveis.

O Filha da Lua (diárias com café desde R$ 850,00 por pessoa) começou a ser construído em 2018. Dois anos depois, abriam as portas da propriedade erguida nas falésias protegidas da praia das Minas, de frente para o mar, em uma região famosa também pela desova de tartarugas (assistida em parte pelo Projeto Tamar).

Todas as suítes são espaçosas e com enormes varandas, distribuídas em bangalôs sobre palafitas e rodeados de verde. A decoração mescla móveis e objetos locais com o acervo que reuniram em suas viagens pelo mundo, em especial Bali.

A piscina do novo hotel Sempre Vivo previsto para abrir em julho

"Criar um hotel glúten free e lactose free era nossa proposta desde o começo, já que não existia nada similar no mercado", explica Inga. "Mas, mais do que tudo, o hotel é focado em bem-estar e saúde, o que se tornou ainda mais importante no contexto da pandemia".

O Filha da Lua atrai desde o começo um público específico graças a essa proposta, mas de forma alguma se restringe a ele. E o restaurante surpreendeu também a população local. "Vamos criando mais consciência de que muitos dos pratos locais podem ser servidos sem glúten e sem lactose", conta.

Ao longo deste quase um ano e meio de funcionamento, o perfil dos hóspedes foi mudando e ficando cada vez mais diverso, graças às novas estratégias do negócio. "Isso mudou principalmente depois da nossa participação na ILTM Latin America [o mais importante evento de turismo de luxo do país], quando passamos a interagir mais com diversas agências de viagem de luxo, nos tornamos associados Serandipians/Traveller Made e começamos a ser representados em mercados chave pela Key Partners", afirma Inga.

As suítes e as varandas são bem amplas: respiro e integração com a natureza

Essência social e sustentável para o projeto

Enquanto passavam um longo período em Pipa, já à espera dos alvarás para iniciar oficialmente a construção do hotel, perceberam que o futuro do negócio dependeria da preservação das praias e que, se queriam atrair turistas de luxo para o destino, era fundamental investirem também na educação e formação local. Inclusive no ensino de inglês, ainda insípido na região, para que o turismo internacional pudesse ser consistente.

Foi assim que nasceram dois dos projetos sociais. Primeiro, as escolas Hello Pipa e Hello Barra (na vizinha Barra do Cunhaú, a cerca de 14 km de Pipa), que ensinam inglês gratuitamente para crianças, adolescentes e adultos da região.

São 230 alunos nos cursos gratuitos de inglês no Hello Pipa

Hoje são 230 estudantes atendidos somente no Hello Pipa. Não existe o objetivo em torná-los parte do staff dos hotéis do casal, mas sim em capacitá-los para o mercado, já que a maioria da população da região trabalha com turismo. Mas o contrário já aconteceu: alguns funcionários do hotel resolveram aderir aos programas de ensino.

"Nosso objetivo é sermos capazes de oferecer a estudantes oportunidades no mercado de trabalho, seja com a gente ou outros hotéis e negócios da nossa comunidade. Afinal, estamos todos juntos nisso", defende Inga.

Outro projeto importante do casal é a fazenda orgânica Pachamamma, no distrito vizinho de Sibaúma, cuja produção de ervas, frutas, legumes e verduras variados abastece as cozinhas do hotel, das escolas e também do restaurante Cicchetti, um dos mais movimentados no centro de Pipa e do qual o casal é sócio. A fazenda se baseia na biodiversidade através da permacultura, em cultivos orgânicos em sistemas agroflorestais (SAFs).

A fazenda fornece produtos orgânicos para a merenda das escolas e para o hotel

"Percebemos que a única maneira de dar educação gratuita aos locais era oferecer a eles também refeições gratuitas. Foi assim que nosso projeto nasceu", conta Inga. Os alunos da Hello Pipa e Hello Barra recebem diariamente alimentação após as aulas. Muitos começaram a frequentar justamente pela comida, mas acabaram ficando e aprendendo um segundo idioma.

A cantora e empresária acredita também que empoderar mulheres e meninas por meio da educação, dando-lhes acesso a empregos que as tornem independentes e mais seguras na sociedade patriarcal, é fundamental.

"Mas não se trata apenas de empoderar mulheres. Trata-se de capacitar seres humanos para juntos buscarmos todas as oportunidades para tornar o mundo um lugar melhor", explica Inga. "É tudo fruto de um trabalho coletivo e tudo o que fazemos no Filha da Lua e seus projetos sociais constitui um conceito completo", afirma Inga.

Concebido para funcionar em harmonia com seu entorno, o ecolodge localizado entre o Oceano Atlântico e as dunas adota desde o princípio “práticas de construção sustentável para preservar mata e terreno”.

Foi construído com madeira de eucalipto de reflorestamento e cada bangalô erguido sobre palafitas para preservar a permeabilidade do solo sem degradá-lo. O hotel faz uso também de energia solar e criou uma estação de lixo 100% ecológica. O Filha da Lua não utiliza plásticos ou produtos químicos perigosos/danosos na limpeza da propriedade, e o novo hotel seguirá a mesma linha.

"Compramos nossos produtos de pequenos produtores locais, nosso cardápio é saudável, respeitamos toda a vida selvagem, ensinamos e compartilhamos constantemente habilidades culinárias, conhecimentos sobre naturopatia, agroflorestas e suas técnicas para economizar água e produzir alimentos limpos. Criamos uma corrente de consciência ética na hospitalidade. É tudo parte de um mesmo projeto", diz Inga.

As amenidades oferecidas aos hóspedes são todas produzidas local, dispostas em grandes displays reutilizáveis. Até escovas de dente feitas de bambu e pasta de dente artesanal são oferecidas.

O Filho da Lua foi construído com madeira de eucalipto de reflorestamento e cada bangalô erguido sobre palafitas para preservar a permeabilidade do solo sem degradá-lo

O menu 100% livre de glúten e lactose faz sucesso também entre hóspedes e visitantes sem nenhuma restrição alimentar - principalmente no café da manhã,
sempre servido à la carte, de frente para o mar, com diferentes tipos de pães, bolos e "queijos", tudo sem glúten ou lactose.

O hotel oferece experiências turísticas que desenvolve para os hóspedes em parceria com membros das comunidades do entorno, da cavalgada ao topo das dunas de Cacimbinhas à escola de kitesurf Kitemaster Pipa.