Nova York - A partir de segunda-feira, 16 de junho, a americana Tiffany Kearney assume o cargo de CEO da BrazilFoundation, organização filantrópica sediada em Nova York, que este ano completa 25 anos, tendo investido US$ 53 milhões em quase mil organizações espalhadas por 300 cidades brasileiras.

Kearney recebe o bastão de outra americana, Rebecca Tavares, que se aposenta após liderar a fundação desde 2019. No novo cargo, ela dará continuidade ao fomento da cultura filantrópica, individual e corporativa, entre profissionais brasileiros dos Estados Unidos, instituições financeiras, e empresas estrangeiras que mantêm laços com o País.

“O profissionalismo, dedicação e seriedade da Rebecca colocou a BrazilFoundation em um novo patamar. Estamos felizes por saber que ela preparou a Tiffany para seguir o mesmo caminho. Tenho certeza que ela nos ajudará a crescer e a melhorar”, disse ao NeoFeed, Marcello Hallake, advogado envolvido com a organização desde seus primórdios, sendo o responsável pela incorporação da fundação às leis americanas.

Fluente em português e espanhol, Tiffany ingressou na BrazilFoundation em março de 2024 como diretora de desenvolvimento. Logo no primeiro mês, ela foi pega por uma rajada: em abril, o Rio Grande do Sul ficou submerso por enchentes, que afetaram 2,4 milhões de pessoas e quase 500 municípios do estado.

Nas semanas que se seguiram, a BrazilFoundation se mobilizou, contando com a participação de Gisele Bündchen, que mantém um fundo filantrópico sob a administração da fundação. Só deste fundo chegou US$ 1 milhão, cerca de um terço dos aportes arrecadados pela fundação exclusivamente à recuperação das áreas atingidas.

Tiffany nasceu em Boston, onde completou seu mestrado em relações internacionais. No entanto, seu coração é sul-americano: casada com um matemático argentino, ela viveu no Rio de Janeiro por mais de dez anos, onde trabalhou como consultora na área de impacto social, e criou sua filha, hoje com 14 anos, nas areias de Ipanema. Assim como os pais, a adolescente é trilíngue.

Os três se mudaram para Nova York em 2018, onde Tiffany se dedicou a ONGs da América Latina nas áreas de relação com o governo e planejamento estratégico, incluindo a “AID for AIDS”, que apoia pacientes afetados pelo HIV, além de imigrantes. Nesta categoria, inclui-se a recepção de 40 mil venezuelanos que aportaram em Nova York em 2022.

No papel de diretora de desenvolvimento, Tiffany já ressaltava a relevância das parcerias corporativas e os Donors-Advised-Funds (DAFs), fundos individuais por meio do qual doadores podem escolher o destino de seus investimentos filantrópicos - este é o caso de Gisele Bündchen.

O relatório anual de 2023 da BrazilFoundation (último ano disponível no website da fundação) aponta a arrecadação de US$ 8,3 milhões e investimentos de US$ 4,7 milhões a 141 organizações da sociedade civil em todas as regiões do Brasil. Dentre elas, 32 estão alinhadas aos novos “Fundos Temáticos” estabelecidos pela fundação, cobrindo as áreas de empreendedorismo negro, equidade de gênero, educação, meio ambiente e mudanças climáticas.

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Os dados mais recentes (2023)  do impacto da BrazilFoundation

Com escritório no Rio, a cada ano a BrazilFoundation seleciona cuidadosamente as ONGs a serem beneficiadas, prestando atenção em projetos com sólida liderança, impacto mensurável, e modelos replicáveis. Recentemente, a fundação recebeu a nota A+ da espanhola Mapfre Foundation, que avalia ONGs por critérios de transparência, governança, estratégia e resultados.

O nascimento da fundação

A BrazilFoundation começou no ano 2000 na sala do apartamento da fundadora, Leona Forman. Nascida em Teijin, na China, ela vem de uma família de russos judeus que deixaram a terra natal no início do século 20 em busca de novas oportunidades. A língua em casa era o russo, e na escola judaica se falava inglês.

Com a Revolução Chinesa em 1949, a família se preparou para uma nova diáspora. Leona aportou no Brasil em 1953, depois de 40 dias em um navio desancorado em Hong Kong. Ele estudou jornalismo em Nova York e na França, trabalhou no Jornal do Brasil e no O Globo, casou-se com um antropólogo americano, teve um casal de filhos, e fez carreira nas Nações Unidas.

Ao se aposentar, Leona criou a BrazilFoundation para retribuir o acolhimento que o País lhe proporcionou. No começo, ela reunia 17 profissionais brasileiros radicados em Nova York, que dedicavam horas pro bono em suas áreas de expertise, incluindo financeira, jurídica, social e de comunicação.

Aos poucos, Leona, que vive hoje no Rio de Janeiro, plantou nestes brasileiros a filosofia anglo-saxã de “devolver o que receberam à sociedade”. A fundação cresceu com o pilar que ela mais aprecia: a confiança.

Ao direcionar o bolso filantrópico ao Brasil, estes doadores se beneficiam dos abatimentos fiscais proporcionados pelos Estados Unidos, e geram um impacto significativo na terra natal quando os dólares são convertidos em reais.

Com a cotação atual, esta contribuição - e amor - são multiplicados por seis.