VILA NOVA DE GAIA - O vinho Mateus Rosé é considerado o mais internacional dos vinhos portugueses. No ano passado, vendeu 23 milhões de garrafas e é o principal ícone da Sogrape, a maior produtora daquele país, respondendo por grande parte dos 309 milhões de euros em vendas da companhia no período.

É por sua representatividade para Portugal e sua projeção mundo a fora, com uma garrafa icônica e até citação em uma canção de Elton John, que o rótulo ganhou um espaço especial no Pink Palace, o museu do vinho rosé do complexo cultural WOW, em Vila Nova de Gaia, em Portugal.

O museu inusitado, único no mundo dedicado exclusivamente a bebida, foi criado para dar protagonismo àquele que é tratado como representante menor dentro do panteão complexo da viticultura.

O museu tem a preocupação de mostrar de forma didática quais são os processos de produção, castas mais usadas, países e regiões de maior destaque e estilos do rosé, que podem ser expressos em mais de 140 tons, por exemplo.

Mas também valorizar de forma um tanto exótica sua vocação descontraída, sempre associada à primavera e piquenique, verão e piscina. Com cinco degustações no percurso de visitação, um francês da Provença e quatro portugueses (claro), o museu é na verdade uma experiência interativa e instagramável.

Tudo com contexto. O Cadillac conversível cor-de-rosa no melhor estilo California Dreams foi colocado ali para incentivar selfies. Mas também para contar que a região americana faz um estilo único de rosé, o blush wine, um vinho fresco, “animado” e ligeiramente doce.

Além de cenário para selfies, o Cadillac chama a atenção para o estilo blush wine, um rosé específico da Califórnia

Apesar de se conectar ao contemporâneo, o Pink Palace mostra que há uma tradição ao redor da bebida que é apreciada por sua “elegância” desde o antigo Egito, Grécia e Roma, frente aos tintos rústicos da época. Os vinhos eram fermentados assim que as uvas eram prensadas e quase não absorviam nenhuma cor das películas. Eram rosés bem pálidos.

Os tons também dependem da variedade de uva escolhida. Por exemplo, Gamay, Cinsault, Grenache são usadas para fazer, pelo método de prensagem direta, um rosé tão desbotado que é chamado de vinho cinza (gris). É uma especialidade da Cotês de Toul em Lorraine, e outras regiões do sul da França, assim como no Marrocos.

Hoje, a maceração é a técnica mais comum usada nas vinícolas em que o rosé é uma especialidade e não um subproduto da produção de vinho tinto. Esse método permite uma graduação de estilos, uma vez que quanto mais tempo as uvas esmagadas ficam em contato com o líquido, mais intensa será a cor e sabor do rosé.

Mateus Rosé dá em parreira: o espaço especial para o rosé mais internacional de Portugal

O WOW é um conjunto de sete museus e 12 restaurantes que pertence ao grupo Fladgate. Apesar de ter como função mostrar a versatilidade do rosé, o Pink Palace, que faz parte do complexo, também tem uma função institucional.

Ele funciona como um holofote para a uma criação do grupo, o porto rosé da marca Croft. Descrito como “o mais original vinho rosé de Portugal, o primeiro Porto rosé”, ele foi lançado em 2008. Como não havia a categoria, chegou ao mercado como Croft Pink e com uma inusitada garrafa transparente para que o consumidor pudesse identificar do que se tratava. Uma inovação para rejuvenescer o vinho do Porto.

“Como a concorrência queria se aproveitar da designação, logo registramos a marca Pink para bebidas na Europa”, contou Adrian Bridge, CEO do Fladgate, ao NeoFeed. Somente em 2009, a EDVP reconheceu rosé como categoria de vinho do Porto.

O Pink Palace também faz jus a tendência mundial do crescimento do consumo do vinho rosé no mundo. Entre 2010 e 2020, a bebida teria ampliado seu volume de vendas em 1433% e até 2024 deve crescer mais 70%, segundo dados da consultoria IWSR.

Uma amostra dos tons mais frequentes de vinhos rosé

No Brasil, entre julho de 2020 e junho de 2021 comparado a julho de 2021 a junho deste ano, as importações de rosé cresceram 17%. Enquanto isso no mesmo intervalo, os vinhos em geral caíram 11%, segundo dados da consultoria Product Audit. No ano passado, a bebida já havia registrado um aumento significativo de vendas.

“O rosés e brancos estão substituindo os tintos em vários países, como nos Estados Unidos. É um vinho muito mais versátil, para vários públicos, fácil de beber e que atende a muitas ocasiões”, diz Carlos Abar, sócio da consultoria. E esse engajamento pode ser medido nos mergulhos de adultos de todas as idades na piscina de bolinhas rosas, mais uma das instalações divertidas do Pink Palace.