Esqueça o Koru, o megaiate de Jeff Bezos. Ou o Symphony, de Bernard Arnault; o Wayfinder, de Bill Gates; e o Musashi, de Larry Ellison.
Para satisfazer a sanha dos ultrarricos por status, aventura e exclusividade, o próximo "brinquedinho" aquático dos bilionários não deve deslizar apenas sobre a superfície dos sete mares, mas também navegar pelas profundezas dos oceanos.
Essa é a aposta do austríaco Christian Gumpold, de 40 anos. Fundador da Migaloo, escritório de design náutico, sediado em Graz, na Áustria, ele acaba de apresentar o projeto do primeiro submarino de luxo do mundo.
“As necessidades dos proprietários de superiates estão mais complexas do que nunca - e esses desejos não incluem somente desempenho, tamanho ou design. Eles procuram cada vez mais privacidade e experiências únicas”, diz Gumpold, ao NeoFeed. “Os superiates submersíveis são o futuro da navegação de lazer.”
Batizada M5, a nova embarcação tem 165 metros de comprimento e quase 23 metros de largura –espaço o suficiente para 20 convidados e 40 tripulantes. Além das suítes, conta com sala de jantar para 36 pessoas, bar, cinema e academia. Na maioria dos ambientes, as janelas são panorâmicas.
Há ainda os depósitos, onde cabem jet-skis, caiaques, pranchas de stand up paddle, kitesurf, seabobs, flyboards minissubmarinos... e por aí vai; toda sorte de diversão para os dias de descanso al mare.
Para bem, bem poucos
Com capacidade de viajar a cerca de 37 quilômetros por hora na superfície e 22, debaixo d’água, o M5 pode ficar até quatro semanas, a 250 metros de profundidade. Destino mais reservado não existe.
Quando o tédio bater (e a claustrofobia gritar), basta o submersível emergir para a festa continuar. Que tal um drinque à beira de uma de suas duas piscinas? Ou quem sabe relaxar na jacuzzi? Alguém precisa dar um pulo em terra? Não tem problema. O submarino da Migaloo dispõe de heliponto.
Segundo Gumpold, é impossível determinar o o valor final do M5. “Cada projeto é desenvolvido em estreita colaboração com o cliente, de modo a atender seus desejos específicos”, explica. "O preço está na casa das várias centenas de milhões de dólares.”
Nas estimativas de alguns analistas de mercado, a brincadeira não sai por menos de US$ 2 bilhões. Como explica o designer, seus clientes alvo estão "no reino dos UHNWIs"; os Ultra High Net Worth Individuals - em bom português, os muito, muito ricos.
Para ter ideia do que isso significa, vamos aos cálculos. No ranking da revista Forbes, havia 2.540 bilionários no mundo, em 2023. Nem todos, porém, teriam cacife para bancar a compra do M5.
Cerca de seis em cada dez acumulam fortunas de, no mínimo, US$ 2 bilhões. E, mesmo assim, a maioria deles se veria obrigada a raspar os cofres para ter um submarino para chamar de seu.
Tem mais. Há de se levar em conta os custos de manutenção. O que, nas contas feitas por Gumpold, a pedido do NeoFeed, deve girar em torno de 10% do preço da embarcação, por ano.
"Luxo frugal"
E o empresário ainda classifica o M5 como “luxo frugal: possuir menos, para obter mais”. O CEO da Migaloo diz já ter uma lista de interessados, “do mundo inteiro”, em adquirir o M5. Quem? Ele pede desculpas: “Essa informação, infelizmente, não posso revelar nesse momento."
Mas, não se trata de fantasia, não, garante Gumpold. O submersível austríaco utiliza tecnologias já existentes, seja em submarinos e megaiates. Os grandes estaleiros estão, portanto, aptos a construí-lo.
Sobre a necessidade de uma tripulação especializada em navegação subaquática, ele afirma: “O treinamento da equipe pode começar no início do projeto”.
A se levar em conta a efervescência do mercado global de superiates, vê-se que os ultrarricos estão dispostos a gastar (muito) para dias de dolce far niente em alto mar.
“Em vez de afundar [em meio à turbulência global], os fabricantes estão surfando a onda”, lê-se em reportagem da revista inglesa The Economist, de novembro de 2023.
De acordo com a consultoria Fortune Business Insights, o mercado mundial estava avaliado em US$ 10,3 bilhões, em 2022. Estimado crescer a uma taxa anual composta de quase 10%, em 2032, deve atingir cerca de US$ 26 bilhões.
Outro levantamento, agora da The Superyacht Market Intelligence System (SYT iQ), aponta: em 2023, a venda de barcos com mais de 30 metros aumentou 20%. Foi de 170 para 201.
Essa quantidade supera a previsão de 190 entregas, como declarado no State of Yachting 2023, e representa um crescimento de 35%, em relação a 2018.
"Sujeito branco"
Os dois grandes negócios do setor, segundo a SYT iQ, foram o iate a vela Koru, do fundador da Amazon, e o Lürssen Opera, a motor, de Abdullah bin Zayed Al Nahyan, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos.
Com pouco mais 127 metros, a embarcação de Bezos vale US$ 485 milhões. E a do político emiradense, US$ 450 milhões.
Como se vê, nem os megaiates mais luxuosos do mundo são páreo para o M5, da Migaloo. Aliás, o nome da empresa guarda em si a ideia de raridade, de um privilégio restrito a pouquíssimos.
Migaloo batiza a baleia jubarte todinha branca, avistada pela primeira vez em 28 de junho de 1991, em Byron Bay, o ponto mais oriental da Austrália.
Como o animal, um macho entre 36 e 38 anos, reaparece de tempos em tempos, criou-se uma grande expectativa de quando a baleia dará o ar de sua graça novamente. A última vez foi em 2022.
No idioma do aborígenes de Queensland, “migaloo” significa “white guy". Em português, “sujeito branco”.